Nas últimas semanas tenho comprado roupas novas. É uma novidade para mim, cujas aquisições bissextas que se restringem a bermudas e camise-tas quando necessário no começo do verão. Isso se deve a motivos de mudança de emprego e de exigências formais, mas confesso estar um pouco contrariado.
Sou refratário a compras. Meus filhos detestam o que batizei de “teste de necessidade de gastos”, e isso inclui não apenas confecções. É um rápido questionário, integrado por três perguntas básicas: 1) Preciso? 2) Vou usar? 3) É barato?. Se ao menos uma das respostas for “não”, a aquisição está automaticamente suspensa até segunda ordem.
Ao longo de 2020 e 2021, trabalhei em casa de bermuda/jeans, camiseta/moletom e chinelo/alpargata. Foi uma rotina desgastante, desafia-dora por ser nova. Gosto de viver rodeado de gente, assim, o aprendizado foi doloroso. Passeios com o cachorro e idas ao supermercado eram as “atividades sociais” permitidas, mas insuficientes para conter a ameaça de depressão.
Outra mania forjada ao longo dos anos é a desativação de roupas assim que uma compra é feita. Junto paciência e disposição para colocar abaixo a pilha de peças fora de uso. Depois de conferir bainhas, botões e possíveis manchas, dobro com cuidado cada confecção que é acomodada em sacolas plásticas.
O destino da arrecadação dos armários é um asilo localizado às mar-gens da BR-116, em Canoas, cujo cobrador passa sem falta todos os meses para pegar o cheque-auxílio. No início do inverno e às vésperas do final do ano os apelos são ainda mais intensos para reforçar o donativo. O dinheiro é usado para a aquisição de cobertores e edredons, além do pagamento de des-pesas com férias e o pagamento do 13º terceiro salário dos funcionários.
Além das minhas roupas ditas “sociais” estarem com bastante uso, o confinamento ocasionou um fenômeno inédito em que camisas e ternos encolheram dentro do guarda-roupa. Trata-se de um fenômeno digno de estudos por parte da Nasa ou assemelhados que, pelo que converso com amigos, atingiu a muitas pessoas.
No final de semana comprei um par de sapatos esportivo, o que me obrigará a liberar espaço para acomodar a novidade. Além das roupas, os velhinhos abandonados da Casa Lar São Marcos terão um “pisante” novo.
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]