Gente pouco afeita às lides gaudérias argumenta que a parte mais difí-cil do churrasco é “fazer o fogo”. Já outros garantem que o “pulo do gato” para um bom chimarrão é fazer o “morrinho” ou “topete” no capricho. A exemplo da brasileiríssima caipirinha são hábitos onde cada praticante guarda segredos para caprichar em gestos do cotidiano, numa espécie de estímulo para aperfeiçoar singelas rotinas.
Na vida é igual. Acordar todos os dias, focado em alguma tarefa específica, corresponde à isca usada nas pescarias. Em tempos de pandemia, com as ainda relutantes restrições, não é fácil manter o alto astral. Ensinar o que sabemos, ter coerência entre discurso e prática e ser humilde são atitudes que ajudam a manter o fogo brando da convivência, da boa vizinhança.
Diante de tantas bênçãos, como saúde, família e emprego, o mínimo aceitável é exercer a generosidade. Repito aos filhos que esta, na verdade, é uma obrigação que deveria guiar nossos atos, ajudando sempre que possível, orientando, emprestando nossa experiência a quem necessitar para minimizar sofrimentos.
A coerência de vivenciar o que se prega é um desafio difícil de manter. Trata-se de uma postura fundamental, na criação dos filhos, por excelência. Mais do que conselhos, dicas, corretivos e orientações para a vida, os herdei-ros mantêm olhos fixos na atitude dos pais. São modelos inspiradores no dia a dia. Atingir a coerência – é claro que os 100%, neste caso, é impossível! – corresponde a cumprir boa parcela da caminhada voltada à formação de cidadãos.
A humildade é o requisito mais raro em tempos de ostentação, consu-mismo, necessidade de aparecer a qualquer custo. “O tempo se encarrega de fazer justiça, dando ao personagem humilde o devido reconhecimento”. O dito soa piegas neste mundo em que atitudes agressivas ou uma tatuagem em lugares insólitos são toleradas, até elogiados. Afinal, é preciso aparecer. Sem-pre, a qualquer custo.
Solidariedade inspira atos de humanidade que ajudam a amenizar as agruras do mundo. Olhar para o lado e, o mais importante, olhar ”para baixo”, para quem mais precisa, se impõe. A pandemia turbinou as dificuldades, aumentou a miséria e deve servir de estímulo para fazer o bem. Sem olhar a quem!
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]