Buenas!
Cá estou, again, novamente, depois de três anos de distanciamento preventivo, tanto por causa da covid, quanto por restrições orçamentárias. Sinto, é clichê, eu sei, mas inevitável, como se passara somente três meses, tal a sensação que esta cidade causa. Podem dizer que há outras mais importantes ou referenciais no mundo, não irei questionar. Porém – como sempre digo, há o porém –, para mim, não o há!
Depois de algumas semanas ausentes desse espaço, pois precisei desobstruir rodovias bloqueadas, chutar pneus incendiados, contabilizar as inimizades que sobreviveram ao período eleitoral, tive de ultimar os detalhes da viagem. Agora, mais leve, posso trotear novamente, dar a volta ao mundo em 80 dias, como fantasiara o francês Júlio Verne, ou escolher um mundo e nele empreender uma viagem ao redor do meu próprio quarto, como propôs o igualmente francês Xavier de Maistre. Ou, ainda, poderia, do meu quarto, criar mundos sem fim, como fez outro francês, Marcel Proust.
Eu, de minha parte, gosto de viajar. Já Proust, pouco saiu ou cuidou da saúde, dedicou sua vida a criar “em busca do tempo perdido”, sua obra máxima, incensada por leitores do mundo todo. Aqui, todo o país está a comemorar o centenário da morte de um dos seus autores mais célebres, que entregou sua vida para a escrita, morrendo com pouco mais de cinquenta anos, mas com uma obra literária eterna.
Por sinal, tempo perdido não há em Paris, seja perambulando por seus Boulevards, suas avenidas largas, criadas pelo Barão Haussmann, em sua revolução urbanística da segunda metade do século XIX, ou perdido pelos corredores do Louvre ou no D’Orsay. Não há como evitar perder-se, prazerosamente, pelas ruelas apertadas do Quartier Latin, o bairro latino que viu surgir Sorbonne, “A” universidade, com quase 800 anos…
Aliás, autores célebres é o que não falta para esta nação. Que profusão de escritores! Não que nós, brasileiros, não os tivéssemos, mas eles os acolheram muito mais, tratando-os quase com veneração literária invejável, tanto aos mortos e suas obras eternas, mas também aos que por aqui transitam.
E quem fala aqui não é somente um estudioso das literaturas, que o fui um dia, mas um escritor iniciante, alguém que almeja ver seu nome no Panteão da glória literária, modestamente falando, é claro.
E, digo mais, essa frase não é só retórica narrativa. Em Paris há um Pantheon construído primeiro para ser igreja que, depois da Revolução Francesa e de Napoleão, tornou-se um templo para cultuar seus heróis, não só os que pegaram em armas, mas também os que pegaram em penas, como VIctor Hugo e Alexandre Dumas, ali enterrados em uma cripta para heróis nacionais.
Para terem uma noção do quanto eles valorizam seus criadores literários, quando Victor Hugo faleceu, autor de “Os miseráveis”, seu féretro foi acompanhado por milhares de pessoas nas ruas francesas, até descansar sob as arcadas deste prédio. Inclusive, a casa dele é um belíssimo museu, preservando o modo de viver da primeira metade do século XIX.
Quem também viveu neste período e perambulou pelas arcadas do Louvre e do Palais-Royal foi Balzac. Nascido no interior, elegeu Paris como sua e, com uma dedicação ferrenha à escrita, tomou-o com suas mãos sujas de tinta. Conquistou seu espaço a picaretadas de pena, criando livros basilares da vida em sociedade.
Ele soube viver e beber a Paris que o cercava, literalmente. Conquistou os louros da fama artística, mulheres, solteiras ou casadas, vinho e comida à farta. Tanto fez, que precisou encarar desafetos e duelos de capa e espada, literalmente.
Demorava para iniciar a produção de um livro, afinal, eram tantas as distrações daquela Paris – imaginem se vivesse nos dias atuais. Mas, quando baixava a cabeça, só parava quando via o livro pronto e impresso. Com esta metodologia, produziu uma obra gigante, com mais de 80 livros, sua Comédia Humana. Fez tanto de seus dias, que seu coração não o deixou passar dos cinquenta anos de idade. Mas quanta produtividade!
Aliás, outro que criou bastante, deixando de lado a parte literária, sem deixar a área artística, foi Eiffel. Abnegado construtor, soube enxergar em um projeto mal realizado, um caminho para eternizar seu nome em ferro e aço. Após ter o projeto da torre escolhido para marcar a exposição universal de 1889, ano do centenário da Revolução Francesa, viu críticos e financiadores o abandonarem.
Mas nada é páreo para um homem e suas ideias, desde que ele alie ações e atitudes a tudo isso. A torre era para ficar em pé somente por um ano, acreditam? Porém, após abandonar os parafusos e colocar rebites para fixar sua torre, Eiffel garantiu a eternidade ao seu monumento e para seu nome. E para Paris!
Se tempo e espaço tivesse, ficaria a citar mais e mais situações e personalidades que fizeram de Paris a cidade que conhecemos e amamos, como Monet e Picasso, para ficar em dois nomes que fizeram revoluções artísticas eternas nos séc. XIX e XX. Seriam tantos…
Mas cada um tem a sua Paris. Hemingway fez dela sua festa, eu faço dela meu canto no mundo, sentando em um café, seja no sol ou sob garoa, lendo o povo a passar, escrevinhando meu tanto.
Por Hoje deu. Tá na hora de largar a caneta e me perder por aí, sem muito rumo, mas com algum prumo, em busca do que foi e também do que é a cidade luz e suas memórias, inclusive, das que construí em outroras viagens…