Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Não é novidade esta incrível proliferação de farmácias. Descobri que não é um fenômeno exclusivo do Rio Grande do Sul, mas um fenômeno consagrado no país. Recentemente estive em Colinas do Sul, pequeno município localizado no Estado de Goiás, de 3 mil habitantes, a 400 quilômetros de Brasília. Como aqui, na rua principal funcionam cinco drogarias, de vários tamanhos.
Talvez este fato mercadológico tenha relação com a onda de hipocon-dria que varre o Brasil. Hipocondríaca “é a pessoa que em algum momento da vida começa a desenvolver uma preocupação excessiva com a saúde. Geralmente ela acredita que qualquer manifestação do corpo esteja diretamente relacionada a uma doença grave”. Pode ser uma simples dor muscular, uma tosse fortuita ou a cor diferente da urina. Tudo é motivo de alarme e busca de tratamento e de especialistas.
Com a proliferação de gente que se acha com algum tipo de doença, evito comentar qualquer de dor ou comportamento anormal do meu organis-mo. Assim não preciso ouvir as “dicas”.
Costumo brincar, dizendo que, se me queixar de “dor sobrancelha”, logo aparecerá alguém para fornecer sugestões infalíveis. Vão desde o “conheço um especialista que atende pelo IPE, outro pela Unimed e também um que é homeopata. É tiro e queda!”.
A isso se somam as indicações sobre medicamento “que acaba com a dor em três minutos”. São comprimidos, xaropes, drágeas, chás milagrosos e até simpatias. Para acabar com as doenças vale tudo. Até invocar o sobrenatural ou a fé de cada um.
Sou exatamente o oposto do hipocondríaco. Refratário ao uso de remédio por qualquer sintoma, recorro a compras pontuais. Dia destes minha filha me visitou. No meio da conversa, ela reportou uma dor de cabeça contínua e perguntou onde eu guardava os medicamentos. Indiquei o local e segundos depois ela berrou:
– Pai! Tu tem um único comprimido de Dorflex…que está vencido a um ano e meio? Não tem vergonha? – criticou a guria.
Expliquei que na vizinhança existem três farmácias de bandeiras dife-rentes. Quando preciso, compro em pequenas quantidades para evitar desperdício e gastos à toa. Laboratórios e farmácias ganham muito dinheiro. E a minha contribuição é totalmente dispensável para os lucros.