Buenas!,
Um professor muito meu amigo sempre me cobra: por que tu abordas assuntos tão polêmicos? É só para te queimar!, diz ele, exercendo todo seu dialeto porto-alegrense. Porém, dessa vez, ele irá gostar do debate que ora proponho aos meus leitores que, pelo que soube, tiveram acréscimos, mas ainda não recebi os números oficiais do Ibope.
Como disse noutra oportunidade, assuntos polêmicos devem ser discutidos para, com isso, ampliar nosso conhecimento, debater os detalhes e fundamentar nossas opiniões. Foi publicado essa semana que a UFRGS propôs ao governo federal usar a maconha apreendida pelas polícias para extração do canabidiol, visando a produção de remédios neurológicos.
Eu sabia que muitos remédios eram produzidos a partir da mesma planta usada para fazer cigarros de maconha, o que não sabia é que a base do remédio era importada, afinal, tem tanta maconha circulando no Brasil. Porém, é proibido plantar o cânhamo e seus parentes, planta utilizada há mais de quatro mil anos para para confecção de fibras para tecidos e, mais recentemente, para cigarros de maconha e para remédios.
Para jogar limpo, sou obrigado a dizer que experimentei na juventude. Como posso avaliar sem conhecer?, pensava o jovem com menos de vinte. Não achei graça nenhuma, do mesmo modo que nunca achei em cigarros. Nunca vi sentido em colocar fumaça para dentro dos pulmões, apesar de sempre achar charmoso o uso dos cachimbos pelos intelectuais de filmes. Sempre quis fumar cachimbo, mas nunca cheguei perto de um.
Apesar disso, não condeno aqueles que encontram nisso uma fonte de prazer e transgressão. Inclusive, a proibição do consumo de drogas é um dos maiores atrativos para que os jovens as busquem: atiça a curiosidade. Agora segue um questionamento: já foi provado que, ao menos como remédio, a execrada planta tem seu valor, não só no Brasil, combatendo dores crônicas. Por que então proibir a plantação para esse fim? Aliás, tenho uma questão para o pessoal da universidade: como fariam para separar a parte útil para remédios de produtos como bosta de vaca e restos de madeira, normalmente, misturados à planta prensada para dar volume? É só curiosidade…
Quanto à proibição do consumo do cigarro de maconha, há diversos contras e prós. O Uruguai liberou o consumo para moradores e a plantação de pequenas quantidades, porém, aumentou o contrabando da erva vinda do Paraguai, pois o país não autorizou a plantação em dimensões que supra o consumo.
Já nos EUA, quinze estados liberaram o consumo e a plantação. Há fazendas legalizadas plantando em grande escala, gerando bilhões de dólares ao governo em impostos. Recentemente, Nova Iorque, a cidade mais cosmopolita do mundo, liberou o uso e, no último final de semana, autorizou consumir a cannabis em locais onde também é permitido o cigarro de fumo, como praças públicas..
Por aqui, a proibição inclusive da plantação do cânhamo, gera transtornos de vários formatos, como uma mãe entrar na justiça para conseguir o remédio produzido com a planta para seu filho doente, além do preço caríssimo, por ter matéria prima importada.
E há o malfadado dilema do tráfico da droga. São milhares de vidas perdidas todo ano nessa guerra sem fim, além da corrupção e do desgaste da segurança pública para combater o crime gerado por tudo que envolve a droga oriunda da planta. E, como vemos no clássico filme “Tropa de Elite”, o estudante ou o empresário que quiser fumar seu cigarro de maconha, vai ter acesso, porque alguém vai traficar, por maior que seja o esforço policial para evitar isso.
Ano após ano aumentam as apreensões, mas também as mortes e o consumo. Não lhes parece que estamos enxugando um iceberg na Antártida? Um colega de trabalho disse: a maconha pode levar ao uso de outras drogas bem mais perigosas, além de queimar neurônios. Concordo plenamente com isso, mas pergunto, leitor ponderado: o consumo da cerveja, não pode levar a beber cachaça, whisky, vodka entre outras bebidas mais pesadas que também acabam com os neurônios e levam famílias à ruína? Por que o líquido é permitido e a fumaça não?
Aliás, a fumaça do cigarro comum é liberada, apesar da fumaça que infesta os pulmões de quem consome e de quem estiver perto. Isso que há alertas nas embalagens que causa câncer e impotência, matando milhões de pessoas todo ano. Mas o consumo é liberado, claro, pagando altos impostos. Temos outro problema: por ser caro, temos o contrabando de cigarros do Paraguai.
Essa seria a sugestão de diversos especialistas, legalizar a maconha, do mesmo modo que o cigarro de fumo, mas cobrando impostos altos direcionados para o SUS. Além de tratar doenças futuras do consumo, teriam muito dinheiro para compra e criação de vacinas!
Outros especialistas diriam que o contrabando, ao invés do tráfico, iria ampliar. Porém, por ser uma contravenção e não um crime, poderia reduzir o número que cresce geometricamente de vidas ceifadas de ou enclausuradas nas cadeias, futuros soldados para o exército dos criminosos que traficam a droga por via terrestre, aérea e até fluvial.
Penso que não há certo ou errado nessa discussão, mas precisamos encontrar alternativas. Do mesmo modo, sei que não há uma solução fácil e que agrade a todos, mas como está não funciona, isso é fato notório. Discutirmos soluções ajuda ao engrandecimento, mas urgem decisões políticas que combatam o enxugamento de gelo ou a aglomeração de presos nas insalubres cadeias brasileiras.
Eu, por exemplo, quando meu amigo professor me oferece um cigarrinho artesanal, recuso educadamente: não obrigado. Como sempre digo, educação e conhecimento tornam as pessoas capacitadas para discernir o que é melhor para suas vidas, seja um gole de cerveja, até um cigarro, não importando sua composição…