ARTIGO
Fátima Daudt
Prefeita de Novo Hamburgo e vice-presidente de Associação dos Municípios da Grande Porto Alegre (Granpal)
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O mundo seria um lugar melhor, mais pacífico e bem-sucedido se mais mulheres estivessem no poder? A pergunta, feita pelo Instituto Ipsos em 28 países, teve no Brasil o maior percentual de concordância: 70%. O resultado sintetiza a relevância que alcançamos nós, mulheres, na vida pública. Embora sejamos maioria na população, ainda somos poucas nas esferas de poder. Nas 5.570 prefeituras brasileiras, por exemplo, apenas 12% são comandadas por mulheres. Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, como Novo Hamburgo, somos apenas 21.
O alento é que há uma transformação em curso. Recentemente, fui uma das 30 prefeitas brasileiras convidadas a participar da Rede de Mulheres na Gestão Pública, do Instituto Alziras, que atua para fortalecer a presença de mulheres na gestão pública. O nome se refere a Luiza Alzira, a primeira mulher a vencer uma eleição no Brasil e a primeira prefeita eleita na América Latina, em 1929, três anos antes de as mulheres terem direito ao voto no país. São análises e perspectivas diferentes, desde a precursora na política, que nos motivam a ir mais longe.
De lá para cá, avançamos muito, mas o caminho é longo. As mulheres, com frequência, precisam provar que são capazes e aptas às funções. Isso é um paradoxo. Levantamento do Instituto Alziras e da Confederação Nacional de Municípios mostrou que as prefeitas da gestão 2017-2020 acumulavam experiência prévia na política, tinham mais anos de estudo que os prefeitos homens, mas 91% governavam municípios com até 50 mil habitantes. Durante a pandemia, pesquisa da Insper revelou novos desdobramentos da gestão feminina: as cidades brasileiras administradas por mulheres tiveram proporcionalmente 43% menos mortes e 30% menos internações decorrentes de covid-19.
Como podemos atestar, a participação das mulheres na vida pública faz a diferença. O desafio atual é ampliar a representatividade. A mulher tem legítimo “lugar de fala” para defender pautas e ideias que garantam direitos e avanços sociais. Entendo que, quando uma mulher não ocupa o seu espaço na política, ninguém o ocupa. Não queremos ficar sem voz. Pelo contrário, queremos nossa voz cada vez mais forte!