Imagine você clonar as melhores qualidades de um indivíduo e multiplicá-las, por 50, 100 vezes? Produzindo em larga escala aquilo que não seria possível na biologia natural? Parece tema de filme de ficção científica, mas não é. Essa é uma realidade que está cada vez mais perto de nós e já é discutida pela comunidade científica mundo afora. Com seu emprego comercial inclusive, onde o agronegócio, sobretudo a pecuária, tem se beneficiado com a clonagem de animais.
Neste campo, por exemplo, as possibilidades são enormes, onde os melhores exemplares dentro de cada propriedade podem contribuir para uma padronização genética superior e em um tempo recorde. O médico veterinário santanense Marcelo Albornoz, 42 anos, é proprietário de um laboratório especialista na técnica de fertilização in vitro em bovinos, sobre o tema. Marcelo é formado em medicina veterinária pela Urcamp e fez estágio curricular em Montreal, no Canadá, onde também concluiu o seu mestrado.
Em, 2009 foi contratado por uma empresa privada de clonagem na Argentina. “Comecei neste pequeno laboratório de clonagem de cabras e ovelhas localizado a 50 km do centro de Buenos Aires. Trabalhei dois anos nessa empresa e a partir daí fiquei mais dependente em vários projetos no Catar, Emirados Árabes, África do Sul, Estados Unidos (Texas), Montana no Panamá.
Em 2014, Marcelo foi contratado pela In Vitro Brasil para elaborar um projeto na África. “Neste período fui contratado para desenvolver um laboratório no norte da África do Sul e um segundo na cidade do Cabo. Essa foi a minha entrada no mercado de fertilização in vitro comercial que é a técnica que a gente oferece aqui no nosso laboratório”.
No ano de 2016, o veterinário recebeu um convite para um novo projeto na Argentina onde se tornou sócio de uma empresa especializada em fertilização in vitro. “Essa nova fase me aproximou do mercado de embriões no Rio Grande do Sul. E esse foi um dos fatores que me motivou a montar uma nova estrutura e uma nova equipe, só que desta vez em Livramento. Isso é um grande desafio, começar a atender um novo mercado, desta vez no Brasil depois de ter iniciado pela Argentina, Paraguai e Uruguai. A gente chega a essa ponta do país que é bastante especial para a pecuária nacional e principalmente pelo fato de eu ser daqui”, pontua.
FERTILIZAÇÃO in VITRO
Marcelo comenta que embora a técnica na pecuária nacional já seja bastante utilizada em outros estados, no Rio Grande do Sul, especialmente na Fronteira Oeste, ela ainda é novidade para os produtores. “É uma única técnica que é a fertilização In Vitro em bovinos. São prenhezes de 60 dias fruto de transferência desses embriões in vitro. Ela começa lá no campo com a escolha das doadoras que são aquelas vacas mais importantes no aspecto genético. Esse material é transladado ao nosso laboratório onde fazemos o processamento dos oócitos (células reprodutivas da fêmea) que são aqueles óvulos que ainda não ovularam. A gente coleta direto do ovário da vaca, traz esse material aqui, os fertiliza no laboratório, e durante um período de 7 dias eles são cultivados em incubadoras no laboratório. Ao final do sétimo dia, essa vida in vitro do embrião é transferido para uma vaca receptora que seria uma barriga de aluguel ou ele é congelado para uma transferência posterior”.
Conforme o especialista, com a aplicação correta da técnica, é possível multiplicar a sua melhor fêmea com maior valor agregado e genética, o que passou a impactar diretamente nas comercializações de remates com a valorização das fêmeas. “Uma vaca em toda a sua vida reprodutiva pode deixar oito, 10 terneiros em se tratando de uma vaca muito fértil. Isso amplifica o número de crias que se pode tirar de um animal superior utilizando a fertilização de uma vaca comum, mas em boas condições corporais. Nós observamos que isso deu um valor especial às fêmeas nos remates da Argentina, do Paraguai e Uruguai, que estão inclusive superando os machos em valorização”.
Para se ter uma dimensão do potencial de crescimento, Marcelo Albornoz destaca que a empresa que ele trabalha na Argentina, só em 2015 produziu 5 mil embriões in vitro, e em 2021 foram 40 mil embriões, correspondendo a mais de 60% da produção nacional do país.