O primeiro passo do que vai ser o plano de gestão da Santa Casa de Misericórdia de Sant’Ana do Livramento foi dado nessa semana: as 59 demissões feitas pela direção do hospital causaram reações imediatas entre os trabalhadores que, representados pelo SindSaúde, fizeram manifestações e cobraram respostas do Executivo Municipal, pois a direção não sabe quando deve efetuar os pagamentos das rescisões realizadas neste mês. “Estamos trabalhando para apresentar um cronograma de pagamento para os funcionários demitidos. No entanto, é uma previsão muito difícil de fazer porque dependemos dos repasses referentes aos serviços prestados pelo hospital e já temos outras situações parecidas que não conseguimos cumprir. Na semana passada mesmo, tínhamos nos comprometido de pagar os salários de janeiro no dia 18, mas não conseguimos porque o Estado não repassou”, explicou a diretora geral Leda Marisa.
A diretora destaca que o Hospital fez todos os cortes necessários para manter um número em que se mantenha a qualidade dos serviços prestados e que comporte a capacidade financeira da instituição. Os cortes representam pouco mais do que o número de contratações feitas no ano de 2020, durante o período pré-eleitoral, e devem devolver parte do equilíbrio buscado entre receita e despesa. Em janeiro de 2020, por exemplo, a Santa Casa contava com 326 profissionais; em dezembro já eram 390. Foi um aumento de 64 funcionários, que desequilibrou ainda mais a situação e precisava ser revertido, o que motivou as demissões. “Precisávamos fazer para poder fazer um planejamento de pagamento em dia”, explicou Leda.
A SANTA CASA EM NÚMEROS
A ideia do novo projeto é que a Santa Casa de Livramento seja apresentada em números para que as decisões sejam tomadas. Tudo deve iniciar pela informatização que possibilitará a apresentação de indicadores. Para isso, foi criado um Gabinete de Crise gerido pela prefeita Ana Tarouco (DEM), pelo vice Evandro Gutebier (Republicanos) e pela secretária de Saúde, Caroline Gomes.
Esse comitê terá que tomar decisões com as informações emitidas pela diretora geral, com o apoio do gestor hospitalar Abílio Machado, recém contratado pela Santa Casa. Machado é pós-graduado em Gestão de Pessoas e Gestão de Processos e Análise de Dados. Ao Jornal A Plateia, ele contou que a atuação dele se dá com o apoio de uma equipe de profissionais composta por médicos auditores, responsáveis técnicos, médicos psiquiátricos, advogados tributaristas, criminalistas e especialistas em direito da Saúde e business intelligence, que compreende um delegado de polícia. “São essas pessoas que nos dão os subsídios para que tiremos do papel um plano de gestão que devemos efetivar em 48 meses”, pontua Abílio Machado.
INCENTIVOS
Um dos primeiros passos para que a Santa Casa incremente a sua receita é a busca de incentivos junto ao governo do Estado e a venda de serviços para outros municípios vizinhos. “Precisamos habilitar serviços que nós já oferecemos aqui no Hospital. Um exemplo são os leitos de UTI Covid: apesar de nós já ofertarmos o serviço desde o ano passado em dois leitos que temos no isolamento, esses leitos não estão cadastrados como Covid na regulação do Estado; ou seja, ao invés de estarmos recebendo R$ 1.600,00 por dia de internação, estamos recebendo apenas R$ 478,00. Nesse tempo todo de crise deixamos de receber uma média de R$ 60 mil por mês”, explica Abílio. Assim como o caso da UTI, o hospital em Sant’Ana do Livramento oferece uma série de outros serviços que não são cadastrados junto ao Governo. É o caso do ambulatório de traumatologia e dos leitos de psiquiatria, este último deve ser cadastrado no Governo Federal.
Nos próximos meses, a direção deve buscar ampliar, cadastrar e vender para outros municípios serviços de urologia, cardiovascular e de otorrinolaringologia. “No mês de março vamos fazer uma renegociação com a 10ª Coordenadoria Regional de Saúde e vamos perguntar quais são as outras demandas que na região não tem oferta e pretendemos trabalhar para oferecer esses serviços aqui na Santa Casa”, detalhou Abílio.
Está prevista para as próximas semanas uma viagem a Brasília que deve ser realizada pela prefeita Ana para a busca de emendas parlamentares que incrementarão a receita do hospital para a oferta de alguns serviços.
Esse trabalho de redimensionamento iniciado na semana, segundo a direção do hospital é necessário para que o hospital seja sustentável, ou seja, possa pagar as suas dívidas. “Não é possível que a Santa Casa esteja sempre dependendo da caridade ou dos recursos da prefeitura para sobreviver, o que queremos é tornar uma instituição sustentável que possa honrar com seus compromissos dentro dos prazos estabelecidos, como é o caso dos servidores”, afirmou Leda Marisa.
“O que vimos até agora não é apenas um buraco por onde se vão os recursos, mas uma peneira, com vários pequenos buracos para onde a Santa Casa precisa dispender seus insumos e profissionais para serviços em que não recebe nada em troca. Por isso essa discussão dos contratos será refeita agora em março para que possamos ter uma receita maior e cumprir com os nossos compromissos. Vamos fazer isso em 48 meses”, pontuou Abílio Machado.
CONVÊNIOS
Outro tema que Leda e Abílio citaram durante a entrevista exclusiva é que nos próximos meses vão fazer a revitalização de alas do Sisprem e Ipê para poder capitalizar esses pacientes para a Santa Casa. “Pedimos aos servidores do Município e Estado que façam os seus procedimentos na Santa Casa, pois recebemos um bom percentual desses planos. Tanto é que vamos fazer uma revitalização nos espaços para receber esses pacientes para que a nossa infraestrutura esteja cômoda para recebê-los”, afirmou Leda.