Coordenação da Defesa Civil explica que os prejuízos poderão ser sentidos no inverno
Há pouco mais de uma semana, a prefeita de Sant’Ana do Livramento, Mari Machado (PSB) assinou o decreto de Situação de Emergência em consequência do severo período de seca que o município enfrenta. A combinação entre as altas temperaturas dos últimos meses, com termômetros marcando mais de 40°C em alguns períodos do dia, e o baixo volume de chuvas na região são os responsáveis por prejuízos de, pelo menos, R$ 70 milhões no setor primário.
Os relatórios iniciais apontam que os produtores que cultivam milho tiveram cerca de 80% de perda nesta última safra. Já a soja, um dos carros chefe da agricultura santanense, principalmente com produção para exportação, registrou 30% de perdas nas lavouras.
Além da agricultura, a pecuária também foi atingida. De acordo com o levantamento feito pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, só a produção de leite teve uma queda de 50%. A pecuária de corte também deve ser atingida, visto que a falta de chuvas impacta diretamente na qualidade das pastagens e, por consequência, na produção de carne.
Quem aponta algumas causas para a queda de produção é o responsável pela Defesa Civil e Secretário Municipal de Planejamento, Miguel Pereira. “A primeira coisa que se sente é a diminuição das águas superficiais, então os açudes secam. […] A vaca é uma fábrica que converte pasto em leite, então ela precisa beber água limpa e precisa ter bastante comida. Essa estiagem prejudica nos dois aspectos”.
O coordenador também explicou o processo que contribui para que a água que resta nos açudes torne-se imprópria para o consumo. “O açude tem um problema. Como ele é uma lâmina d’água de pouca profundidade, ele tem muita superfície exposta ao calor, então ele evapora rápido. (A água) começa a se afastar da margem, aí o animal para chegar lá,t tem que pisotear aquele lodo, então a água vai ficando lodosa, vai ficando muito ruim e a produção de leite sente diretamente”, justifica.
Engana-se quem pensa que os impactos da seca são apenas momentâneos. Segundo o Coordenador da Defesa Civil, a falta de chuvas desencadeia efeitos negativos que serão refletidos ainda no próximo inverno. “Quem mais ficou prejudicado? O pessoal do basalto, onde tem um solo argiloso, um solo que é uma decomposição basáltica, que se chama Solo Santa Maria, tipo Escobar, que é o que a gente tem aqui, um basalto preto. Ele trinca todo, ele racha todo e some a água superficial, ou seja, a oferta de água fica muito difícil. Ali tu vai ter um problema mais grave lá na frente, no inverno. Essa falta de água hoje, reduz a oferta de pastagem nativa. Porque esse é o momento onde o pasto nativo está se recompondo”, observa.
Consequentemente, sem a abundância de massa verde, ou seja, de pastagens nativas, o gado, principalmente o de corte, que depende de um bom estado físico para que possa imprimir as suas qualidades genéticas, pode apresentar um desempenho bastante inferior. “Vamos ter uma quebra significativa na produção de terneiros porque a função reprodutiva do gado depende de uma condição especial física, então se o animal está magro, com fome, a reprodução cai. A estiagem acaba tendo um efeito prolongado aqui porque a gente depende muito do setor primário”, explica Pereira.
ALÉM DA PRODUÇÃO
Embora os prejuízos econômicos sejam grandes, os órgãos responsáveis também estão com os seus esforços voltados aos possíveis danos às pessoas. “A economia é o último item que nos interessa. Nós queremos saber se tem gente morta, ferida, desalojada, desabrigada ou gente sem abastecimento, como é o caso”, pondera o Coordenador da Defesa Civil.
Segundo o relatório oficial da Defesa Civil, a falta de água potável atinge mais de 300 pessoas que residem em 12 assentamentos e também sete escolas da rede municipal que, desde janeiro, recebem água, quase que diariamente, através de caminhões pipa.
Para isso, o município, por meio do Departamento de Água e Esgoto (DAE), envia os caminhões pipa que, a cada dois dias, percorrem longas distâncias para levar água potável para essas famílias. Para se ter uma ideia do quanto esses caminhões rodam, o relatório mostra que, apenas no mês de janeiro, os tanques percorreram mais de 4 mil km, o que representa um custo operacional de R$ 150 mil. Este valor foi gasto apenas em diesel, mas, se a situação se prolongar, os caminhões possivelmente precisarão de manutenção, o que pode representar um acréscimo nesse valor.
Uma explicação para que os caminhões tenham rodado tanto é a falta de reservatórios nessas localidades. “A água tem que ir de dois em dois dias porque eles não têm grandes espaços para armazenar, então tem que estar abastecendo reservatórios pequenos. Os grandes que eles têm são de 10 mil litros, mas o consumo de uma família é de mil litros de água por dia, 200 por pessoa. Só para lavar a louça, para comer e tomar banho”, avalia Pereira.
SITUAÇÃO
O Coordenador da Defesa Civil, Miguel Pereira, explica que a decisão de decretar a Situação de Emergência do município foi tomada com base em uma instrução normativa do Ministério da Integração Nacional. No documento, estão listados alguns itens que, somados, justificam a situação de emergência, como foi o caso de Sant’Ana do Livramento.
Feito isso, o decreto será avaliado dentro de um prazo de 20 dias na esfera estadual e federal. Caso seja reconhecido, será homologado e, a partir de então, o município passa a receber auxílio externo. A mesma comissão que julga o decreto de emergência é a responsável por definir o montante que será repassado ao município.
Murilo Alves
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