Sinceridade é uma qualidade que se espera de todo mundo. Pelo menos na teoria isto é verdade. Mas quantos de nós seríamos capazes de suportar ouvir a verdade sobre nós mesmos todos os dias, de todos os nossos interlocutores?
Uns chamam de educação. Outros de hipocrisia. Um terceiro grupo classifica de bom senso. Mas é preciso dosar a sinceridade. Seja qual for o nome que se dê, alguém conseguiria conviver com uma pessoa “100% sincera”? Todos gostam de ouvir elogios, reconhecimento, palavras agradáveis que afagam o nosso ego. Mesmo assim, publicamente todos pedem sinceridade.
Nesta encruzilhada do cotidiano educar uma criança é um tremendo desafio. Se impõe criar um filho com base em uma educação de princípios de ética, humanismo e solidariedade. Ensinamos aos herdeiros a dizer a verdade, sempre, em qualquer ocasião, mas isso pode gerar situações constrangedoras.
É consagrado o episódio familiar em que o guri, com a chegada da tia solteirona, dispara logo na chegada da parente:
– Meu pai disse que tu é uma “mala” tão chata que por isso não consegue um marido.
A cena seguinte é de constrangimento geral. Mas é preciso ser justo: o piá seguiu à risca as instruções repetidas à exaustão pelos pais, mas numa situação indevida. Com o tempo nossos filhos entendem a dosagem correta porque a vida é assim: com o tempo e experiência todos nos acostumamos ao equilíbrio neste arame que liga a sinceridade à convivência e a sobrevivência.
O (a) prezado (a) leitor (a) certamente conhece pessoas cujo lema de vida é:
– Eu sou uma pessoa franca! Me desculpa se te magoei dizendo o que penso, mas eu sou assim mesmo”.
O pequeno grande problema com esta gente é que eles pregam e vivem a sinceridade pura, pelo menos da boca para fora. Mas infelizmente não têm estrutura para suportar a franqueza alheia. Ou seja, falta maturidade para ouvir os outros.
Os “francos” quase sempre se ofendem com facilidade. Também se afastam daqueles que dizem a verdade que muitas vezes é amarga, dolorosa e procedente. Como dizia meu pai, o saudoso velho Giba:
– O bom senso está no equilíbrio, mais nos extremos.
Por isso,é preciso parcimônia no emprego da sinceridade. É preciso escolher com sabedoria com quem usar e quais as circunstâncias. O segredo é a dosagem que separa o remédio do veneno.
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]