A dupla brasileira de artistas Tereza de Quinta e Robézio Marques (foto acima), que formam o Acidum Project, está no Líbano para um roteiro de produções artísticas. O principal trabalho no país árabe foi feito em parceria com o artista libanês RenoZ. O mega mural, inaugurado no dia 30 de julho, fica no bairro de Hamra, na capital Beirute, e tem 540 metros quadrados.
A obra vem sendo planejada há meses e foi produzida a seis mãos ao longo de nove dias pelos artistas. O projeto foi organizado pelo Centro Cultural Brasil-Líbano (Brasiliban) em parceria com a Art Of Change, um coletivo fundado por Imane Assaf e Jason Camp, que reúne artistas libaneses e promove diferentes ações culturais no bairro de Hamra.
Ambos nascidos em Fortaleza, no estado do Ceará, Quinta e Marques pisam pela primeira vez em solo libanês. “Foi surpreendente positivamente. Inacreditável como o lado caloroso das pessoas aqui é muito próximo ao do brasileiro. Estamos saindo daqui com muitos amigos. As pessoas são muito acolhedoras e é um povo muito parecido com o Brasil. Principalmente dentro de várias situações, de drama e de dificuldades, crises como nós passamos também. Mas se mantém um perfil muito forte de resistência”, contou Marques.
A recepção fez com que os brasileiros identificassem no Líbano traços da própria região de onde vieram, o Nordeste. Entre as caraterísticas destacadas pelos artistas estiveram o calor humano do povo libanês e a diversidade local. “Nos surpreendeu também muito a relação da cidade. Montanha, praia, tem vários tipos de ambientes. Agora não está nevando, mas [em outras épocas] tem montanhas que ficam cheias de neve. A questão gastronômica também. Em Fortaleza, quase não comíamos comida libanesa, agora a gente já quer voltar comendo porque é muito boa. Então fazemos esse 360 mesmo, visitando a cidade. Sabemos que está em um momento delicado, faz um ano da explosão, então Beirute ainda está se reerguendo, tem a crise econômica também, mas você percebe que é um povo que consegue festejar e se alegrar”, acrescentou Quinta.
Mural Brasil-Líbano
O mural feito na colaboração entre brasileiros e libanês tem o objetivo de mostrar os laços de amizade entre essas duas nações. O resultado agora já pode ser visto no país árabe e é, segundo a organização, um dos maiores murais do Líbano. O projeto coincide, também, com os 10 anos de atuação do Brasiliban, que faz parte da Embaixada do Brasil em Beirute, e tem objetivo de promover a língua portuguesa e a cultura brasileira.
A instituição registrou em vídeo nas redes sociais a cerimônia de lançamento do mural. “Acredito que essa é uma mensagem de esperança que todos nós precisamos”, disse o embaixador do Brasil em Beirute, Hermano Telles Ribeiro, na ocasião.
Para o trabalho em Beirute, os artistas do Acidum Project se propuseram a fazer pesquisas da cena local e, principalmente, a resgatar a essência do Brasil que queriam mostrar. “A nossa responsabilidade é muito grande. Nosso desenho específico é de uma mulher que, para nós, representa uma brasileira, nordestina. Inclusive perguntaram: ‘É uma brasileira? Parece uma libanesa’. E eu disse que era exatamente isso! É para quebrar o estereótipo da mulher brasileira ligada, às vezes, a sensualidade. Nós quisemos pintar alguém que parece com nossa mãe, alguém ali do nosso Brasil, do Nordeste, que é muito parecida com alguém de qualquer lugar do mundo. Quisemos colocar essa matriz maternal. Queremos levar esse lado, a imagem do Brasil tem que voltar a ser falada como somos. Um país ligado à dialética, harmonia, equilíbrio”, pontuou Marques.
Já RenoZ, libanês que trabalhou junto aos brasileiros, é um artista multidisciplinar que mora a capital libanesa e já expôs em mostras coletivas no Líbano e em outros países do Oriente Médio. Além de obras em galerias, é dele outro mural em grande escala que fica também no bairro de Hamra, e foi feito em parceria com a Art of Change.
O Acidum Project tem na agenda, ainda, outros trabalhos no Líbano, incluindo uma pintura que será feita no Vale do Bekaa. Depois da passagem pelo país do Levante, a dupla segue para um roteiro no Egito, desta vez com o apoio da Embaixada do Egito no Cairo.
* A reportagem é de Thais Sousa, da Agência de Notícias Brasil-Árabe
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