No ano passado, um filme Sul-coreano chamado Parasita chamou a atenção do público e da crítica arrematando quatro Oscar’s, todos para Bong Joon-Ho, incluindo o prêmio principal de melhor filme. Logo, quando surgiram informações sobre Minari que, apesar de ser um filme estadunidense, é quase todo falado em coreano com atores coreanos, começou a se especular se o feito do filme anterior poderia se repetir, mas isso não aconteceu. Ocorre que não é por isso que o filme não é bom, muito pelo contrário, o filme tem uma estrutura muito bem apresentada e segue uma linha de raciocínio muito bem articulada, de forma que seus eventos, mesmo simples, possuem uma carga emocional muito valiosa. Nós, espectadores, acompanhamos o drama vivido pelos personagens e, à medida que o filme avança, vamos nos conectando com eles.
No filme, uma família coreano-americana se muda para uma fazenda no Arkansas em busca de seu próprio sonho americano. A fazenda iniciada do zero pelo pai da família sofre com as adversidades da nova tarefa e com a desaprovação da esposa. Em meio aos desafios dessa nova vida, essa família descobre, após a chegada da avó, a inegável resiliência da família e o que realmente faz um lar. Nessa premissa o filme se desenrola calmamente. Sem apressar nenhuma de suas ações, o filme busca realmente entregar uma obra reflexiva e que mostre as diferentes visões de cada integrante da família sob esse novo estilo de vida buscado. O marido está convencido de sua decisão e que, apesar das dificuldades, vai conquistar o que busca. A esposa, por sua vez, está receosa e, mesmo acreditando no marido, percebe que as dificuldades podem impedir que o sonho se realize. O casal de filhos pequenos vive essa dinâmica dos pais e ainda, apresentam muita personalidade ao passar pelas adversidades. A avó, irônica e debochada, recebe a missão de ajudar sua família, mas encara com pouca seriedade os problemas enfrentados.
Assim o filme se molda e quando os problemas mais poderosos se apresentam, aqueles cujas escolhas são definitivas para o seguir em frente ou voltar, nós estamos tão conectados com cada um daqueles personagens que é possível prever suas decisões. Nesse caso, isso não é um defeito do filme, afinal de contas, a proposta é justamente isso. O filme nos convida a participar dessa experiência junto com a família e ainda insere elementos da cultura coreana que engrandecem a experiência. Ante os conflitos que se apresentam, todos eles elaborados com um ritmo lento, pode afastar espectadores que esperaram uma experiência mais célere e com desdobramentos mais elaborados, mas isso difere de pessoa para pessoa. O projeto de Lee Isaac Chung é muito verdadeiro e isso fica explícito durante o filme, pois o mesmo é tocante sem precisar ultrapassar o ponto. O filme é muito suave em sua narrativa. A verdade é que Minari é uma grande obra e provou isso na temporada de premiações acumulando prêmios e indicações.
Minari é uma experiência leve e suave por muito tempo até chegar em seu grande conflito. Por conta disso, o filme equilibra muito bem as cenas dramáticas com as cenas mais cômicas. O espectador fica encantado com os personagens porque eles, além de próximos da realidade, fogem do convencional em muitos momentos, proporcionando momentos muito agradáveis de se ver em tela. O filme foi indicado a melhor Filme, Direção para Lee Isaac Chung, Ator para Steven Yeun, Trilha Sonora, Roteiro Original e vencendo na categoria de melhor Atriz Coadjuvante para Youn Yuh-jung. Todas as indicações e vitória devidamente merecidas pelo que apresentou, pois a intepretação da avó é cativante.