qua, 22 de janeiro de 2025

Variedades Digital | 18 e 19.01.25

A TRADICIONAL ROMARIA DOS GAÚCHOS

 

Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]

Ir à praia no verão é uma instituição sagrada para os gaúchos. É como o Natal, Ano Novo e Semana Farroupilha, além do grenal. Quem chega vindo de outros Estados e se aquerencia no Rio Grande do Sul aprende rapidinho o que significa “a gente vai pra praia no findi”.
Na infância, meu avô materno mantinha um chalé de madeira em Tramandaí. Os adultos levam dias para “desenterrar” as janelas cobertas de areia e as mulheres sempre com vassouras e baldes em punho para deixar tudo limpo para aproveitar o clima de casa cheia com reencontros de famílias amigas e conhecidos que a gente só encontrava no verão.
Na adolescência acordava ainda escuro aos sábados, mochila às costas em direção à free way tentar uma carona para o litoral. Foram muitas aventuras, medo nas mãos de motoristas aprendizes e da novidade da rodovia de várias pistas sem limite de velocidade.
Depois, como jornalista, participei das “coberturas de praia” como repórter da Zero Hero. A redação ficava no Hotel Beira-Mar, onde ficávamos hospedados, junto com a maioria dos veículos de comunicação.
À época – final da década de 80/início de 90 – a invasão de argentinos foi um fenômeno histórico. Os hermanos polarizavam a atenção de balconistas, gerentes de hotéis, garçons e de vendedores. Os preços eram proibitivos para nós, nativos gaudérios, que arrastávamos enormes caixas de isopor com cerveja, refri e água e muito gelo.
Gosto muito de praia, dos banhos no final do dia quando o sol se despede e a noite chega de mansinho. Há muito tempo não vou ao litoral, exceção de rápidas fugidas de fim de semana. Acho cansativo pegar a estrada na sexta-feira e retornar no domingo, dia em que a cerveja é proibida por causa do bafômetro.
Alimento o sonho – nem tão secreto! – de possuir um imóvel para as ”fugidas” ao longo do ano, distante do burburinho da correria semanal e, é claro, no calorão de verão.
A romaria rumo à praia se repete ano a ano, perpassando gerações. Muita gente economiza, marca férias em sintonia com os familiares e não liga para os congestionamentos na estrada, no supermercado e sorveterias. O que vale é molhar os pés na água salgada e nem sempre cristalina, mas repleta de esperança de um ano melhor, com mais saúde e otimismo.