Buenas!
As coisas mudam muito rápido no mundo atual, quem não souber se adaptar poderá ser extinto. Darwin desenhou tal teoria no século XIX. Apesar das risadas de seus contemporâneos, provou estar correto, ainda em vida. Veja o caso de nossos primos neandertais e dos mamutes, não se adaptaram, foram extintos.
Lamento a extinção do mamute, gostaria que eles ainda estivessem por aqui, paquidermicamente dominando o Ártico, ao menos. Assim como lamento o fim das bancas de revistas. Esta semana eu caminhava pelo centro histórico da capital quando, para minha surpresa, vi que uma das bancas de revistas da renomada praça da Alfândega fora transformada em uma lojinha de cacarecos para celular, venda de guloseimas, água e refrigerante.
Prescrutei com ênfase para encontrar uma revista, uma Passatempo, ou um jornal que fosse, e nada. Segui minha caminhada agora cabisbaixo, acabrunhado diria com melhor definição. O que aconteceu com as revistas e jornais?, perguntei, já sabendo a resposta que, diante de minha missão de informar-lhes, irei relatar, tenham calma. Inclusive, abrirei um novo parágrafo visando valorizar a informação.
Foram para o mundo digital! Sim, sei que a maioria de meus leitores não irão se espantar ao ler isso no seu computador ou celular, os jornais e revistas, em sua maioria, vivem no mundo virtual, poucas ainda sobrevivem fisicamente, para meu lamento, para tristeza da geração nascida antes dos anos 1980…
Eu não me rendi aos leitores de livro, tipo o kindle, porém, confesso, leio periódicos em meu tablet. É confortável, admito, mesmo sentindo falta do papel, seja dos periódicos diários, seja dos semanários. No trabalho, ainda tenho acesso aos jornais em papel, daqueles que sujam os dedos, para deleite de quem nasceu no século passado. Faço questão de manuseá-los, ficar com os dedos manchados de tinta.
E nós, reles mortais, saberemos nos adaptar aos novos tempos? principalmente se os tempos envolverem eleições presidenciais? Lembram do romance “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis? Publicado em 1904, é um dos meu preferidos, apesar de não ter o dinamismo que os livros mais famosos do mestre dos mestres.
A história trata de dois irmãos que nasceram ainda nos tempos de dom Pedro II, eles crescem brigando ab ovo, ou seja, desde o útero. Quando adultos, um apoiava a manutenção do Império, Pedro queria a República. Após 1889 o projeto republicano tornou-se vitorioso e Paulo comemorou. Porém, com o passar do tempo, viu que “não é esta a república dos meus sonhos”, pois os vitoriosos passaram a agir como os derrotados…
Ou seja, as brigas familiares que vivenciamos nos grupos de mídias sociais diariamente, deveriam olhar para o passado e extinguir este tipo de disputa insana. Tá aí uma coisa que não me deixaria saudoso, caso extinto fosse: as pendengas políticas exacerbadas. Mais ainda agora, quando nos aproximamos do segundo e decisivo turno da votação presidencial de 2022.
As pessoas ficam a debater, discutir e a brigar, algumas vezes literalmente, por alimentarem opiniões políticas divergentes, pior, por defender políticos como se santidades eles fossem. Quando acabar o pleito, teremos, naturalmente, um vencedor. Ele irá comemorar, o derrotado se lamentar e nós? Nós que fizemos dos grupos de redes sociais um octógono de MMA virtual continuaremos nossas vidinhas normalmente, tendo de trabalhar, estudar, principalmente, pagar as contas, que não param de subir, diferente de nossos salários, não é?
De que adiantou tanto embate?, perguntará este cronista no futuro próximo, quando o inquilino estará alocado na cadeira planaltina. Os irmãos que brigamos, os primos que ficamos de mal, irão continuar sendo primos, continuarão sendo irmãos.
Veja o final do livro de Machado de Assis. A mãe dos gêmeos, Natividade, em seu leito de morte, pede uma coisa só: “Anda Pedro e Paulo, jurem que serão amigo.” Sob lágrimas torrenciais, eles prometem e até conseguem. Por um tempo, votam na câmara dos deputados nas mesmas causas. Porém – o velho e humano porém está sempre presente, pelo visto – com o correr dos meses, voltam a não se falar, voltam a votar em projetos diametralmente opostos…
As revistas das bancas serão extintas, é um sinal dos tempos como os mamutes já o foram, para minha tristeza profunda. Já as contendas políticas, os irmãos, primos e amigos brigando por causas políticas, é uma tendência que não há como lutar contra. Mas podemos fazer isso com menor intensidade, com tolerância e respeito às opiniões alheias. O ódio pode e deve ser contido, não acham?
Quem sabe, aprendemos algo com Machado de Assis e sua brilhante capacidade não só de enxergar seu mundo, mas também, registrar como o homem tende a se comportar, não importa o século, sobretudo em períodos eleitorais…
Será que iremos ser extintos por nossa beligerância ou isso é prova cabal de adaptação ao sistema, por mais cruel e repetitivo que ele seja?