UMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS
Sou uma pessoa imediatista. É agora ou se demorar não me serve, se tiver que esperar muito já mudei de ideia logo ali. Claro que impulsiva também. O que significa que posso, de novo, voltar atrás. Afinal, sou mulher …. kkkk … mudar de ideia uma prerrogativa feminina, não é?
Bem, este raio do Coronavírus está me deixando prá lá de Bagdá. Sou parte do grupo de risco. E daí, tenho que morrer algum dia, não é? Para os mais sensatos: Não, deves te resguardar. Para os mais realistas: É sim, todos vamos morrer mais cedo ou mais tarde. Estou pronta para ir para o outro plano desde os 49 anos, então… Só não quero prejudicar ninguém.
Estava em pleno meio-dia estudando, e de repente, tudo começou a passar por este cérebro, não tão calmo assim. Preciso fazer algo, ficar sentada aqui está me deixando nervosa. Música, preciso de música. Lá fui eu no meu Youtube Music (amo, adoro, tenho a minha lista mais do que personalizada). Ok. Estou ouvindo música e estudando. Não … não me serve, preciso de agito. Já sei… vou me maquiar. Lembrei dos conselhos de uma pessoa por quem tem muito carinho e respeito (sem puxão de saco, é verdade) – minha diretora Penélope charmosa, Drª Janete Badra. Fui para frente do espelho e comecei. Coloca isso, segundo a sugestão dela. Não, horrível, aparece por demais as rugas. Coloca aquilo, não, pior ainda. Não adianta, idade é idade. Daí sujei as mãos, corro ao banheiro para lavá-las, a luz é outra – voilá!!!! – naquela luz (meia-luz, é claro) eu fiquei linda! Comecei a rir e lembrei de uma ocasião, há muitos anos, no Tênis Clube.
Eu sou gêmea univitelina. Para quem não sabe o que é ser gêmeo univitelino, sou daqueles gêmeos (por favor ao dizer UM GÊMEO e dois gêmeos, não cometa o erro de dizer eu sou gêmeos, ou ele é gêmeos – irrghhhh) que são cópias quase exatas. Quando estávamos dormindo, eu e minha irmã, minha mãe precisava chamar uma das duas, ela ficava hesitando: essa ou aquela, sem saber com certeza qual era. Bom, em uma tarde de verão, como sempre, eu estava no Tênis Clube, havia acabado de sair da piscina e desci para o vestiário que tinha (acho que ainda tem) um espelho grande na parede do vestiário e na frente um banco comprido de madeira, sentei-me nele e neste meio tempo minha irmã chegou da rua e se postou atrás de mim. Naquela fração de segundo, ao invés de olhar na minha linha de horizonte, levantei levemente meu olhar, e lá estava eu, em pé, seca e vestida, mas como? Eu sabia que estava sentada, molhada e de maiô! Como podia??? Claro que só durou uma fração de segundos, mas até hoje essa imagem está em minhas lembranças, assim como ela, que jamais será esquecida, enquanto sua cópia estiver aqui, neste plano.