Omar Mendoza está preso, preventivamente, desde o dia 15 de junho
O caso de Mariana Ivanovich, primeiro feminicídio do ano de 2020 em Sant’Ana do Livramento, ganhou uma nova atualização. O acusado pelo crime, Omar Mendoza foi preso em flagrante na tarde do último dia 15, apenas algumas horas após o crime ter sido constatado.
Cumprindo prisão preventiva na Penitenciária Estadual de Sant’Ana do Livramento (PESL), Mendoza novamente prestou seus esclarecimentos às autoridades policiais, como relata o seu advogado de defesa, Richard Noguera. “Basicamente reprisou os esclarecimentos vertidos desde o início. A versão dele é uma versão só”.
Na oportunidade, o homem de 55 anos também foi questionado se seria voluntário para a coleta de material genético para a perícia. “Ele (o acusado) respondeu que sim. Ele é o mais interessado em que essas coisas sejam esclarecidas”, explica o advogado.
As informações foram repassadas pelo jurista durante uma entrevista ao programa Boa Tarde Cidade, da RCC FM (95.3), nessa terça-feira (23). Sobre o posicionamento adotado pela defesa diante das circunstâncias, Nogueira disse que a palavra de ordem é respeito. “A palavra da defesa não poderia ser diferente. A defesa sempre presa e trabalha com o devido respeito a todas as partes envolvidas no caso e esse é o principal esclarecimento […] no momento em que estamos vivendo”, pontua.
No dia em que o crime ocorreu, as autoridades foram até o local, um hotel localizado na rua Uruguai, onde alguns moradores do estabelecimento foram ouvidos e relataram ter ouvido discussões e alguns gritos ao longo do final de semana que precedeu a morte de Mariana. Sobre o depoimento dos vizinhos, que foi considerado fundamental para o pedido de prisão preventiva de Mendoza, o advogado de defesa diz não encontrar respaldo suficiente. “Nós respeitamos o posicionamento da autoridade policial […] mas o nosso posicionamento, desde a defesa, é discordando com isso […] são informações isoladas, que não têm um respaldo probatório suficiente”.
Em sua versão, Mendoza disse que sua companheira teria saído sozinha no meio da noite e retornado ao hotel horas depois já lesionada, enquanto o companheiro dormia. Ainda de acordo com o acusado, ele só percebeu que a esposa estava machucada quando foi acordado por seus gemidos de dor.
Na entrevista, relembrando a versão apresentada pelo companheiro da vítima, o advogado de defesa foi perguntado sobre o motivo de Mendoza não ter comunicado às autoridades sobre a suposta agressão que Mariana teria sofrido na rua. “Houve uma resposta a respeito disso, tem a ver muito com questões culturais da etnia que ambos pertenciam, ele pertence e isso vai ser aprofundado no decurso da investigação. […] O relacionamento deles era tranquilo […] viviam muito bem”, explicou Noguera.
Questionado sobre qual seria essa questão cultural que levou Mendoza a não registrar as agressões sofridas pela esposa em via pública, o advogado de defesa disse: “Nós preferimos, neste momento, silenciar em relação a isso”.
UM DOS CASOS MAIS CHOCANTES
A delegada responsável pelo caso, Giovana Müller, disse que o feminicídio de Mariana Ivanovich foi um dos casos mais chocantes de sua carreira. “Nós apuramos que ela acabou ficando em cárcere privado uns seis dias no hotel”, comenta. Segundo o laudo necroscópico, a vítima apresentava lesões de desde sete dias antes de sua morte, no dia 15.
Desta forma, Mendoza também foi indiciado por lesão corporal no âmbito da violência doméstica e pelo cárcere privado. A investigação aponta que o que efetivamente causou a morte de Mariana foram as repetidas agressões e a falta de qualquer tipo de socorro médico. “Ela sofreu muito. Foi um sofrimento atroz, de uma maneira sádica. Demonstrou toda uma violência, uma agressividade e quando ele chamou o socorro, ela já estava morta, no mínimo, há 4 horas. Isso ficou comprovado por laudo”, destaca.
Giovana diz ainda que, em depoimento, o acusado negou o crime e alegou que Mariana se prostituía. “Nós ouvimos muitas testemunhas. Ele disse que ela fazia programa em determinado hotel, nós ouvimos os funcionários desse hotel dizendo que ela nunca esteve naquele local. Ele tentou colocar a culpa em um suposto cliente. Isso nós demonstramos que não aconteceu. Não existe uma terceira pessoa que tivesse tido contato com a vítima. Ele tentou justificar isso humilhando ainda mais essa companheira”, explica.
A comissária informou que o inquérito já foi entregue ao Ministério Público (MP), que posteriormente deve apresentar a denúncia para que tenha início a ação penal. Ainda de acordo com a delegada a vítima era agredida constantemente, mas nunca tinha feito denúncias formais.
Desta forma, Giovana também estende o alerta para as mulheres que se sentem ameaçadas por seus companheiros e também observou o cuidado que se deve ter com as relações virtuais, visto que o casal se conheceu através das redes sociais. “É importante chamar a atenção para as mulheres principalmente nesse período de pandemia. Tenham cuidado com esse tipo de relacionamento”.
Além disso, Giovana citou a passeata realizada por movimentos feministas um dia após o crime questionando a omissão dos vizinhos. “Qualquer um pode e deve fazer denúncias através do 180, 190, 197. Todos esses canais estão disponíveis. A denúncia é muito importante porque evita que se siga com a agressão”, afirma.
Antes de encerrar a sua fala, a delegada ainda manifestou a importância de que as vítimas procurem ajuda. “Essas mulheres que estão sendo vítimas, que elas não se calem. Tem uma rede de proteção. Ela tem que saber que quando ela procura, ela é atendida. As pessoas têm que denunciar, mas a mulher também tem que entender que tudo tem um limite”.
Em nota, a defesa da vítima, composta pelos advogados Vitor Hugo Argiles, Luis Eduardo D’Ávila e Gustavo Kasprus, afirma ter plena confiança no trabalho das autoridades responsáveis pelo caso e repudia a versão apresentada pelo acusado de que Mariana se prostituía. “É sempre reprovável qualquer pretensão de legitimar um ato de violência a partir do comportamento da vítima. Mais ainda, quando isso é realizado em desprestígio de seu gênero”, manifesta o documento.
Murilo Alves
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