Buenas!,
Parece mentira, entretanto, garanto-lhes, participei de uma edição dos jogos olímpicos! E digo, mas fiz parte da conquista de uma das mais importantes medalhas de ouro já conquistadas pelo Brasil! Nesta época do ano, não sei vocês, mas eu faço todo o esforço possível para acompanhar os jogos olímpicos. De vez em quando, sou obrigado a conter alguma lágrima furtiva que insiste em me abandonar, principalmente quando vejo atletas relatando suas dificuldades, lesões e falta de apoio, principalmente se forem brasileiros.
Sinto uma inveja ferrenha daqueles países que incentivam o esporte desde os primórdios da escola e também nas universidades, formando atletas aptos não só para competir em jogos, como as olimpíadas, mas habilitados para enfrentar as disputas diárias que a vida irá lhes impor à medida em que crescem. Entendam esta inveja no sentido de querer ter o mesmo, nunca no sentido de retirar o que eles possuem.
Não era dos esportes coletivos na adolescência, mas tive um lampejo esportivo no ensino médio. Pratiquei lançamento de dardo, uma das mais nobres modalidades, praticada desde a Grécia antiga. Porém, estamos no Brasil, logo, o sonho durou pouco. O professor era um estagiário, ficou três meses e nos abandonou. Voltei para a educação física tradicional das escolas públicas brasileiras do século passado, em que a frase mais ouvida nos horários reservados para a prática desportiva estudantil era: peguem uma bola e não se matem!
Nos tempos de quartel, encarei o vôlei e o futebol, com alguma competência, modesta qualidade, porém, com muito espírito competitivo. Nunca gostei de perder. O tempo e a maturidade ensinam alguma coisa, não é fácil, porém, faz parte do evoluir. Após diversas lesões, canelas rachadas e ombro operado, enveredei para a natação. Logo estava competindo, claro, em caráter lúdico e integrativo, entretanto, ávido por medalhas. Para terem uma ideia do quão divertido deve ser o esporte, o grupo no qual eu treino se autodenomina “Transtornados”. Mesmo com divergências futebolísticas e políticas, o esporte acaba por nos unir.
Quem nunca disputou e ganhou uma medalha não sabe o valor que elas têm quando penduradas no pescoço. Não importa o latão do qual sejam feitas, o mais importante é sentir o peso do resultado de todo o esforço feito para vencer o maior dos adversários, nossos próprios limites. Antes que eu discorra por territórios insuspeitos da autoajuda, praia em que não costumo nadar, deixem-me contar o meu momento olímpico, que foi o assunto prometido no primeiro parágrafo.
Trabalhei nos jogos olímpicos da Rio 2016. Considero este o mais importante evento que participei na minha já longa carreira policial, recheada de eventos diferenciados Brasil afora. Além de salvar vidas, multar infratores e preencher muitas planilhas e relatórios, fiz parte da equipe de segurança daquele evento.
Poderia citar diversos episódios diferenciados que lá vivi, como circular nas áreas entre as arenas, cruzando por gente do mundo inteiro, como o lendário corredor Carl Lewis, ou assistir Michael Phelps destruindo um de seus recordes na piscina. Porém, pretendo me ater a um só, tamanha sua relevância. Meus netos, caso um dia os tenha, terão de meu ouvir repetir esta história dezenas de vezes. Atentai, leitores.
Era a tarde da final olímpica de vôlei. O Brasil iria enfrentar a Itália, a “squadra azzura” venceu a “seleção canarinho” durante a etapa classificatória. Como estava trabalhando, não podia comprar ingressos previamente, pois não sabia quando estaria de folga. óbvio que não existia ingressos disponíveis para esta final.
Contando com a prescrição do fato, confesso um crime, e, também, com o perdão dos leitores: fiz uso da milenar técnica do “cracházaço”! Estava de folga e minha credencial permitia acompanhar alguns eventos, mas não uma das disputas mais relevantes de todo o evento. Como meu lema sempre foi “quem tem boca vai a Roma!” e meu apelido na infância era “Bocão” – óbvio que por falar demais – encarei o desafio.
Passei com certa facilidade pelo primeiro portão, ele não foi páreo para meu crachá. Já no segundo, fui barrado. Minha credencial deixava ir até ali, não poderia adentrar o Maracanãzinho, palco da decisão, onde, há alguns anos, vi Bernard reproduzir o saque “jornada nas estrelas” – somente quem tem mais de quarenta anos sabe do que falo. Seria impedido de ver o irmão mais novo, o agora técnico Bernardinho, comandar a seleção brasileira na busca de mais um ouro?
Não seria um segurança que iria me impedir. Munido de toda minha lábia, de uma credencial emprestada de colegas e alguns contatos imediatos com superiores, fui liberado a adentrar o templo do voleibol, onde já estavam me esperando o Luciano Huck, Angélica, Neymar e a Bruna Marquezine, para citar algumas das tantas celebridades que lá estavam. Bem, eles estavam na ala vip, à beira da quadra, já eu, lá no alto das arquibancadas.
Contudo, encontrei o que eu queria. A pura emoção, aquela diferenciada, que faz com que uma disputa esportiva de alto nível cative milhões de pessoas, que faz atletas representarem seus países com unhas, dentes e suor. Quem assistiu na televisão lembra do efeito explosivo de cada ponto, imaginem ver ao vivo o time que representou uma nação ansiosa por vitórias, órfã de heróis, carente de conquistas…
Depois de ficar o tempo todo em pé junto a uma escadaria, pois não tinha onde sentar, derramei algumas lágrimas de emoção vendo a bandeira no lugar mais alto, ouvindo o hino de todos os brasileiros e a medalha dourada reluzindo sobre as camisetas amarelas daqueles atletas.
Por fim, sem querer, sai pela sala vip. Ali, fui obrigado a comer salgadinhos, beber cerveja e confraternizar com diversos atores globais, com quem debati a partida e a maior das vitórias, ao menos, da minha história olímpica. Encerrei o dia sem uma medalha no pescoço, mas com um sorriso triunfante e com chave de ouro.