Buenas!
A rainha se foi! E eu com isso?, pergunta o mais desinteressado dos brasileiros, indiferente às lágrimas dos fiéis súditos da coroa. No caso, coroa não seria Elizabeth II, mas sim a simbólica coroa real britânica. Ela foi mais highlander que o personagem escocês dos filmes dos anos 1980 com esse nome. Aliás, ela escolheu as terras altas da Escócia para seu passamento, numa clara alusão a sua aludida imortalidade. Façamos um minuto de silêncio em homenagem à monarca…
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Agora, após a devida vênia, lembro ao brasileiro desinteressado que questiona toda esta celeuma em torno da sucessão da família real que ele não pode esquecer o que move a humanidade: um sentimento coletivo da curiosidade motivada por um misto de admiração dosada por uma inveja visceral, combustível de nove em cada dez seres humanos. Não negue!, sei que assiste o BBB, a Fazenda, Largados e pelados, De férias com o ex, dentre outros programas que expõem a vida alheia sendo devorada por olhares, tal qual os gladiadores eram dilacerados no Coliseu romano…
Curiosidade move o mundo desde que Eva experimentou a maçã ou Pandora abriu aquela caixa, espalhando todos os males pelo mundo. Ambas receberam recomendações austeras para não fazerem uma coisa ou outra, porém, a curiosidade tira o ser humano do comodismo, faz com que ele queira saber dos meandros da vida, inclusive de uma senhora idosa, melhor ainda ser rica e poderosa, muito melhor se rainha longeva!
Inclusive, uma das lendas que dominavam os tablóides de fofoca, é que ela não tinha carteira de motorista, mas dirigia camionetas com regularidade por suas terras. Ávidos por maledicências, assim que o rei Charles III foi anunciado, as manchetes e fotos dos noticiosos do mundo todo focaram nos dedos inchados do novo mandatário, lembrando “salsichas”, dizem os alcoviteiros modernos.
Não são somente as revistas de fofoca que se locupletam com a corte e suas peripécias, eles servem de temática para uma das séries de maior sucesso da atualidade “The Crow”. Não assisti, também tenho meu grau de curiosidade, mas, nesse caso, famílias reais não fazem parte do meu escopo de curiosidades. Eu até que admirava a Lady Dy, contudo, desde que ela se foi acossada por fotógrafos ávidos por alimentar os jornais e revistas de fofocas, não há o que me atraia no dia a dia de pessoas abastadas de berço ou que os orbitam.
Aliás, já pensaram se no Brasil de hoje tivéssemos, não só o coração de Dom Pedro I importado para as comemorações do bicentenário da Independência, mas seus descendentes governando o país?
Uma coisa que não teríamos é Brasília. Os mandatários, que nunca trabalharam, não morariam naquele serrado quase desértico, apesar de um lago estar em seu projeto. A última morada da rainha seria em Petrópolis, apesar das enxurradas e quedas de barreiras, a residência real estaria protegida.
Após a confirmação do fato, que demoraria muito, tal a quantidade de versões que seriam publicadas nas redes sociais, o cortejo iria descer a serra carioca. Tudo iria atrasar, pois o féretro ficaria preso no congestionamento da Avenida Brasil, provocado por algum arrastão ou tiroteio, apesar do feriado nacional.
Ao chegar na avenida Presidente Vargas, seria complexo adentrar a igreja da Candelária, teriam muitos moradores de rua pedindo comida. A fila de curiosos para ver o caixão e os descendentes da coroa daria voltas no centro histórico, mas não veriam o sucessor ao trono. Ele estaria em Paris, assistindo jogos do Neymar, inclusive, seria visto na festa pós-jogo, no apartamento do atleta. Negaria, óbivo, mas as fotos não mentem. Mesmo assim, vida que segue, coroa trocaria de mãos, e o Brasil continuaria governado pelo primeiro-ministro que seria, obviamente, um deputado do centrão!
Esquece, acho que não seria muito melhor do que a atual opção republicana. Porém, gostaria que nossos governantes aprendessem algo com a rainha, como vou citar abaixo.
Lembram daquele senhor que ficou a zanzar com seu andador no pátio de sua casa durante a pandemia, na Inglaterra? Tom Moore, que lutou na II Guerra Mundial, arrecadou mais de 200 milhões de reais em doações para o sistema de saúde pública da Inglaterra durante o auge da pandemia. A rainha Elizabeth II, ainda em 2020, o condecorou com uma medalha e o alçou ao posto de cavaleiro, em pleno castelo de Windsor.
Uma bela atitude, de ambas as centenárias figuras, esta sim, invejável. Quem sabe os habitantes de nosso país, tão jovial que é, possam aprender um pouco com quem muito viveu e passem a valorizar mais e mais seus agentes de saúde, professores e policiais que, não só no período da pandemia, mas diariamente, trabalham para um país soberano em si mesmo? Garanto que será um tempo e dinheiro melhor investidos do que em programas de fofocas ou assistindo os tão famosos realitys…