Sempre fui um cara chato no sentido de gostar das coisas no lugar, organiza-das. Depois de seis décadas de vida esta característica se acentuou. Não é fácil controlar o que meus detratores chamam de TOC – Transtorno Obses-sivo-Compulsivo.
Todos os dias sou o primeiro a acordar, às 6h. Para não incomodar ninguém à noite, deixo no banheiro todas as roupas, além de meias e calçado, que usarei no dia seguinte. Sim, sou o que chamam de “mala”, mas cá entre nós: acho desrespeitoso acender a luz no cômodo onde alguém está dormindo ou fazer barulho nos momentos de repouso alheio.
Estas manias ocupam boa parte do meu tempo. Às vezes já estou deita-do, sob as cobertas quentinhas tão úteis nestes dias de frio e umidade, e lem-bro que faltou escolher a gravata do dia seguinte. Paciência… é o ônus da “malice”. Por isso levanto sem reclamar e cumpro a tarefa.
Desperdício é outro hábito que incomoda, aliás, me irrita profundamente. Torneira pingando, luzes acesas em cômodos desocupados e excesso de detergente na esponja são manias que, no final do mês, acarretam despesas desnecessárias no orçamento doméstico.
“A disciplina é a organização da liberdade”. Ouvi a frase há poucos dias e gostei. Ninguém gosta de acordar cedo, lavar louça e roupas, arrumar a casa, tirar o pó, limpar o banheiro, só para citar alguns exemplos. Mas para usufruir de uma casa limpa e organizada é preciso ter disciplina para cumprir tarefas rotineiras pouco agradáveis.
Na vida é assim. O segredo é encarar obrigações com menos gravidade. Do contrário, em pouco tempo o trabalho se transformará em um suplício infindável. Do tipo do sofrimento que nos obriga a olhar para o relógio a cada 15 minutos, esperando o final do expediente.
Aprendi, desde a casa paterna, a encarar a labuta como uma obrigação, mas que é indispensável para a sobrevivência. E também para a conquista de itens para o conforto, deleite pessoal e crescimento intelectual. Nem sempre é fácil, admito, especialmente quando as tarefas do cotidiano são enfadonhas ou quando não há simpatia entre os colegas.
Jamais teremos um emprego com ótimo salário, permeado de rotinas agradáveis usufruídas com parceiros compreensivos e que, ao final do mês, renda um ótimo salário. Este é o mundo ideal, mas vivemos… no mundo real.
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]