Conheça a história e a tradição dos homens e mulheres que fazem o patrulhamento a cavalo pelas ruas da cidade
Pé firme no estribo, rédea segura na mão, olhar fixo no horizonte para mais um dia de trabalho. Até parece o início de algum poema e bem que poderia ser. Mas essa é uma cena corriqueira vista nas cocheiras do Quartel do 2ºRPMon da Brigada Militar. Local onde o homem e o cavalo e a sua história milenar fazem todo o sentido por sua importância histórica e cultural de formação das sociedades modernas.
Muito mais que um simples trabalho, os policiais do Pelotão Hipo da Brigada Militar carregam nos seus arreios e no lombo de seus cavalos um legado da simbiose entre homem e cavalo e a mística do centauro do pampa. Uma frase atribuída ao herói de dois mundos, o italiano Giuseppe Garibaldi, que lutou em várias guerras, inclusive na Revolução Farroupilha e na Europa, está escrita nas paredes grossas e antigas do quartel e sintetiza a importância deste legado. “Dai-me a cavalaria gaúcha, que eu conquistarei o mundo”.
O herói farroupilha ainda descreve a tropa gaúcha em suas memórias como valentes e cavaleiros brilhantes. “Eu vi corpos de tropas mais numerosas, batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações”. Esse legado, hoje, é carregado pelo policial que faz parte do Pelotão Hipo da Brigada Militar.
História
No ano de 1913, o comandante-geral da Brigada Militar, Coronel Cypriano da Costa Ferreira, propôs a criação, em sua terra natal, de um Regimento de Cavalaria para vigiar a área de Fronteira. Assim, através do decreto nº 1931, o Presidente Antônio Augusto Borges de Medeiros autorizou a criação do 2º Regimento de Cavalaria.
No ano de 1974, mais precisamente em 13 de agosto, o governo do Estado do Rio Grande do Sul assinou o decreto n˚ 23.246, o qual modificou a estrutura, a organização e a denominação de Unidades e determinou outras providências para a Instituição. A partir daquele momento, o “Regimento Coronel Juvêncio” passou a denominar-se 2º Regimento de Polícia Montada (2˚ RPMon). O 2º Regimento de Polícia Montada de Sant’Ana do Livramento (2º RPMon) completou 107 anos, no dia 4 de fevereiro.
Já as instalações do Pelotão Hipo são da década de 70, no comando do Coronel Esmeraldo Fonseca Filho. As atividades desenvolvidas são o Policiamento Montado, com dois objetivos principais que é o Policiamento Ostensivo e o controle de distúrbio civis, auxiliando sobremaneira no cumprimento das missões constitucionais. O Regimento desenvolve cursos equinos, assim como representação nas competições hípicas na região. Atualmente conta com 14 policiais com suas respectivas montarias, sendo que quatro destes permanecem responsáveis pela limpeza e manutenção das instalações e dos animais, e os demais permanecem no Policiamento Montado realizado em grupos de dois ou três policiais conforme determina a doutrina do Policiamento Montado.
Sobre a interação e cuidado com os animais, o Soldado Giagomeli, que trabalha há 11 anos na Brigada Militar servindo no Pelotão Hipo, diz que cada policial tem o seu próprio cavalo de montaria sendo, hoje, 35 animais utilizados no policiamento, incluindo os animais de reserva. Durante o dia, eles ficam soltos nos potreiros do quartel e à noite vão para as cocheiras. A Brigada Militar atualmente incorporou a Raça Hípica Brasileira como padrão racial pelo seu porte altivo e docilidade, tendo inclusive em nível de Estado adquirido uma área em Itaara, na região central do Rio Grande do Sul, onde mantém um criatório da raça para servir a sua cavalaria. Os animais que já cumpriram seu tempo de serviço são vendidos em leilões para sua utilização no esporte e lazer.
O policiamento montado acontece em turnos, e por determinadas áreas de atuação de cada uma das duplas. É bastante comum ver, por exemplo, os policiais do Pelotão Hipo em praças e parques, isso porque a doutrina do policiamento montado exige um descanso para cavaleiro e cavalo de, pelo menos, 15 minutos a cada 45 minutos de patrulhamento.
E assim, dia após dia, pelas ruas de Sant’Ana do Livramento homens e mulheres montam a cavalo para reviver a nossa tradição e zelar pela segurança da sociedade como nos tempos de outrora.
Texto e fotos – Matias Moura – [email protected]