Buenas!
A copa acabou e os vencedores foram… os torcedores! Eu, que acompanho copas do mundo desde a década de 1980, fiquei extasiado com a partida final, como todos que assistiram, não importando para quem estavam torcendo.
Quando trinou o apito inicial para a contenda entre argentinos e franceses, estava inclinado para o lado azul escuro, porém, diante da dedicação dos hermanos, do brio demonstrado em campo, balancei para o lado azul celeste. A torcida estava dividida mundo afora, aqui, até os feirantes encerraram mais cedo para assistirem o embate azulado…
Mas, como bom torcedor isento que sou – já que nosso esquadrão verde-amarelo abandonou a contenda nas quartas de final –, torcia era pela qualidade da contenda. E que disputa bonita! Teve Três pênaltis ao longo do jogo, gols na prorrogação, mais os cobrados após o tempo adicional, mantendo a tensão pelas quase três horas de batalha campal! Diga-se de passagem, limpa, sem sangue, somente suor e disposição exemplar…
Mesmo os que torcem o nariz para o futebol, saíram extasiados da frente da tevê após o juiz polonês encerrar a disputa. Mas não foi só a final, a copa toda foi encantadora, não acharam? E que prova da miscigenação dos povos! Fora Brasil, quiçá os hermanos, que também são reprodutores internacionais de jogadores de futebol, todos os outros países possuíam enxertos estrangeiros.
Vários países acolhem atletas não pelo seu nascimento geográfico, mas por suas escolhas e qualidades profissionais. Há mérito nisso e, também, no fato das potências européias terem sucesso esportivo devido ao abastecimento das ex-colônias de jovens atletas, que só tem espaço devido às metrópoles criarem programas para os acolherem, como é o caso da França de Mbappe.
Sei bem que a integração é motivada por uma competição que envolve fortunas bilionárias, que há muitos interesses financeiros envolvidos e que o Catar escondeu que morreram mais de quinhentas pessoas durante a construção dos estádios no deserto, fatos inegáveis e tristes.
Mesmo assim, bilhões de pessoas mundo afora pararam para assistir aos jogos, crianças e adultos – que voltaram a ser crianças – encheram álbuns de figurinhas, como se não existisse crise ou críticas ao nosso selecionado.
Apesar disso tudo, para mim, os torcedores saíram vencedores da copa, apesar de só o Messi ter levantado o troféu. Crescemos com a crença arraigada de que devemos amar o solo pátria, o que não é errado. Porém, porque não podemos, por identificação, interesse ou paixão – sentimento inexplicado que move o mundo – torcer por outro time?
Nos países em que o futebol não é o esporte de destaque, o Brasil e a Argentina têm uma torcida fiel. Durante a transmissão, mostraram indianos com o brasão da CBF tatuado no peito! Não conheço brasileiros que fizeram isso, nem recomendo. Mas esta paixão deve, no mínimo, ser respeitada.
Como merecem respeito as duas lendas do esporte que se enfrentaram nessa final. Messi, aos 35 anos, após cinco copas, conseguiu levantar seu primeiro troféu, tendo o seu melhor desempenho, já próximo do findar da carreira. Enquanto Mbappé, na sua primeira copa, em 2018, levantou o troféu, e, nesta última, aos 23 anos, mereceu repetir o gesto pela segunda vez.
Apesar dele ter dado o seu melhor, fazendo três gols numa final, quem comanda as quatro linhas são os deuses do futebol – sim, nestes eu acredito! – que já haviam decidido: este caneco era do canhotinho de Rosário. E assim foi.
Claro, nenhum dos dois craques ganharam sozinho, tiveram a sorte de ter parceiros de grande qualidade. Mas não há como negar que ambos simbolizaram o futebol bonito e aguerrido, eles foram jogadores que deram seu melhor para atingir os objetivos coletivos e nacionais.
Nelson Rodrigues, o maior comentarista de futebol de todos os tempos, disse que: “Muitas vezes, é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”. Não foi o caso desta disputa.
O veterano de cinco copas e o mancebo prodígio de duas demonstraram que são dotados de um caráter irretocável, ao menos dentro de campo, justificando os seus polpudos salários e a idolatria mundial.
Que ambos sigam encantando nossos olhos, afinal, desde os tempos romanos, arenas são construídas para disputas entre equipes, com o intuito de entreter o público – e para os governantes tocarem o barco do jeito que melhor lhes convém. Saibamos ser público, sina humana, e valorizemos que, agora, ao menos não tem sangue nem cabeças rolando…
Talvez tenha sido bom o fato de ter rolado a cabeça de um técnico ou dois, metaforicamente falando, faz parte do espetáculo. Agora, pergunto: Falta muito para 2026?