qua, 8 de janeiro de 2025

Variedades Digital | 04 e 05.01.25

MÚSICA NO VERÃO PODE VENTAR COMO CANÇÃO!

Buenas!

            Desculpem, não resisti à rima infame do título, foi mais forte do que meu bom senso. Aliás, bom senso não é facilmente encontrado nos dias atuais, ainda mais se falamos de política no Brasil, mas vou evitar este terreno pantanoso, afinal, é o período de férias da maioria das pessoas. Vou me ater à temática que remete, o mínimo que seja, aos prazeres que vem à reboque das folgas trabalhistas e dos dias quentes, muito quentes, como é o caso deste verão gaúcho.

Comentei noutro dia sobre os aparelhos infernais carregados para as praias que ficam a tocar músicas em altos brados para quem quiser e quem não quiser ouvir – no caso, o meu caso. Já que as areias são o local mais democrático do mundo, este bando eclético se vale desta autonomia para impor músicas – que, na maioria, não merecem esta alcunha -, como os funks, aqueles barulhos hipnóticos das raves e, o domínio absoluto, dos novos e animados sertanejos. Já notaram que a música sertaneja tem mais variações que qualquer vírus conhecido pela humanidade? Fica a dica…

Eu sei, meu gosto não pode ser levado em consideração, a maioria é a maioria, não podemos negar seu poder. Mas podemos, isto sim, escolher as rodas em que nos misturamos. Na praia é mais difícil; tive que apelar para fones de ouvido para poder ler um livro. Cada qual se vira com as ferramentas que lhe chegam às mãos, diria um filósofo contemporâneo de botequim.

Falando em boteco, volto à vida real e ao calor insuportável de mais de 30º à noite. Sabemos que nem todos podem usufruir das benesses de um ar condicionado em sua casa, resta ceder à convocação de algum boteco e tomar qualquer coisa gelada, torcendo por uma brisa salvadora. O local é apropriado para pôr os assuntos em dia com os amigos da maneira tradicional, não virtual – claro, distanciados ou com máscaras, não esqueçam! Os assuntos giram em poucas temáticas: a nova letra do alfabeto grego da Covid-19, quem pegou e quem não pegou, o BBB novo, de novo, as eleições em 2022 (socorro!), futebol e suas incompetências e, claro, o preferido dos janeiros: o calor!

A falta de chuvas e este calor incentiva o povo a entronar-se nas cadeiras dos botecos de rua, esperando alguma brisa, infelizmente rara. Logo, precisam recorrer à cerveja gelada, não é? Contudo, não podemos ignorar que nestes locais há som ambiente tocando ao fundo. Se for ao vivo, já sabe, terá a cobrança de couvert artístico, não importando se a música tocada é do seu agrado ou não. Há lugares com shows em telões com o indefectível sertanejo, a versão mais atualizada, normalmente.

Apesar de tudo isto, há esperança, acreditem. Do famoso voz e violão, podemos esperar, muitas vezes, uma MPB, que nos salve a alma, mesmo que o corajoso violeira seja desafinado. Se assim for, ao menos as músicas terão um tom agradável aos ouvidos, ainda que o mais agradável seria uma brisa um pouco mais forte e fresca.

Numa dessas tentativas de sobreviver ao forno alegre da capital gaúcha, fui surpreendido por uma roda de samba em um boteco nas proximidades de minha casa. Vale a descrição do evento, peraí.

Era uma mistura de gerações. Jovens cabeludos com coque samurai sofrendo com o calor ao lado de senhores saudosos de seus cabelos que foram levados por ventos de um passado distante. Cada qual envergava um tamborim ou um violão, tocando músicas de origem popular, o chamado samba-raiz, num tom audível, sem o uso de alto-falantes de marca e origem duvidosa. E o faziam pela diversão coletiva, não se importando se os passantes apreciavam: teciam sua arte com esmero natural e sorridentes.

estes amadores da música, no duplo sentido da palavra, cativaram a atenção deste passante e de alguns outros, poucos, é verdade, atentos ao prazeroso desempenho musical daquele time heterogêneo de músicos. Apesar do calor, do pouco vento que ali fazia a curva, da cerveja que esquentava nos copos – um verdadeiro pecado! – e do suor que escorria para as cordas dos instrumentos, eles ostentavam uma felicidade sincera ao produzir música num tom audível, sem incomodar a vizinhança muito menos atrapalhando o diálogo dos que buscaram aquelas mesas para falar da vacina, da covid-19, da política, de futebol, do BBB ou, é claro, do calorão que domina o sul do país…

Nem sempre iremos ser brindados com momentos que nos apresentem algo além de motivos para criticar, como as democráticas músicas nas praias. O importante é que saibamos observar o vento que passa, prestar atenção quando nossos paladares musicais recebem um afago, dar vazão ao que faz bem aos ouvidos e refresca do calor deste verão.

Apesar desta busca algumas vezes infrutífera, podemos e devemos aceitar que há gostos musicais diferentes e antagônicos; cada qual que se vire com o seu gosto e sobreviva às imposições democráticas, como às praianas ou nos botecos.

O importante é identificar quando encontrarmos prazer em uma cerveja gelada, mesmo que não esteja em um copo de marca famosa, apreciar uma tradicional e honesta roda de samba e, fundamental, saber degustar uma boa e fresca brisa numa das tantas noites quentes do verão sulista.

 

Resultados do Projeto Cívica 2024 são divulgados pelo Grupo de Trabalho e TCE’S

O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) em conjunto com o Grupo de Trabalho Participação Cidadã e os Tribunais de Contas do Estado apresentaram a cartilha sobre os resultados do Projeto Rede Cívica. O projeto Rede Cívica objetiva a criar um modelo colaborativo para acompanhamento contínuo dos recursos destinados às políticas públicas no Brasil, com a inclusão da participação cidadã.