No lugar do pasto, terra, poeira e cinzas. As belas paisagens dos campos nativos da fronteira gaúcha com sua característica única do Bioma Pampa, de repente se tornaram somente cinzas e pedras. Cercas e aramados queimados num cenário distópico que mais lembra um filme pós-apocalíptico. Nos olhos do produtor rural Bento Manuel Brochado, que nasceu e cresceu em
uma estância, as imagens ainda vivas de um dia que ficará para sempre em sua memória são marcas de um período difícil. Era sábado, dia 11 de fevereiro, próximo ao meio-dia, quando se
avistou da sede da Estância São Miguel do Sarandy os primeiros focos de fumaça junto à rodovia que corta a região. A propriedade está localizada às margens da BR-293, há 55 km do centro de Sant’Ana do Livramento. “Um dia antes, nós tivemos também um incêndio em uma invernada que temos aqui no fundo da estância, mas com a ajuda do nosso pessoal e também dos bombeiros
nós conseguimos atacá-lo. Já no outro dia, nos avisaram que tinha um boi nosso perdido por conta do incêndio do dia anterior e quando saímos na frente das casas, eu e o pai, olhamos lá para a estrada vimos a fumaça e o fogo já vinha entrando da BR pra cá. Foi tudo muito rápido, nos organizamos para sair e quando vimos já tinha avançado bastante para dentro do campo. Começou na
beira da BR e passou para cá. Incêndio muito grande. Nós fizemos o primeiro combate com o apoio de uma turma maior de amigos e vizinhos que foram avisados até chegar o Corpo de Bombeiros que trouxeram dois caminhões e duas camionetes” comentou Bento. Bento destaca que, somente nos dias posteriores ao fato e com imagens áreas de drone, foi possível visualizar a dimensão do estrago feito pelo fogo. De acordo com o produtor, aproximadamente 1.200 hectares foram queimados. “Foi uma luta bastante difícil e em várias frentes de combate, usando estratégias de contrafogo para solucionar. O fogo veio queimando tudo até quase chegar no parapeito das casas. Felizmente, nós conseguimos defendê-las e ele seguiu pela beira do mato. Chegou muito perto da casa, e graças a atuação dos caminhões e dos bombeiros o pior não aconteceu. Nós utilizamos também um reboque pipa que cabe 4 mil litros de água e a técnica da pele ovina molhada que funciona muito bem. Outra coisa importante que nós fizemos foi virar a terra antes que o fogo chegasse e isso ajudou bastante. Inclusive gostaria de agradecer a todos os amigos que estiveram aqui nos ajudando neste momento difícil de maneira totalmente voluntária e incansável. Isso é uma demonstração de união e fica a nossa gratidão”, destacou o produtor rural. Esta reportagem foi
realizada após a equipe do Jornal A Plateia visitar a propriedade na tarde de terça-feira (14) quando outras duas estâncias, Santa Rufina e Bela Vista, registraram pequenos focos de incêndio, que, felizmente, também puderam ser controlados rapidamente.