Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Depois de 19 meses e acompanhado da esposa voltei a encontrar dois casais de amigos. O “evento” ocorreu no sábado. Foi uma sensação incrível e muito difícil de reproduzir em palavras. No início senti uma espécie de culpa por estarmos em seis pessoas. Olhei ao redor e deparei com uma ampla casa de enormes janelas onde todos os personagens estão vacinados com as duas doses de imunizante.
A turma era composta por sessentões, amigos de muitas décadas. A conversa começou com recordações do nosso último churrasco pouco antes da pandemia. Lembramos os planos de viajar com um grupo de casais. Também planejamos uma temporada na praia pelo menos aos finais de semana. Programa típico de gaúcho que gosta de encontrar afetos no litoral.
Depois, aniversários e outras confraternizações acabaram arquivados pelos motivos conhecidos, apesar da quantidade cada vez maior de pessoas que parecem se acharem imunes à covid. As manchetes de todas as segundas-feiras revelam ajuntamentos de pessoas sem compromisso com a vida. No caso de Porto Alegre, as aglomerações ocorrem sempre nos mesmo dia e nos mesmos lugares.
Tão cedo não voltaremos aos hábitos antigos. Apesar do avanço da vacinação muita gente vai rever a rotina e certamente vai retomar a vida aos poucos, revendo comportamentos. Muita gente vai adotar novos procedimentos, principalmente em relação à higiene das mãos, coisa simples que aprendemos na escola e em casa que esquecemos ao longo dos anos.
O churrasco com cerveja gelada do final de semana foi uma espécie de reabastecimento emocional. Trabalhar várias horas todos os dias dentro de casa nesta modalidade de “home office” que polarizou a pandemia provoca um desgaste silencioso e perigoso. Nem sempre temos consciência das consequências manifestadas por irritação, depressão, cansaço crônico e desânimo generalizado resultantes do isolamento.
Rever os amigos, dar sonoras gargalhadas sem culpa e recordar episódios felizes é combustível para seguir adiante. Há quase 20 meses vivemos tempos de incerteza que serviram, em muitos casos, para fazer balanços de vida, mudar projetos e viver o agora. A finitude parece uma realidade cada vez mais presente. E não apenas para sessentões como eu e meus amigos de churrasco.