Uma história que geralmente é vista nas telas de cinema ou até mesmo em reportagens de grandes centros foi reescrita em Sant’Ana do Livramento. Nessa sexta-feira (02), a Secretaria de Assistência Social do Município finalizou o trabalho de reencontro de Carlito dos Santos, de 60 anos, com a sua família. Apesar do “final feliz” da história que A Plateia conta neste fim de semana, não foi assim que começou.
“Tudo começa no dia 16 de julho de 2021, quando uma assistente social entra em contato conosco para ajudar a identificar um homem que foi encontrado dormindo em frente à Secretaria de Obras, na avenida Dom Pedro II”, relata o agente Rodrigues, da Polícia Civil.
É rotina os assistentes do Albergue Municipal fazerem busca-ativas para oferecer banho, janta e cama, especialmente nos dias do inverno; no entanto, neste caso, Carlito estava sem nenhum documento de identificação e não lembrava o seu nome, nem a cidade de onde tinha vindo. “Por isso nos acionaram e nós fomos até ao Albergue buscar entender quem era aquele senhor”, complementa Rodrigues.
De acordo com a assistente social que acompanhou Carlito desde que ele chegou a um dos serviços da Assistência Social, o CREAS, ele tinha dificuldade de se comunicar. “Não conseguimos informações sobre a sua naturalidade, nome completo, sendo assim, entramos em contato com a Polícia Civil, encaminhamos ao Ministério Público um pedido de Certidão de Nascimento para que ele tivesse acesso a benefícios do governo, realizando entrevistas nos arredores onde ele costumava ficar”, destacou Fabiana Moreira.
BUSCA PELA FAMÍLIA
Não encontrando nenhuma linha que pudesse indicar quem era a família de Carlito, o tempo passou e com ele outras prioridades foram surgindo para a equipe de investigação da Polícia, mas nunca foi o suficiente para fazer com que o caso fosse esquecido. “No final de abril deste ano, a nossa equipe foi até o Albergue cumprir um mandado de busca e eu encontrei, casualmente, o seu Carlito. Ainda sem saber o seu nome, questionei de onde ele era e ele, que nunca tinha falado sobre sua cidade com ninguém, respondeu: ‘Cruz das Almas’. A partir daí comecei a buscar mais informações sobre a cidade”, conta Rodrigues.
Localizado a 150 quilômetros de Salvador, Cruz das Almas é a segunda cidade mais importante do Recôncavo Sul da Bahia. Com essas informações em mãos, o policial Rodrigues entrou em contato com uma rádio local. “Foi então que o Natan me atendeu, eu contei a história e ele decidiu me ajudar”, contou o policial. Natan dos Santos, conhecido como Natan Mobuto, aceitou publicar a foto encaminhada pelo policial gaúcho, destacando que um homem estava no albergue santanense e se dizia morador de Cruz das Almas.
“Nós fizemos uma matéria no site da TV NBN e compartilhamos o link. Em 40 minutos achamos os familiares dele em Cruz das Almas, no estado da Bahia”, conta Natan.
REAÇÃO DA FAMÍLIA
Após a manifestação de familiares na publicação do radialista baiano, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul fez contato e chegou à conclusão que seu Carlito era o mesmo familiar que, há 26 anos, havia saído da Bahia e, desde então, a família tentava localizá-lo. “Todas as vezes que a gente saia, eu imaginava que algum mendigo da rua poderia ser o meu tio. A gente olhava e estava tentando buscar informação, mas se não fosse a internet, talvez a gente não teria encontrado ele”, conta a sobrinha Kaliane dos Santos Moraes. “Deus tem um propósito na vida do meu tio, só pode ser Deus, não tem outra explicação”, complementou.
Já era noite de sexta, quando a mãe de Kaliane, irmã de Carlito, chegou a Sant’Ana do Livramento. Maria da Anunciação saiu do Rio de Janeiro, onde mora atualmente, de ônibus, para reencontrar o irmão. Acompanhada do genro, Marcio Moraes, Maria se emocionou e aproveitou para mandar um recado para quem, eventualmente, tenha familiares desaparecidos: “A nossa história é para que não desistam”.
DEVER CUMPRIDO
Para o policial que, desde 2021, não desistiu da missão de reencontrar a família de Carlito, a sensação é de gratidão. “É muito gratificante ter ajudado, pois é um caso em que o nosso propósito, a nossa obrigação é superada, é uma ajuda a uma família de reencontrar o seu ente querido”, frisou Rodrigues.