Não sei ao certo há quantos anos estou oficialmente aposentado, acho que há três anos. Isto ocorreu meio que por acaso. Acompanhei minha mulher ao escritório de um advogado, no centro de Porto Alegre. No final da consulta ele me perguntou:
– E o senhor, seu Gilberto… já está aposentado? Há quantos anos contribui para a Previdência Social? – indagou.
Descuidado com aspectos legais, confessei meu desconhecimento sobre os questionamentos. Curioso, na saída, assinei uma procuração para os levantamentos necessários, algo que imaginara ser muito complicado.
Semanas depois fui informado de que atendia a os requisitos, como idade e tempo de contribuição e que já poderia estar aposentado antes. Bastou protocolar o processo e oito meses depois estava legalmente aposentado.
Aos 61 anos, com mais de 40 de jornalismo, perdi a conta da promessa de que, findo o ano, diminuiria o ritmo. Reativaria a empresa de consultoria quer mantenho com meu filho – também jornalista -, escolheria meia dúzia de clientes e usaria o resto do tempo com viagens e férias de verdade em janeiro e fevereiro.
Jamais cumpri esta promessa. Trabalhar, para mim, é um prazer diário. Nos finais de semana cumpro tarefas que poderiam ser realizadas segunda ou terça-feira, sem prejuízo. Gosto muito do jornalismo, apesar das frequentes decepções diante do comportamento pouco profissional de colegas de profissão.
Desacelerar, aproveitar a vida, dormir até tarde e ler os jornais perto do meio-dia são projetos adiados. A ansiedade, a pressa e a dificuldade para relaxar por vezes me tiram o sono. Todos precisam tirar o pé do acelerador em algum momento, mas para mim é algo difícil.
Pessoas como eu costumam inventar desculpas, manipular argumentos para adiar projetos de cunho pessoal. Sempre usando o trabalho como biombo para esconder a dificuldade de relaxar.
Leio bastante sobre “ócio produtivo”, mas é um conceito difícil de assimilar. E mais complicado ainda de adotar. “Inquietos como tu morrem cedo, geralmente do coração pela incapacidade de desacelerar”, me disse sem rodeios um amigo que teve um infarto no trânsito maluco de Porto Alegre. Refleti bastante sobre a afirmação. E logo em seguida comecei a folhear os jornais do dia.
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]