Essa tem sido a rotina dos santanenses que desejam receber os R$ 600, 00 do governo
Com a chegada do novo Coronavírus (COVID-19) no Brasil, há pouco mais de dois meses, os governos estaduais e municipais decidiram adotar algumas medidas para evitar que a doença tomasse grandes proporções. Lojas, mercados, restaurantes e demais estabelecimentos comerciais tiveram as suas atividades restritas ou suspensas. A ação visava reduzir drasticamente a circulação de pessoas pelas ruas, evitando a disseminação do vírus.
Alguns especialistas em saúde estimam que apenas em setembro a situação deva ser controlada. Além dos prejuízos à saúde da população mundial, o Covid-19 já deixa evidente o seu potencial para derrubar economias. Ao redor do mundo a preocupação é imensa no setor, fala-se até que a crise que está por vir pode superar a grande depressão de 1929, considerada a pior e mais longa recessão econômica da história.
No Brasil, o efeito dominó atingiu em cheio autônomos e trabalhadores informais. Junto com eles, um significativo número de demissões ocorreu entre março e abril. Pensando em oferecer uma alternativa a essa parcela da população, foi anunciado pelo governo federal um pacote de auxílio emergencial.
No início de março, após a aprovação no Senado, o Executivo anunciou que disponibilizaria três parcelas de R$ 600,00 para membros do Bolsa Família, integrantes do Cadastro Único, desempregados, autônomos e trabalhadores informais. Ao todo, cerca de 50 milhões de brasileiros devem ser beneficiados, o que representa 25% da população do país.
Para receber o auxílio, o candidato deve realizar a solicitação através de um aplicativo disponibilizado pelo governo. Com o cadastro feito, os dados são enviados para análise e a renda, quantidade de pessoas na mesma residência e demais informações serão os critérios utilizados para definir quem tem ou não direito ao benefício.
O usuário recebe a confirmação também através do aplicativo, entretanto, são diversas reclamações sobre a demora e a falta de resposta por falta dos operadores do sistema. Os que recebem parecer positivo, passam para uma nova etapa, quando recebem uma data e um código para realizar o saque.
Nesta fase, os problemas também continuam, são diversos os relatos de beneficiários que não conseguem acessar a conta, não obtêm resposta ou ainda, receberam a confirmação do depósito, mas não conseguem movimentar o valor. Frente a todas as dificuldades em receber o benefício, a saída é buscar assistência nas agências bancárias da Caixa Econômica Federal.
Em Sant’Ana do Livramento, filas intermináveis já viraram parte do cenário do centro da cidade. Desde o anúncio do programa, todos os dias uma imensa quantidade de pessoas vai até o local em busca de respostas. Para entender melhor as dificuldades e a diferença que o benefício vai fazer na vida dessas pessoas, o Jornal A Plateia conversou com alguns santanenses que aguardavam na fila.
Uma delas é a empregada doméstica Beatriz Fernandez, que recebeu a confirmação do governo, mas não conseguiu obter o código para realizar o saque e por isso buscou ajuda no banco. Há dois anos atuando como diarista, Beatriz conta que com a chegada da pandemia a oferta por serviços caiu muito. “Tudo parado. Se acha uma (limpeza) é muito e ainda paga pouco”, comenta. A diarista disse ainda que já buscou outra posição no mercado de trabalho, mas as oportunidades são poucas.
Morando com a filha de 13 anos, Beatriz afirma que o benefício vem em boa hora, pois as contas estão acumulando. “Tenho só uma limpeza pra fazer (sic), mal dá pra comprar as coisas. Tem que comer um dia e esperar que alguém nos ajude no outro”, lamenta.
Após perder o emprego por conta da pandemia, Carlos da Rosa conta que esperou cerca de três semanas para obter a aprovação do benefício, mas agora o problema é o aplicativo. “Não consigo acessar pra pegar o código (sic). Fica só carregando e não aparece mais nada”.
Com algumas contas acumulando, da Rosa vê o benefício como um alívio. “Vai dar um baita gás. Se não fosse isso, ia ter que ir embora da cidade, mesmo assim ia ser muito difícil procurar recursos fora daqui”, avalia.
Há quase um mês sem sair de casa, a doméstica Clemir Ramos procurou a agência da Caixa nesta terça-feira (28) porque já recebeu o benefício, mas não consegue utilizar o dinheiro. Entretanto, já na fila para acessar o banco, Clemir passou mal e acabou desmaiando enquanto esperava na fila.
Prontamente auxiliada pelas demais pessoas que aguardavam para entrar no banco, a diarista foi levada para dentro da agência onde recebeu os cuidados dos paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Já recuperada e sem conseguir solucionar o seu problema, Clemir retornou para a sua residência e disse que vai continuar tentando pelo aplicativo, pois não quer mais se submeter a longos períodos de espera.
Murilo Alves
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