Marido de 55 anos é preso poucas horas depois
A edição anterior do jornal A Plateia, publicada no dia 13 de junho, trouxe em suas páginas uma reportagem onde a professora universitária Cassiane da Costa, autora de um estudo sobre a violência contra mulheres e meninas em Sant’Ana do Livramento e Rivera, alertava sobre o altos índices de denúncias de tentativas de feminicídio.
De acordo com o levantamento feito pela professora durante o estudo, só no ano passado foram 13 ocorrências deste tipo. “Nós só não tivemos um feminicídio por sorte”, observou Cassiane. Entretanto, nesta segunda-feira (15), essa sorte, infelizmente, parece ter chegado ao fim. Isto porque Mariana Ivanovich, de 37 anos, foi encontrada morta com sinais de violência em um hotel onde morava na área central da cidade.
Em um primeiro momento, a Brigada Militar (BM) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foram acionados pelo seu companheiro, um homem de 55 anos, para prestar socorro à vítima. Ao chegarem no local, próximo das 9h da manhã, as autoridades já encontraram a mulher sem vida.
O setor de investigações da Polícia Civil também compareceu ao local para colher as evidências e elucidar o caso. O homem, o único suspeito, foi conduzido até a 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) para prestar o seu depoimento. A versão apresentada por ele era de que Mariana havia deixado o hotel onde moravam na rua Uruguai no meio da noite e retornado horas depois enquanto ele estava dormindo.
Ainda segundo o, até então, suspeito, foram os gemidos de dor da vítima que o despertaram e só então ele constatou os ferimentos da companheira, que disse ter se envolvido em uma discussão em via pública. Mas, após ouvir outros moradores do hotel, a delegada Giovana Müller, responsável pelo caso, resolveu dar voz de prisão ao homem.
Em depoimento, os vizinhos do casal relataram ter ouvido barulhos e gritos vindos do quarto do casal durante a noite. “Os elementos das testemunhas e do crime levaram a que a gente chegasse à conclusão que o companheiro foi o autor. Ele, provavelmente, manteve a vítima todo o fim de semana dentro do quarto de hotel. Ela estava com inúmeras lesões no corpo”, explicou a delegada Giovana Müller.
O indivíduo foi preso em flagrante no início da tarde e encaminhado à Penitenciária Estadual de Sant’Ana do Livramento (PESL). Vale destacar que este foi o 1° feminicídio de 2020 em Livramento e o 9° crime contra a vida registrado. Segundo Giovana Müller, desde 2014 o município não registrava tantos assassinatos. “Nenhum deles é relacionado ao tráfico de entorpecentes, o que é uma situação diferente, mas todos estão com autoria apurada”, pontuou.
O SILÊNCIO TAMBÉM MATA
Na terça-feira (16), um dia depois o crime, um grupo de 12 mulheres foi até a frente do hotel onde o casal residia para protestar. Com o apoio de um carro de som e empunhando faixas com pedidos de justiça, o grupo pedia o fim da violência contra as mulheres. Além disso, na oportunidade, as manifestantes também repudiaram a omissão dos vizinhos que, de acordo com o grupo, ouviram as agressões sofridas pela mulher durante o fim de semana e não acionaram a Brigada Militar. Um dos cartazes trazia a frase “o silêncio também mata”.
Pouco tempo depois, acionados pelos moradores do hotel, a BM, os agentes da Secretaria Municipal de Trânsito Transporte e Mobilidade Urbana (SMTTMU) e os servidores da Fiscalização da Secretaria da Fazenda chegaram no local para pedir o fim da ação que, segundo eles, estava gerando aglomeração e bloqueando o trânsito no local.
Murilo Alves
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