Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Quando se ouve que o Brasil é “um caso mundial a ser estudado” ou como dizem os memes da internet “agora a Nasa vem!” muita gente conside-ra um exagero, uma depreciação da nossa terra. Fatos repetidos à exaustão nos mais diversos segmentos da atividade humana do país, no entanto, corroboram esta fama de país impossível de compreender. Os absurdos não param de nos desafiar.
Converso com muita gente diretamente envolvida na organização de campanhas beneficentes destinadas ao socorro da população atingida pelas enchentes do início de setembro e que impactaram no Vale do Taquari e também no entorno de Porto Alegre. As histórias que ouço até poderiam ser motivo de desconfiança da minha parte. Mas são narradas por pessoas da minha inteira confiança, amigos de longa data que se empenham na ajuda ao próximo.
Soube esta semana que roupas doadas para os flagelados foram encontradas para venda em um brechó de uma das cidades duramente alagadas pelo rio Taquari. Este amigo, que narrou o episódio, acrescentou que os voluntários se veem obrigados a arrancar as etiquetas de peças novas, doadas por milhares de gaúchos, para tentar mitigar a incidência de desvios.
– É o único jeito de tentar driblar, pelo menos, em parte, as barbaridades que cometem em nome da solidariedade que tomou conta dos gaúchos. É incrível a criatividade para cometer verdadeiros crimes contra a boa intenção de tanta gente! – lamenta o narrador.
Não fosse um repórter “casca grossa”, que cobriu inúmeros fenômenos semelhantes e tragédias – embora nada parecidas em intensidade – iria considerar “estórias” e não “histórias” os episódios que chegam ao meu conheci-mento. Por estas e outras cresce o contingente de solidários que se nega a participar de campanhas com entrega que não seja diretamente aos beneficiá-rios.
– A gente nunca sabe onde vão parar os donativos, embora muitas entidades e instituições sejam sérias. Por isso, entregamos tudo em mãos – contou uma amiga de longa data. Ela reuniu 20 amigas – todas aposentadas e nascidas no Vale do Taquari– que vão semanalmente aos municípios da região para distribuir todo tipo de material diretamente à população atingida.
Parece que a ocorrência de vigaristas cresce na mesma proporção com que aumenta a solidariedade. Lamentável!