Rodrigo Evaldt: Vamos começar falando sobre a Santa Casa. Os funcionários estão em greve desde segunda-feira. Já há uma previsão de quando vão ser passados os recursos da Prefeitura para a Santa Casa poder pagar seus funcionários?
Prefeita Ana Tarouco: Bom, essa pergunta ela é complexa e de difícil explicação por ela requer orçamento, dinheiro. A realidade é que hoje a Prefeitura não dispõe de mais dinheiro para além de tudo aquilo que já repassou, além do que devia. Estamos aí em negociação, inclusive, há cinco minutos terminamos uma audiência porque judicializamos essa questão da greve. Até porque, realmente, nenhum governo, deliberadamente, chega a um patamar como esse no início da gestão e já começa com uma medida antipática de ter que fracionar o pagamento do salário ou reduzir salário, enfim. Então, diante da impossibilidade maior do município fazer mais do que já está fazendo, nós judicializamos a questão, o Tribunal Regional do Trabalho abriu uma mesa de negociação, uma audiência conciliatória que aconteceu hoje de manhã. Estamos caminhando, fizemos uma outra oferta. Faz duas semanas que estamos debruçados sobre a questão do orçamento para viabilizar mais recursos, de forma que a gente não retire de lugares que a gente não pode retirar e, ao mesmo tempo, encontremos dentro desta equação algo que possamos alcançar ainda mais. Estamos fazendo uma avaliação jurídica, no sentido de fazer, ou não, judicializar o recurso Covid, que tem uma certa vinculação, mas que daqui a pouco a gente também pode fazer uso para o custeio, pagamento da folha Santa Casa, enfim, a questão é supercomplexa e difícil, não se presta para discursos meramente apaixonados. Ela não é uma questão de paixão, ela é uma questão de técnica, uma questão de números. Apaixonados pela saúde, apaixonados pela Santa Casa, apaixonados pelo SUS, todos nós somos. Eu sou uma entusiasta do SUS, é impossível uma pessoa não reconhecer os avanços em termos de saúde do SUS, apesar de hoje a tabela SUS estar absolutamente defasada e ser um dos problemas da Santa Casa.
Em fevereiro, teremos o mesmo problema então nós estamos correndo no sentido de enxergar um horizonte para Santa Casa. (…) O governo é um governo técnico, nós estamos separando absolutamente a política do técnico, tanto é que se não estivéssemos separando isso não estaria acontecendo hoje. Nós não estaríamos discutindo uma greve aqui na Santa Casa. Se estamos fazendo isso é porque o governo tem a coragem suficiente para fazer um enfrentamento que é necessário. É um enfrentamento que dá vida para a Santa Casa, é um enfrentamento que enxerga uma outra Santa Casa: mais pujante, independente, prestando mais e melhores serviços. Hoje, nós não enxergamos isso porque, por muitos anos, a Santa Casa foi pano de fundo de processos eleitorais, discursos de meras retóricas, então, o nosso compromisso foi com a técnica, nós falamos sobre isso durante toda a campanha, nós estamos leais a isso e, ao mesmo tempo, no compromisso de melhorar a vida dos santanenses. Claro que isso não acontece em 25 dias.
Evaldt: Há um prazo para o fim da intervenção na Santa Casa?
Tarouco: Eu tenho quatro anos para governar esta cidade, então, ao longo destes quatro anos é o que eu desejo. O pessoal adora distorcer o que digo, é importante que a gente pontue, eu já disse isso durante a campanha, não sairemos da Santa Casa enquanto não tiver plenas condições. Nós não vamos fazer discursos apaixonados e efusivos que são meramente da profundidade de um pires.
Evaldt: A senhora falou do plano de fundo da Santa Casa. Essa semana foi marcado por inúmeras manifestações na Câmara. Como que a senhora vê tudo isso? E como está a relação Prefeitura e Câmara, Ana e vereadores?
Tarouco: Eu vou dizer que está cada um, de certa forma, fazendo seu papel. Nós reconhecemos o direito, quem trabalha quer ter o seu salário, não é isso que está em discussão. É como eu disse, qual é o prefeito que gostaria de começar os primeiros 25 dias de sua gestão já com uma greve na saúde, um setor tão importante, tão sensível… Ao mesmo tempo, eu não vi tamanhas manifestações ao longo dos anos que a Santa Casa foi sendo palco de inúmeras manifestações e que implicam e muito na situação vivida hoje. Então, é o que eu não vi nas manifestações, porque é muito fácil nós nos levantarmos com 25 dias de governo, mas, ao mesmo tempo, reconheço que estão fazendo cada um o seu papel diante da situação e a relação continua a mesma de respeito, lamento algumas manifestações que não reproduzem a realidade, mas demonstram a falta de conhecimento de alguns sobre a questão; elogio outros, mas isso é do jogo político. (…) O que eu não vi nos discursos? Eu não vi os discursos antes quando não tínhamos transparência, quando tínhamos salários atrasados de meses, quando tínhamos institutos surgindo do nada e indo pra lugar nenhum, então, isso eu não vi. A cobrança em relação ao governo é natural, esperada e absorvível porque, obviamente, em quatro anos seremos cobrados e estamos aqui pra isso.
Evaldt: Nos últimos quatro anos houve uma série de problemas na Educação do município. Estamos ingressando no quinto ano consecutivo com problemas. A prefeita tem condições de prometer que, pelo menos nos próximos anos, a população não voltará a ter problemas novamente?
Tarouco: Não. Porque o concurso é um compromisso nosso. Se ele não sair agora, seja lá pelas razões que forem, outro concurso vai acontecer. Mas aí é uma questão técnica. (…) O início das aulas o critério técnico também vai imperar. Mas eu acredito que a gente já vêm entregando soluções técnicas, já viemos dizendo e provando que esta gestão tem um compromisso com a legalidade e com a questão técnica.
Evaldt: A senhora já sabe qual é a dívida do Município?
Tarouco: Já estamos com R$ 11 milhões de restos a pagar (do governo passado), e ainda calculando. Isso foi algo trazido na questão da Santa casa, a questão do pagamento em atraso. Os salários dos servidores nós começamos a pagar com dois dias de atraso e pagamos em atraso porque, infelizmente, só conseguimos ter acesso a partir do dia 18 de janeiro, porque quando assumimos o orçamento de 2020 ainda estava em aberto. Ficamos até o 18 sem nenhum real. A realidade orçamentária do município é cruel. Felizmente estamos conseguindo fazer frente a todos os repasses em dia, mas nós temos gargalos gigantescos. Temos um Sisprem com a sua dívida atualizada passando os R$ 500 milhões.
Tarouco: Nós não conseguimos concluir os levantamentos absolutos das secretarias. A nossa realidade no parque de máquinas é ruim. Ao mesmo tempo, temos a parceria das secretarias entre si e até a parceria dos produtores rurais. Tivemos uma chuva de quase 200mm que deixou as estradas rurais em absoluta intrafegabilidade. Somos o segundo maior município em área rural. E nós não temos máquinas nem pessoal para fazer frente a isso. Ao mesmo tempo nós temos orçamento. Estamos recorrendo a outras fontes para ter um aporte financeiro que não acontece do dia para noite. Falando dessa situação, me chamou atenção que o nosso município tem apenas uma roçadeira. A minha percepção é que essa cidade, deliberadamente por alguns, vive na mais absoluta escuridão sobre a sua realidade.
Evaldt: Como a senhora avalia e quais os próximos passos com relação ao enfrentamento da Covid-19?
Tarouco: : A equação Covid em Sant’Ana do Livramento é difícil. O contágio é comunitário, então a gente acaba tendo um critério. O nosso é a Santa Casa. Se nós temos espaço para o atendimento, então abrimos um pouco mais a restrição. O nosso foco já é o Carnaval. (…) temos o compromisso é com a redução desses números. Temos uma constante modulação desses números, mas sem dúvida nenhuma o termômetro é a Santa Casa.
Evaldt: Qual a mensagem da prefeita Ana Tarouco à comunidade?
Tarouco: : A população pode ficar muito ciente de que o nosso compromisso de campanha está absolutamente intacto. Temos um governo técnico, onde a política não dita as regras e que tem um compromisso de fazer o certo, mesmo que isso doa a quem doer, inclusive a nós. Obviamente, ninguém gostaria de, no primeiro mês de governo, estar se desgastando publicamente. Nós fomos eleitos para se desgastar, fazer um governo de enfrentamento a tudo que essa cidade vinha fazendo nos últimos anos. Não é enfrentamento belicoso, afrontoso, é um enfrentamento de questões, como é a Santa Casa, a organização estrutural do Executivo. É uma mensagem de otimismo e coragem. Esta cidade requer muita coragem. Por sorte nós estamos firmes e fortes, apesar de todas as divergências a diálogos mais rumorosos.