“Este foi um ano de grandes desafios para o produtor gaúcho, mas devemos aprender com o passado para projetar o futuro”, destacou o secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho.
O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, acredita que a pandemia testou a capacidade do setor agropecuário brasileiro em manter o abastecimento dos mercados. “Mas não só conseguimos manter os mercados abastecidos como cobrimos um aumento de 20% do consumo da população, além de um aumento de participação nos mercados internacionais”, enumerou. Para ele, a principal preocupação no pós-pandemia será a recuperação econômica sem o aporte do auxílio emergencial, que injetou mais de R$ 300 bilhões.
Setor arrozeiro: cautelosamente otimista
O diretor técnico do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Ivo Mello, explicou que um conjunto de fatores contribuiu para que o 2020 dos produtores orizícolas fosse diferente. “Tivemos uma safra com a menor área nos últimos 10 anos, pelos custos elevados de produção e pouco retorno. Mas o consumo interno aumentou por causa da pandemia e, além disso, exportadores de arroz pararam de vender no mercado internacional. O Brasil conseguiu ampliar as exportações por causa disso”, contou.
O pós-pandemia para o setor arrozeiro, de acordo com Ivo, será de otimismo cauteloso, com a intenção de semeadura projetando um aumento de 5% na área cultivada da próxima safra. “Os produtores não querem apostar muito pois já vivenciaram períodos de alta como esse. Eles querem investir na melhoria genética do arroz para poder lucrar mais e esperam uma rentabilidade a partir do patamar de R$ 60 a R$ 65, o que seria um cenário bastante promissor para o setor arrozeiro. O mercado internacional seguirá sendo uma opção”, finalizou.
Agro puxa economia
O professor Felippe Serigati, do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, apresentou dados sobre a recuperação econômica no Brasil no pós-pandemia, em que o setor agropecuário foi o único com variação positiva. “A variação projetada do PIB para 2020 no Agro é de 1,9%, e em 2021 será de 2,5%”, disse.
Segundo o professor, a agroindústria já voltou para o patamar pré-crise. São considerados produção agroindustrial os insumos agrícolas, alimentos, bebidas, têxtil, biocombustível, papel, entre outros. “A greve dos caminhoneiros em 2018 atingiu mais fortemente este segmento do que a pandemia”, exemplificou.
Porém, no âmbito geral, a recuperação econômica não é homogênea. “Comércio varejista e indústria estão recuperando, mas no setor de serviços a recuperação está mais lenta. O setor de serviços é o que gera a maior fração dos postos de trabalho e a maior fração do PIB”. Para o professor, o principal desafio será manter as taxas de recuperação econômica quando o auxílio emergencial for retirado .
Mudanças de comportamento vieram para ficar
A superintendente técnica adjunta da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Natália Fernandes, destacou que a pandemia de Covid-19 trouxe novos hábitos, para produtores e consumidores – e muitas dessas mudanças podem ter vindo para ficar.
“Com a pandemia, as pessoas passaram a comprar mais alimentos básicos e saudáveis. Já os produtores rurais começaram a utilizar mais os canais digitais como ferramenta na compra de insumos e comercialização de sua própria produção. Serviu como um catalisador para o processo de revolução digital no campo”, avaliou.
O momento também expôs uma carência estrutural, em que mais de 70% dos estabelecimentos rurais no Brasil não têm conectividade. “Investimentos serão fundamentais para aumentar essa cobertura”, frisou.
Exportações de carne para novos mercados
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Camardelli, pontuou que o fato de a pecuária ter sido declarada como uma atividade essencial manteve o ritmo de produção. A expectativa para 2021 é que haja a ampliação de mercados internacionais, principalmente com o reconhecimento do Rio Grande do Sul como zona livre de febre aftosa sem vacinação.
“O Brasil não tem acesso a cerca de 40% do mercado mundial de carnes, e alguns dos entraves são barreiras sanitárias. Estes mercados pagam muito bem pela tonelada, como Japão e Coreia do Sul. A tendência é ampliarmos o espaço e fortalecermos nossas ligações com parceiros comerciais tradicionais, como China e Estados Unidos”, concluiu.