O santanense Naudal Alves Gomes, bispo primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, está entre os líderes religiosos responsáveis por protocolar o pedido de impeachment contra o presidente da República, Jair Bolsonaro. A principal motivação do pedido é forma de condução do enfrentamento à pandemia de Covid-19.
“Como as demais igrejas cristãs, nós estabelecemos um protocolo rígido e incentivamos os membros das igrejas a seguirem, com toda atenção necessária, as recomendações da Organização Mundial da Saúde e isso, aqui no Brasil, o Ministério da Saúde procurou seguir essa linha, mas líderes do governo, inclusive o presidente, sempre motivaram ao contrário, isso provocou uma reação dos líderes da igreja”, explicou Naudal.
TRAMITAÇÃO
Além de Naudal, o documento é assinado por outras 379 pessoas, entre as quais outros bispos, pastores, padres e frades, ligadas a igrejas cristãs, incluindo católicas, anglicanas, luteranas, presbiterianas, batistas e metodistas, além de 17 movimentos cristãos.
Cabe ao presidente da Câmara decidir se aceita ou não um pedido de impeachment. O atual presidente, Rodrigo Maia (DEM), deixará o posto na próxima semana, quando será eleito o novo chefe do poder. Questionado sobre a celeridade do Congresso em analisar o pedido, o Bispo afirmou que é sempre uma incógnita. “Há processos que fluem rapidamente e há interesses de que flua, e outros processos fluem muito devagar e nem chegam a ser tocados (…)”, explicou falando sobre a expectativa do aceite. Para ele, o presidente praticou crimes de responsabilidade.
Outros 61 pedidos de impeachment já foram apresentados à Câmara, dos quais 56 estão em análise, segundo dados da Secretaria Geral da Câmara. Os demais cinco foram arquivados ou não aceitos por questões formais, sem que o mérito fosse analisado.
QUEM É NAUDAL ALVES GOMES
Natural de Sant’Ana do Livramento, Naudal Alves Gomes é membro da Paróquia Anglicana Matriz do Nazareno, onde foi batizado, confirmado e ordenado diácono. Concluiu o curso Teológico em 1979, no Seminário da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul (RS); foi professor de História e Geografia em 1982, na Pontifícia Universidade Católica do RS; em Livramento também atuou como professor na Escola Rivadávia Correa e como diretor do Instituto Livramento em época de transição.
Foi pároco nas cidades de Bagé, Santa Maria, onde foi eleito bispo auxiliar, no início dos anos 2000. Em 2003 foi eleito para a diocese missionária do Paraná, com sede em Curitiba, onde ele está desde então. Em 2018 foi eleito bispo primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
ARGUMENTOS
No documento de 74 páginas, os autores afirmam que houve omissões do presidente durante a pandemia. Para eles, essas omissões são crimes de responsabilidade contra a probidade da administração.
“Bolsonaro atuou contra recomendações de autoridades sanitárias, desrespeitou regras de obrigatoriedade de uso de máscaras, promoveu e estimulou aglomerações, colocou em dúvida a eficácia e promoveu obstáculos à aquisição de vacinas, fez campanha pelo uso de medicamentos e tratamentos não corroborados pela comunidade científica, o que resultou, entre outras consequências, na pressão do Ministério da Saúde para uso dos medicamentos sem eficácia comprovada em Manaus ao mesmo tempo em que se esgotava o estoque de oxigênio na cidade”, diz o documento.
Segundo os líderes, Bolsonaro “deixou de fazer o que estava obrigado como presidente” e suas ações “levaram e seguem levando a população brasileira à morte e geraram danos irreparáveis.”
O pedido protocolado cita a lei 1.079, de 1950, que define os crimes de responsabilidade de presidentes da República.