sáb, 4 de janeiro de 2025

Variedades Digital | 27 e 28.12.24

O MUNDO ANDA TÃO COMPLICADO

Buenas!

 

Vivemos um momento de perdas. Pronto, com essa frase, poderia encerrar minha crônica, abrir um vinho e ignorar a realidade. Contudo, prefiro acrescentar outras frases, algumas um tanto amenas, outras nem tanto. Quero dizer, com ênfase, que “o mundo anda tão complicado”, não concordam? E, se concordaram, não o farão comigo, mas com o autor da música da Legião Urbana que tem como título essa frase e está no álbum V. Quando escolhi a frase, não sabia ainda que, nesse ano que agora enfrentamos, esse belíssimo disco estaria completando 30 anos.

Digo enfrentar ao invés de viver, que seria a escolha lógica, entretanto, essa palavra não preenche a narrativa do momento em que vivemos. Encaramos um período não somente complicado, como afirma o título da música, mas um momento que fomenta o conflito. A tolerância está com a régua cada vez mais baixa; quando lemos ou ouvimos algo que não seja condizente com nossos princípios ou ideais, já partimos para o embate argumentativo, mesmo sabendo que o contentor (muito menos eu) irá mudar sua arraigada opinião.

Pensando nisso, lembrei de outra frase; essa já virou meme em redes sociais: “Você prefere ser feliz ou ter razão?” Eu sempre optei pela razão, não importasse a briga, preferia terminar de posse da razão, mesmo que essa vitória me tornasse cada vez mais solitário. Entretanto, nessa última semana, lembrei-me da dita frase quando li um absurdo em um grupo de primos. Respirei fundo, ponderei e convenci-me (com grande esforço, vocês nem imaginam o quanto): não adianta nada eu contestar a bobagem dita pela pessoa, logo, relaxa, cara pálida…

Funcionou! Não entrei em uma discussão sem fim, evitei o estresse e fiquei com um sorriso estampado no rosto, não dos vencedores, mas dos felizes. Raul Seixas já nos dizia, para manter a linha musical: “pena não ser burro, não sofria tanto.” Não que eu seja uma sumidade (apesar de haver dúvidas entre amigos, há momentos em que assumo um dedal de modéstia, faz bem em momentos complicados, dizem os entendidos), mas sabem bem os trinta e tantos leitores que me acompanham: ancoro minha opinião em conhecimento, livros, pesquisas, reportagens, não em postagens. Tenho por praxe, confirmar em outras fontes as informações que pipocam em redes sociais, concordando ou não com elas.

Além disso, disputar o domínio da verdade me parece um pouco desnecessário, ainda mais diante do cenário em que ninguém está ganhando, quando mais de 400 mil vidas se desfazem quase como no estalar de dedos de Thanos (caso não saiba quem é, não deixe de assistir a série de filmes dos Vingadores, da Marvel).

Meus leitores sabem que Renato Russo era um profícuo frasista e preciso usá-lo novamente, afinal, na música “Love in the Afternoon” o verso: “É tão estranho, os bons morrem jovens, assim parece ser, quando lembro de você” encaixa-se com perfeição no atual momento. Todos com um pingo de lucidez ou que perderam alguém nessa hedionda pandemia irão concordar com ele, não acham?

Aliás, o próprio autor dessa música nunca considerou, imagino, que sua poesia iria remeter à sua perda, que deixou-nos aos 36 anos. Ficamos com sua obra, ao menos, como outros tantos que nos deixaram cedo demais.

A morte é a única certeza que adquirimos com a consciência do mundo. Considero essa uma das maiores diferenças entres os animais irracionais e o ser humano. Todos deveríamos ter essa noção premente; iríamos aproveitar melhor nossos dias, contudo, a maioria de nós vive como se fôssemos eternos.

Para complicar, nossa geração foi sorteada para enfrentar uma pandemia, algo que não acometia o planeta há pelo menos um século. Ela carrega em si medo, tornando nossa existência tensa, mas, se olharmos pelo lado educativo, poderíamos tornar nossas vidas mais intensas, isso sim.

Como exemplo cito duas pessoas que foram levadas pelo vírus que viveram de forma criativa e plena. Aldir Blanc morreu exatamente um ano antes de Paulo Gustavo. O primeiro abriu mão da profissão de médico para escrever crônicas e letras de músicas como “O bêbado e o equilibrista”, eternizada na voz de Elis Regina (outra que nos deixou cedo demais). Ele empresta à lei que hoje alimenta uma leva de pessoas que sempre tiraram da arte seu sustento e agora são obrigados a ficar de braços cruzados.

O segundo alimentou com bom humor aqueles que pararam para lhe assistir. Eu fiz isso uma vez e nunca mais deixei de apreciar suas peripécias e criatividade, rindo com alguém que soube rir de si mesmo, valorizando suas origens suburbanas e familiares, eternizando “Dona Hermínia”, sua mãe, emblemática e sincera, representando todas as mães do Brasil.

Não teria como mensurar a importância dessas pessoas na vida de tantas outras, como não tenho como mensurar para um filho o pai que ele perdeu para o vírus e vice-e-versa. Cada um sabe o peso de uma perda e não há médico ou político que console esse infortúnio.

A perda das Marias, Josés e Paulos arrastam consigo uma dor inconsolável que não há como dirimir brigando em redes sociais na busca por uma razão que não tem sentido em ser conquistada.

Já que o mundo está tão complicado, podemos seguir a recomendação de Renato Russo na música que dá título a essa crônica: “hoje quero fazer tudo por você”, buscando a felicidade junto a um amigo, vizinho ou irmão mesmo que ele pense diferente, mesmo que por redes sociais. Quem sabe possamos usá-las para conversas amenas, como fazíamos em nossos saudosos bancos de praça, hoje tão solitários…

Rodrigo Lorenzoni destina emenda de R$ 200 mil para Guaíba

Com o compromisso contínuo de fomentar o desenvolvimento local e melhorar a qualidade de vida nas comunidades, o deputado estadual Rodrigo Lorenzoni anunciou, durante reunião na Prefeitura, realizada nesta quinta-feira (03), a destinação de uma emenda parlamentar no valor de R$ 200 mil para a cidade de Guaíba. Este recurso será direcionado para aprimorar a infraestrutura de saúde do município.