Buenas!
Pois é, não foi desta vez que veio o hexa…
Culpa sabe de quem, de quem?, perguntaria Galvão – agora, aposentado das copas, esta foi sua última – entre acabrunhado e animado, para manter o ritmo que imprime há décadas. E nós, aqui do outro lado da telinha, teremos nossos culpados na ponta da língua, afinal, somos mais de 210 milhões de técnicos de futebol…
Você pode escolher o técnico, o Neymar, o goleiro, os que erraram os pênaltis, o massagista, o médico, o juiz, o gandula, etc. Só não podemos esquecer de enxergar que a tática da Croácia foi impressionante. Eles jogaram muito bem, dentro do que se propuseram, segurando o ataque brasileiro, estocando como esgrimistas experientes que são. E nenhum deles pintou o cabelo de pintinho amarelinho para tanto!
Um time forte, jogadores não muito habilidosos, se comparados com os brasileiros, mas o suficiente para botar pressão no Brasil. E com dois craques: o goleiro Dominik Livakovic, e o meia Luka Modric. O primeiro, um jovem paredão, salvou diversas tentativas dos jogadores brasileiros ao longo do jogo, além de pegar o primeiro pênalti, que elevou a moral do time deles e colocou a nossa abaixo do rabo do Hexa, o gatinho jogado longe pela CBF, durante uma entrevista coletiva nesta semana – que também está sendo responsabilizado!
“Pênalti é tão importante, que devia ser batido pelo presidente do clube!”, já dizia Neném Prancha, técnico de futebol dos anos 1960. Porém, não está previsto no regulamento, assim como não está previsto chorar depois da derrota.
Mas muita gente chorou, não só os jogadores. Criamos expectativas, é da índole do brasileiro, somos um povo cordial, como disse Sérgio Buarque de Hollanda, tudo é feito na base da emoção, falta-nos frieza, que não faltou no olhar dos batedores de pênaltis da Croácia…
Eu, cá do alto de minha modéstia de comentarista e de técnico amador – afinal, faço parte dos 210 milhões citados acima –, sempre isentei o goleiro. Se ele pegar, parabéns!, merece abraços afetuosos e tapinhas nas costas. Porém, não é sua obrigação! É, isto sim, tarefa do batedor acertar aquele espaço gigantesco.
Ele tem a oportunidade de escolher em que parte da goleira vai bater, com que força, pode gingar o corpo, fazer dancinha, rodar uma pirueta, dançar o Cisne Negro antes de chutar a bola, coisa que ele faz desde criança, todos os dias, é pago para isso, poxa! Mas errar a goleira, acertar o poste, o goleiro, isso não!
Já o goleiro, que não pode tirar o pé de sobre a linha antes da batida, só tem regras que o prejudicam, além dos mais de sete metros de largura e quase dois e meio de altura. Logo, defendeu, ótimo! Levou o gol, estava previsto, né?
Aliás, falando em efetividade, não podemos negar que nosso gol foi bonito. Neymar, que estava bem apagado ao longo da partida, demonstrou toda a criatividade do brasileiro para fazer seu gol. Porém, onde estava a famosa malandragem do brasileiro nos últimos cinco minutos de jogo, da já longa e exaustiva prorrogação?
No jogo da Argentina faltando cinco minutos, Messi fez cera, rolou no chão, causando inveja aos campeões de ginástica olímpica. Já os nossos craques, inocentemente, rifaram uma bola no ataque, tomaram um contra ataque e um gol totalmente desnecessário, para dizer o mínimo. Entretanto, os vizinhos do Prata também pecaram no último minuto, a nos imitar. Mas viram o olhar de seus batedores na hora derradeira do penal? Não é só treino, é também questão de confiança!
Citei o Modric mas não falei dele. Que jogador, senhoras e senhores, que jogador! Aos 37 anos, o meia que há dez anos desfila toda sua habilidade e inteligência no time multicampeão do Real Madrid, deu uma aula de futebol.
Ele corria o campo todo, do ataque à defesa, sendo opção aos seus colegas sempre que se apertavam, mas sem ser afoito, como consciência. Conduzia a bola colada ao seu pé direito, distribuindo-a com o carinho que ela merece. A não ser que alguém o derrubasse antes.
Ele não foi um jogador exemplar somente durante os 120 minutos de bola rolando. Ao bater sua penalidade, colocou a bola no canto oposto do goleiro brasileiro, como quem guarda um objeto precioso, mas com firmeza de quem sabe o que faz. Comemorou merecidamente junto aos companheiros.
Depois disso, cumprimentou todos os jogadores do Brasil, mas deteve-se com afeto paternal ao pé do ouvido de Rodrygo, o menino de 21 anos que recebeu a ingrata missão de bater o primeiro pênalti – por que não foi o melhor do time, como Messi fez no jogo posterior?, pergunto, indignado. Como um verdadeiro líder, o veterano, que já foi eleito o melhor do mundo numa época em que Messi e Cristiano Ronaldo dividiram os holofotes, consolou o rapaz que chorava.
Não sabemos o que ele disse ao menino e seu cabelo platinado, certamente uma infecção capilar que contaminou metade do time brasileiro. Imagino, tão-somente, que o rapaz devia respirar fundo, lembrar que a vida é feita de ciclos e este foi só mais um. A própria Croácia teve a chance de ser campeã há quatro anos e perdeu a final para a França.
Não é fácil lidar com isso, mas o menino que errou irá crescer, como todos aqueles pequenos, como meus sobrinhos, que se travestiram de amarelinha para acompanhar a Copa do Mundo, se divertiram com seus pais com os álbuns de figurinhas. E que a derrota sirva como mais um degrau de nossa caminhada, afinal, ela deve ser longa, algumas vezes iremos tropeçar, noutras iremos trotar, o importante é não parar!
Até rimou! Mas, deixo uma última reflexão: como podem tomar um gol no final da prorrogação????