Buenas!
Foi no sete de setembro que raiou a liberdade! Ops, trocando a data, é o hino de outra nação que, por sinal, também é entoado nesse mesmo mês por todos os rincões do Rio Grande, da lagoa Mirim até as barrancas do rio Uruguai. Mas, voltando ao que interessa, vivemos a semana das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil da coroa portuguesa.
A data é tão relevante, que suplanta a descoberta feita por Cabral, também chamada por alguns historiadores, de invasão. Após o contato inicial e a invasão, que foi seguida de um extrativismo desenfreado, garimpo agressivo, um jovem príncipe, herdeiro desta colônia, bradou a independência, criando um novo país. Reconhecido pela pátria-mãe, isto, após Dom Pedro I acertar o pagamento de uma indenização multimilionária à coroa portuguesa, parcelado em muitos e muitos anos…
A partir daí, tivemos muitas disputas, guerras internas e externas, tudo para manter a unidade nacional. Evoluímos, de certa maneira, entretanto, ainda somos um país salpicado de idiossincrasias e dicotomias. Por isso, faço minhas as palavras de Drummond: “E agora, José?”
O poeta não sabia para onde marchávamos em 1942, eu, muito menos, sei hoje. Entretanto, temos algumas referências para colocar na balança e subsidiar a calibragem da bússola que guia os caminhos de nossa bicentenária nação.
De um lado, o dia sete foi marcado pelo desfile cívico-militar. Por todo o país, militares, escolas e sociedade civil desfilaram com pompa e circunstância, após dois anos em que a pandemia nos impediu. Até enfermeiros e pessoas recuperadas do covid estiveram desfilando, orgulhosos das batalhas que enfrentaram e venceram.
Eu desfilei mais de uma vez, e com três uniformes diferentes. O primeiro deles foi um abrigo azul marinho, como estudante. Minha mãe comprou-o em diversas prestações, pois o colégio, apesar de público, exigia o uso de abrigo dessa cor. Era o genérico, ainda assim era caro. Mas a maior frustração, foi a tarola!
Todos os meninos do colégio que tocavam na banda recebiam olhares diferenciados das meninas, mais ainda os que tocavam tarola. Minha adolescência foi frustrada, pois nunca toquei uma tarola no desfile de sete de setembro.
Depois, desfilei com o uniforme do Exército, quando servia à pátria como aluno do NPOR. Devo ter atraído alguns olhares, mas não podia olhar para o lado, a concentração era total para não perder o passo. Mesmo assim, pude ver meu avô e minha irmã, que estavam juntos à multidão, orgulhosos…
Algum tempo depois, estava eu desfilando com o uniforme marrom, dirigindo as viaturas da PRF, com quepe, sirene e tudo o mais. Certa feita, fiz a proeza de levar meus filhos para o desfile, no banco traseiro, ambos uniformizados e, claro, com o cinto de segurança devidamente afivelado!
E hoje? Optei por não desfilar. Os filhos decidem se vão ou não assistir, não aceitariam meu convite. Eu cá de meu canto, preferi aproveitar o feriado para pôr em dia algumas leituras e refletir sobre o momento histórico que vivemos. Com isso, pude acompanhar o noticiário, e encontrar outra pedra para colocar do outro lado da balança de nosso feriado pátrio.
Não só encontrei a notícia, fui solapado pelo relato da prisão de um homem com duas mochilas recheadas de, pasmem, placas de túmulos e letreiros fúnebres. Ele invadiu e furtou mais de uma centena de placas e números metálicos que adornavam as lápides do cemitério de Lajeado, no interior do RS.
Não bastasse o furto de fios da rede elétrica que deixam no breu praças, ruas e também cemitérios, agora estão deixando “às escuras” aqueles que buscam seus entes queridos. O feriado – mais um – de finados se aproxima, como os parentes vão encontrar os que se foram, se levaram as placas com os nomes, os números com as datas em que vieram ao mundo e nos deixaram?
Felizmente ele foi preso e, quem sabe, dará tempo de ajustar tudo. Porém, pergunto, amigo leitor: será que vão colocar as placas nos locais corretos? Os funcionários do cemitério irão saber qual número é de qual lápide ou jazigo? Talvez, se nenhum dos inquilinos reclamar, fique do melhor jeito, que é o jeito que dá, que acaba dando no mesmo, diria José, o brasileiro do Drummond.
O Brasil chegou ao século XXI com esse feitio, contraditório em termos, ora marchando teso, ora consertando lápides, sempre ajeitando as melancias com o andar da carroça, fazendo as coisas com o famoso jeitinho brasileiro. Drummond, de seu banco em Copacabana ou na praça da Alfândega, em Porto Alegre, questionaria: “sem cavalo preto que fuja a galope você marcha, José! José, para onde?