qua, 8 de janeiro de 2025

Variedades Digital | 04 e 05.01.25

Existem homens e existe o Nelson

Buenas!

 

            A gente fala mal do brasileiro (como se eu também não fosse), reclama da falta de amor-próprio, insiste que o país não cresce porque ele não se ajuda, possui síndrome de caranguejo, sempre puxando para baixo, etc. Porém, melhor do que ler minhas lamúrias, é conhecer um dos melhores leitores da alma forjada ao longo do século XX, que criou frases e definições que traçaram com maestria nosso perfil há mais de cinquenta anos e que ainda nos representam. Caros leitores, quero lhes apresentar, Nelson Rodrigues.

Poderia deixá-los com o google ou o wikipedia, lá tem bastante coisa, diria até, quase tudo. Entretanto, penso que uma pitada de explicações interpretativas – que lá são incomuns – tornam uma boa história, uma grande biografia. Inclusive, se quiserem largar meus comentários pela metade e começar a ler a melhor biografia de todos os tempos em língua portuguesa, recomendo: “O anjo pornográfico”, de Ruy Castro. Publicada em 1992, trata do polêmico escritor que ora me debruço. Como diria Nelson: “só acredito em pessoas que ainda me ruborizam.” esse livro fez isso, assim como seu biografado …

Ele nasceu no Recife, em 1912, cresceu em uma família abastada, mudando-se para o Rio de Janeiro com quatro anos. Cresceu dentro da redação do jornal de seu pai onde, começou sua tragicômica vida, mais para trágica do que cômica. Quando tinha 17 anos, testemunhou seu irmão ser baleado em plena redação por uma socialite indignada por uma possível difamação. Ele morre dias depois, seguido de seu pai, que não resistiu ao abalo causado pela tragédia.

O jornal vai à falência e a família chega a passar fome após a revolução de 1930. Começa a trabalhar para os jornais O Globo, ganhando um salário baixo, quando descobre a tuberculose. Passa mais de uma temporada em sanatórios, esperando a morte chegar, mas ela não vem, permitindo que retorne às redações dos jornais e à sua máquina de escrever.

Nelson tornou-se o maior dramaturgo brasileiro, criando um jeito novo de encenar. “Vestido de Noiva”, de 1942, sua segunda peça, é considerada a melhor de todos os tempos. O curioso, caros leitores, é saber o porquê do redator de jornal começar a escrever peças teatrais. Deixe-me contar.

Um belo dia, passando diante de um teatro, fez as contas de quanto custava o ingresso, quanto teria de lucro o autor, pensou, ponderou, pesou os prós e escreveu “A mulher sem pecado”, sua primeira peça, também um clássico. Pensou prioritariamente nos lucros, afinal, a vida do jornalista nunca foi muito abastada. A arte, vez ou outra, é movida pelo dinheiro e, como ele mesmo diz, “Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.”

Não parou mais, publicando também folhetins que chocaram a puritana sociedade carioca da metade do século passado com pérolas como: “Meu destino é pecar”, além de contos recheados de picardia e cotidiano na coluna “A vida como ela é”, sucesso nos jornais da época e na televisão nos anos 2000. Em tempos anteriores ao streaming, não podia dormir no ponto. Como não se apaixonar por frases que podem ser ditas como segredo de alcova: “Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.” Com suas sentenças afiadas como lâminas, viveu equilibrando sua existência entre um amor irrestrito e ódio figadal.

Aliás, quase todas as suas peças viraram filmes nos anos 1960 e 1970, pérolas do quilate de: “Bonitinha, mas ordinária”, “Boca de ouro”, “Perdoa-me por me traíres” e, a melhor adaptação cinematográfica de todas, na minha igualmente modesta opinião: “Toda nudez será castigada”.

Para o bem e para o mal, suas sentenças lapidares expuseram as fragilidades de nossas relações sociais. A mais famosa definição sobre nosso comportamento é o famoso “complexo de vira-latas“. É usada até hoje para justificar a baixa autoestima citada no início do texto. Inclusive, afirmou que superamos este complexo quando ganhamos a primeira Copa do Mundo, em 1958. “Analfabetos aprenderam a ler jornais do dia para a noite” para poder ler as manchetes vitoriosas.

Ou seja, a partir do orgulho propiciado pelas conquistas de parcos brasileiros, recebemos injeções de altivez em nossas veias. Pelé, com seus 17 anos, e Garrincha, o anjo das pernas tortas, inauguraram a categoria. Outros vieram depois, como Senna, Guga, Ronaldinhos, a seleção de vôlei, dentre outros, nos encheram de brios nacionalistas, vez ou outra.

Porém – sabem que esta palavra não sai de meu vocabulário -, onde estão nossos heróis nos dias atuais? Difícil responder, mas fico com os cientistas e corpos médicos anônimos que se dedicaram para nos salvar da pandemia. Diria que nos faltam modelos, não acham? Prefiro ir por outra linha e ouso questionar: precisamos de heróis para construir nosso castelo de amor-próprio? Não podemos nos bastar? Nelson, apesar de todas as adversidades que a vida lhe impôs, não se deixou abater e bradou suas palavras páginas afora. Leiam-no.

E, aproveitando o momento, deixo aqui como sugestão, do alto de minha erudição literária – modéstia, onde te perdi? -, termos orgulho não só de atletas, mas também de grandes escritores, como o Nelson, e suas polêmicas. Ele nunca foi uma unanimidade, afinal, vaticinou que “toda unanimidade é burra!”. Também não podemos esquecer que “a burrice é a pior forma de loucura,”

Logo, não sejamos loucos, nem precisamos concordar com tudo que ele fez, mas valorizar suas virtudes, assim como devemos fazer com as nossas próprias façanhas!

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