Buenas!,
O título remete à música do Byafra, cantor que fez sucesso nos anos 80 e 90, mas que é lembrado por ter sido atropelado por um parapente enquanto gravava a participação em um programa televisivo. Tocou muito no século passado e passei a cantarolar o refrão quando comecei a escrever sobre o fato mais relevante dos últimos tempos (além da covid, é claro): as viagens espaciais dos bilionários. Tenho certeza, vocês irão concordar que a letra vem bem a calhar.
Caso alguns dos meus leitores estivessem perdidos em alguma floresta ou voltando de um coma profundo – sabe como é, covid, etc -, Richard Branson, dono da Virgin, e Jeff Bezos, fundador da Amazon, voaram ao espaço em naves construídas por eles mesmos. O outro bilionário, Elon Musk, tem sua nave ainda em processo de conclusão, devendo alcançar seus pares em breve nessa nova corrida espacial, desta vez, privada.
Já ouvi gente dizendo que é fake, que eles deram só uma voltinha de pouco mais de dez minutos um pouco acima de 100 km de altitude, deram uma flutuada e voltaram em dez minutos, isto não é ir ao espaço, segundo os críticos mais fervorosos. Tem gente que até hoje duvida que o homem foi à Lua, não é? Contudo, sobre os feitos desse time pesado, penso que não é pouca coisa. Antes, deixe-me comentar algo pessoal.
O assunto me é caro, pois, quando criança, queria ser astronauta. Eu dizia que a Lua era da minha vó, mal ela aparecia cheia e brilhante no céu. Na adolescência, acordei de madrugada para encontrar o tão falado cometa Halley, uma pequena mancha no céu para quem não tinha nem binóculo.
Além de documentários, filmes e seriados como “Cosmos”, apresentado pelo inesquecível Carl Sagan, e “Guerra nas estrelas”, com suas naves ligeiras, alimentava minha imaginação com livros que tratavam de assuntos espaciais. Além das enciclopédias, Isaac Asimov me levou aos confins da galáxia e além. Recomendo a leitura de seu clássico “A Fundação”, que devo ter lido umas três vezes, lembrando que era uma trilogia.
Porém, quando cheguei ao ensino médio, desconfiado que não seria aceito pela NASA, troquei o projeto de voar pelo estudo dos astros, mantendo a paixão pelo espaço: queria ser astrônomo. À noite, subia no telhado para conferir a localização das constelações que fotografava mentalmente nas horas que passava na biblioteca escolar. Porém, e sempre há um porém, descobri que o curso superior exigia domínios aprofundados de Física, algo até hoje incompreendido pela minha pessoa. Aliás, não sei como superei essa área tão hermética e concluí o colégio e passei no vestibular. Desisti e tornei-me um estudioso amador das estrelas, no duplo sentido da palavra.
Hoje em dia, temos acesso a aplicativos gratuitos que nos localizam as constelações e planetas em nossos celulares. Supre um tanto minha carência espacial, mas não é a mesma coisa. Cheguei a ter um telescópio dos pequenos, mas que não permitia grandes visualizações. Já o que estes visionários cheios de grana fizeram, não é tão simples assim…
Falando em ricaços, é imprescindível citar Alberto Santos Dumont. Morando em Paris, sustentado pelas lavouras de café de seu pai, ele desenvolveu e fez voar o primeiro veículo mais pesado que o ar, o 14-BIS, em 1906, diante de uma plateia boquiaberta. Não me venham com os irmãos Wright! Os americanos disseram que voaram em 1903, porém, só eles e cinco testemunhas nem tão isentas assim testemunharam tal feito.
Nosso conterrâneo arriscou o pescoço em suas aventuras aéreas. Conta a lenda, que tombou nos jardins da princesa Isabel, que vivia na capital francesa após o findar do império brasileiro. Tomaram chá e conversaram enquanto esperavam o resgate do demoiselle, sua aeronave que cabia na traseira de um carro comum daqueles tempos.
Aliás, preciso contar um pouco mais. Temos aeronaves por todos os lados porque o brasileiro não fazia questão de registrar as patentes de suas criações, permitindo acesso a quem quisesse desenvolver as aeronaves. Com isso, os aviões puderam ser utilizados na primeira grande guerra, em 1914, dizimando milhares de vidas. O inventor ficou doente e desenvolveu uma profunda depressão, chegando ao suicídio, em 1932, após o governo Getúlio Vargas bombardear cidades paulistas durante a revolução constitucionalista.
A corrida espacial promovida pelos bilionários não parece tão fajuta assim, apesar de uma viagem curta, eles retornaram ao conforto de suas mansões e angariaram a pretendida visibilidade mundial e o incremento nas ações de suas empresas. O aclamado brasileiro também fez um pequeno sobrevoo, mas que representou um grande passo na corrida pela conquista do espaço aéreo.
O sonho de voar é acalentado pelo homem desde Ícaro, passando por Leonardo da Vinci – que pode ter voado com suas asas, mas não restaram provas. Eu cá de minha parte tenho uma teoria, até hoje não comprovada, mas com grande fundamentação empírica. Vamos a ela.
Notaram que poucos animais olham para o céu? Alguns insetos, pássaros e mamíferos guiam-se pelas estrelas para traçar rotas migratórias. Porém, o único animal que, ao tornar-se bípede, olhou para cima e deslumbrou-se com a imensidão do espaço e com o brilho das estrelas foi o homem.
Desde então, nunca mais deixamos de almejar a conquista espacial. Como disse Fernando Pessoa no poema “Mar Português: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu”. As grandes navegações foram roteirizadas pelas estrelas, mas, também, como ele fala um pouco antes no mesmo poema, por certas pessoas – bilionárias ou não – conscientes de que: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.