qui, 21 de novembro de 2024

Variedades Digital | 16 e 17.11.24

MARTIN SCORSESE EM: OS BONS COMPANHEIROS

Meu primeiro texto para 2021 passou por algumas reflexões. Inicialmente queria um filme que representasse minhas esperanças e expectativas para o ano que se inicia, mas percebi que quando se deposita muitas expectativas em algo, o que ocorre é que transferimos nossos anseios e responsabilidades para outro lugar. Isso é um erro, pois o que precisamos é tomar as rédeas da situação, estar verdadeiramente sob a posse do que deve ser feito para atingir às expectativas que criamos e tanto desejamos. Pensei que deveria falar, talvez, de algum aspecto mais técnico ou histórico do cinema, de forma a passar uma ideia imparcial, mas também não é o que eu desejo. Quero que o primeiro texto desse ano seja especial, mas não por uma razão específica, somente por ser o que é: o primeiro texto da coluna 35mm em 2021. Então vamos a um dos meus filmes favoritos.

Não é segredo, nem haveria razão para ser, que eu sou um grande admirador do trabalho de Martin Scorsese. Com toda a certeza, um dos melhores diretores americanos de todos os tempos. Já escrevi sobre ele nesta coluna e no futuro escreverei novamente. Já destaquei sua forma de conduzir seus filmes e como isso é fascinante pra mim e como me impacta. Posso falar sobre diversos filmes de sua longa carreira, mas este trata-se do melhor deles, na minha opinião. Os Bons Companheiros. Esse é um daqueles filmes que apontar qualquer destaque específico como atuação, fotografia, trilha sonora, roteiro, não será justo, pois tudo no filme é equilibrado para passar uma ideia específica e tudo é muito bem feito. Scorsese conduz sua narrativa muito bem controlada, mesmo com instantes, por mais incrível que pareça, que não foram planejados anteriormente.

O filme conta a história de um jovem que sempre sonhou em ser um gângster (Ray Liotta) que se envolve com mafiosos (Robert DeNiro e Joe Pesci) para alcançar seu objetivo. À medida em que o filme avança somos introduzidos ao cruel mundo do crime e nos é mostrado como ascensão e queda, nesse meio, ocorrem das mais inesperadas maneiras. Cada escolha de Scorsese em contar essa história é importante e significativa, mesmo os improvisos. Em determinada cena, Joe Pesci contou à Scorsese uma história que ele acreditava que funcionaria para determinado momento do filme. A cena que não estava no roteiro e fora improvisada por Joe Pesci se tornou uma das melhores cenas do filme e possivelmente por conta dela o ator venceu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante daquele ano. A cena não é apenas um marco do filme, mas do cinema em si e somente fora possível pela “liberdade controlada” que Scorsese comanda seus atores.

De todos os elogios que poderia fazer a este grande diretor e amante do cinema, acredito que poucos realmente fariam jus ao seu trabalho. Scorsese coloca corpo e alma em seus filmes e consegue transmitir uma aura única. Como já disse em outras oportunidades, melhor do que contar uma boa história é a forma como ela é contada e esse diretor faz escolhas específicas dessa forma que são impressionantes. Mesmo nesse filme, onde basicamente todos os personagens principais são cruéis, são bandidos, são mafiosos, Scorsese consegue nos aproximar deles e criar uma certa empatia. Não porque concordamos com o que fazem, nem que de alguma forma se justifica, mas porque o filme nos mostra que esses personagens são pessoas, que tem família, que tem religião, que se reúnem para confraternizar, que estão sempre apoiando umas às outras, e nisso há uma “quebra” de perspectiva que nos faz refletir. Os Bons Companheiros é um filme que deve ser apreciado nos seus detalhes, que deve ser visto quantas vezes possíveis e que será lembrado na história como um dos melhores filmes já feitos.

Notícias do dia por Germano Rigotto

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