Com menos gente circulando, o reflexo vem no bolso
Há poucos dias, antes de Sant’Ana do Livramento entrar no mapa das cidades atingidas pela pandemia de Coronavírus (COVID-19), era bastante comum cruzar com grande número de vendedores ambulantes apresentando ofertas bastante amplas e variadas, sendo possível comprar artesanato, alimentos, brinquedos, meias e eletrônicos.
Agora, com a publicação de decretos na esfera estadual e municipal, que restringem o funcionamento do comércio e, como consequência, o número de pessoas circulando pela cidade, o cenário mudou. A grande maioria daqueles que buscam o seu sustento nas ruas desapareceu, entretanto, alguns ainda permanecem na luta diária.
A Reportagem do jornal A Plateia recorreu as principais vias da área central para entender quais são os maiores desafios e o que mudou em suas rotinas nessas últimas semanas. Um dos que ainda permanece firme em sua missão é o vendedor de pandorgas André Ferreira.
Há 12 anos produzindo e comercializando pandorgas de todos os tipos, Ferreira conta que agora precisou mudar o seu ponto de vendas. “Vim para o lado uruguaio do Parque (Internacional). Tava lá (sic) e a prefeitura (de Livramento) pediu pra eu sair por causa do decreto”.
Com mais de uma década de experiência no ramo das pandorgas, Ferreira diz que nos anos anteriores a sua média de produção estava em torno de 350 unidades. Já em 2020, com os efeitos do COVID-19, a estimativa é de que a produção deva cair cerca de 30%, bem como o faturamento. Mesmo assim, o vendedor disse estar surpreso com o movimento. “Achei que nós ia vender muito menos (sic). Mas, de qualquer forma as pessoas vão levantar pandorga, nem que seja na frente de casa (sic)”.
Quanto às medidas adotadas para evitar a contaminação, Ferreira comenta que tem utilizado o álcool para desinfetar as mãos, principalmente após manusear dinheiro. Além disso, a preocupação também está na hora de montar o seu ponto de vendas. “Como tá vendendo a gente tá aqui (sic). A gente procura não se aglomerar, fico sozinho sempre no ponto. Tomamos cuidado porque temos família também”, observa.
A queda no movimento também afetou o guardador de carros Ivonei Martins, que diz ter que contar com a sorte para ter um faturamento bom nos últimos dias. “Antes eu fazia R$ 30,00, R$ 40,00 por dia. Agora tem dias que não sai nada. No máximo R$ 20,00 em algum final de semana”.
Há 40 anos trabalhando no largo Hugolino Andrade, Martins afirma nunca ter vivenciado uma situação parecida. Agora, frente à redução do número de colaborações, o guardador de carros comenta que a saída é economizar. “Eu fico das 8h às 19h aqui. Direto. Almoço lá de vez em quando, só quando não dá mais mesmo. Faço um lanche ou algo assim. Se não, não consigo juntar dinheiro”.
Pelo menos, momentaneamente, Martins ainda possui um valor reserva por conta de um seguro desemprego, entretanto, deve receber a última parcela neste mês, o que deve desequilibrar as finanças da família. “Minha mulher trabalha nas maçãs (sic). Eu vou uma vez por ano, quando não consigo, fico aqui. O que tá salvando (sic) é o seguro, garante pelo menos a luz e a água. O gás eu compro com o que tiro daqui”, explica.
Murilo Alves
[email protected]