seg, 20 de janeiro de 2025

Variedades Digital | 18 e 19.01.25

Psicóloga fala sobre relacionamentos abusivos e suas consequências

Ana Paula Safons diz que o abuso torna-se um ciclo perigoso

Em um período menor do que dez dias, a Fronteira da Paz registrou dois casos de feminicídio. No dia 8 de junho, uma mulher de 56 anos foi morta a tiros pelo companheiro no bairro Villa Sara, em Rivera. Após a ação, o homem ainda atentou contra a própria vida, foi socorrido e morreu dias depois em decorrência dos ferimentos. De acordo com informações arrecadadas ainda no local com amigos e familiares da vítima, a motivação do crime teria sido o término do relacionamento.

Já no dia 15, foi a vez de Sant’Ana do Livramento registrar o seu primeiro caso de feminicídio de 2020. Mariana Ivanovich, de 37 anos, foi encontrada morta no quarto de um hotel onde morava com o seu companheiro no centro da cidade. O laudo pericial mostra que, antes de ser morta, Mariana teria sido brutalmente agredida. As autoridades ainda investigam o caso, mas Omar Mendoza, de 55 anos, companheiro de Mariana e o único suspeito, até o momento, já está preso preventivamente.

Frente a isso, a necessidade de identificar e saber como lidar com uma relação abusiva aumenta cada vez mais, para isso, o jornal A Plateia ouviu a psicóloga Ana Paula Safons. A psicóloga explica que o relacionamento abusivo caracteriza-se quando uma pessoa exerce um poder excessivo em relação ao seu companheiro. “De início, a vítima começa a acreditar que o outro faz isso porque o ama, sente ciúmes, só que não é isso. (O abusador) é uma pessoa que é extremamente man
ipuladora, por isso ela precisa afastar o outro das pessoas que estão de fora da relação, porque a pessoa de fora consegue enxergar e ter um olhar que a vítima não tem”.
Ana Paula diz, ainda, que essa relação abusiva pode ser dividida em três fases. “Na primeira fase, ela (a vítima) não se dá conta porque é um abuso verbal e ela acredita que ela é culpada pelo parceiro dizer coisas. (Mas) não tem agressões físicas. Na segunda fase, já ocorre violência física. A vítima começa a se dar conta que está em relacionamento abusivo e pede ajuda. Na terceira fase o companheiro vê que está perdendo o controle e jura que não se repete e a pessoa perdoa”.

Sobre essas fases, a psicóloga alerta que elas funcionam como um ciclo e, com certeza, continuarão a se repetir. “Toda a vez que a mulher passa por esse ciclo cada vez mais ela fica fragilizada psicologicamente e desacreditada de si mesma”, observa.

Perguntada sobre o que leva uma pessoa a continuar em uma relação abusiva, Ana Paula explica que a criação e o meio em que vivemos influencia muito na normalização desses comportamentos. “A gente cresce em uma sociedade extremamente machista e ela continua sendo machista […] muitas pessoas têm muita dificuldade até de contar que sofre violência por vivermos em uma sociedade que acaba mascarando essa violência e transformando em algo desejável”.

Essa normalização, apontada pela psicóloga, se dá através de novelas, filmes, livros, onde o abuso, ciúmes excessivos e outros comportamentos tóxicos são romantizados e expostos de forma positiva para o público. Ana Paula ainda falou sobre o porquê de as vítimas continuarem em uma relação abusiva, mesmo sofrendo tanto. “Muitas cresceram em lares disfuncionais, onde acontecia esse tipo de violência, então elas acreditam que aquilo é normal. Outras, dependem financeiramente ou afetivamente do abusador”.

Entretanto, é possível e necessário romper esse ciclo, para isso, a psicóloga alerta para a importância de buscar apoio de uma terceira pessoa, um amigo, familiar, alguém de confiança. Além dessa pessoa, a saída mais segura é buscar o apoio de um profissional da área de psicologia que possa oferecer o suporte necessário para a vítima. Ana Paula lembra ainda da Central de Atendimento à Mulher, que funciona através do teleatendimento no número 180. “Vizinhos, amigos e familiares também podem ligar para a polícia, diante desse tipo de situação. O amor pode nos fazer muito bem, contudo na mesma proporção ele pode ser prejudicial se não for vivido de uma forma saudável”, pontua.

Murilo Alves
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