Só em 2019, foram registradas 13 tentativas de feminicídio
Nesta semana um crime bárbaro chocou a fronteira. Um homem, após não aceitar o fim do relacionamento, botou fim na vida de sua companheira de 56 anos e, também com um disparo de arma de fogo, tentou cometer suicídio. O caso aconteceu na última segunda-feira (8) no bairro Villa Sara, em Rivera, e está disponível nesta edição de A Plateia En Español.
O crime colocou em pauta um tema que, embora tenha recebido recentemente a nomenclatura de feminicídio, já é um problema antigo e bastante presente, tanto no Brasil quanto no Uruguai.
O tema foi levado até a bancada do programa Conversa de Fim de Tarde, que contava com a participação do 1° Promotor de Justiça da Promotoria de Justiça Criminal de Sant’Ana do Livramento, José Eduardo Gonçalves, e também da professora do curso de agronomia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Cassiane da Costa.
Autora de um trabalho acadêmico que trata sobre a violência contra mulheres e meninas na Fronteira da Paz, Cassiane trouxe números para comprovar a importância do debate. “Eu fiz uma comparação com os dados do Rio Grande do Sul. Pegando o número de mulheres que temos aqui e fazendo uma relação com o número de mulheres que nós temos no Estado, (os casos de violência) são bem mais intensos aqui em Livramento do que no resto do Estado”, comenta.
Ainda de acordo com o levantamento feito pela professora, desde 2017 o índice de denúncias por lesão têm diminuído, mas em compensação, o de tentativas de feminicídio tem subido. “Em 2019 foram 13 tentativas de feminicídio somente em Livramento. Nós só não tivemos um feminicídio foi por sorte. […] Em Rivera, foram 1290 denúncias. Em 2020, até o mês passado foram 450 denúncias e 33 homens sendo monitorados por tornozeleira eletrônica”, completa.
Antes de encerrar a sua participação, Cassiane destacou a importância da imprensa atribuir a nomenclatura correta para o crime e lamentou o ocorrido em Rivera. “Infelizmente, os dados são tristes e essa é apenas a ponta do iceberg porque muitos casos não são denunciados. É importante que os meios de comunicação deem o nome certo, é feminicídio porque é uma morte que ocorreu por razão de gênero dentro de uma relação. Estamos muito tristes com essa notícia […] aqui em Rivera. Isso abala todas nós porque o feminicídio é o ápice de um ciclo de violência”, pontua.
Quanto à lei, o Promotor salienta que a pandemia tornou os casos de violência contra a mulher mais corriqueiros, não só na região, mas também em todo o Estado. “Nós estamos vendo feminicídios em sequência no estado inteiro. […] Isso nós temos que ter um controle. Me parece que através da justiça restaurativa (que) pretendo, neste ano, estabelecer aqui em Sant’Ana do Livramento, já que trabalho na área e com as entidades que estão em volta disso porque na verdade essas agressões estão terminando em morte”, pondera.
Gonçalves também falou sobre um dos fatores predominantes que podem ajudar a explicar o aumento no número de casos. “Isso é um problema gravíssimo porque é um problema no seio de família e relação é algo espantoso da mulher ser propriedade do homem, dos filhos serem propriedades do homem (que é) machista, provedor, enfim, traz uma violência maior no interior dessas casas. Vivemos em um conjunto onde o machismo impera”, lamenta.
Murilo Alves
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