Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
A cada dois dias geramos um volume de dados equivalente ao que criamos do início da civilização até 2023. Isso, porém, não impede tantos absurdos vistos nas redes sociais. A conectividade total só fez aumenta os casos de depressão e ansiedade, além da incapacidade de diálogo trucidado pela virulência.
O Brasil é o país mais ansioso do mundo e o oitavo com maior número de pessoas com depressão. Números da Fundação Getúlio Vargas indica que existem no Brasil 249 milhões de celulares para 155 milhões de brasileiros que possuem o aparelho. Os dados comprovam que não faltam ferramentas o entendimento.Mas o mau uso da tecnologia parece turbinar as angústias.
Neste viés, ouvi uma frase alinhada com a realidade: “Não somos um país feliz. Somos um país eufórico”. A afirmação faz sentido diante alegria que datas como Carnaval despertam nos brasileiros, mas por tempo determinado. No cotidiano, porém, nota-se a um sentimento generalizado de desesperança, pessimismo, aflição.
Vivemos tempos de mudanças radicais em diversos segmentos da vida. Cada vez mais o contato humano é substituído por ferramentas tecnológicas do tipo “digite1 para cancelar sua conta, digite 2 para acessar sua conta” para qualquer serviço ou compra. A insegurança diante deste “mundo novo” que se descortina gera crescente ansiedade.
Fanáticos por tecnologia vivem a torturante sensação de que estão perdendo alguma novidade quando estão com amigos para um chope descontraído. Ficar longe do celular ou do notebook causa desassossego. O resultado é uma rotina que nos afasta dos parceiros, da família, da convivência humana. Silenciosamente forja-se uma vida artificial.
O desafio da comunicação total é desenvolver a capacidade de dosagem. Como diria meu falecido pai: “O bom senso jamais está nos extremos, mas sempre no equilíbrio”. Estar conectado com as novidades não significa isolar-se numa bolha, mas transformar as ferramentas disponíveis em instrumentos de aproximação.
A inteligência artificial chegou para confundir ainda mais as relações, os valores, as competências. A substituição pura e simples da capacidade humana é uma sombra que ameaça profissões, vocações, habilidades. Parece simples, mas é preciso força de vontade para driblar as tentações de fazer cada pequeno gesto da vida numa postagem.