Como segue a vida de quem perdeu o pouco que tinha
Menos de 24 horas depois da passagem de um temporal, que trouxe ventos com velocidade acima dos 80km/h, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a Reportagem do jornal A Plateia foi até um dos bairros de Sant’Ana do Livramento que registrou mais estragos para conversar com alguns moradores.
Localizado em uma área de planícies descampadas, o bairro do São Paulo sofreu com as consequências provocadas pelas fortes rajadas de vento que, sem encontrar resistência, destelharam parcialmente a Escola Municipal de Ensino Fundamental Silveira Martins.
Com a ação do vento, essa estrutura proveniente da escola, acabou atingindo outras residências e provocando mais estragos por onde passou. Uma dessas casas é a de Dirceu Nunes Furtado, que conta que estava junto às cinco pessoas de sua família, entre elas um bebê de um ano e cinco meses, na hora do vendaval. “A rede (elétrica) caiu em cima (da casa). O portão também estragou. O telhado bateu aqui e pegou na casa da vizinha aí em baixo’’.
Ainda assim, Furtado comenta aliviado que ninguém ficou ferido e que os danos materiais foram, relativamente, pequenos.
Além das casas em frente à escola, moradores da rua Doroteo Aguirre, que passa ao lado, também registraram estragos em suas casas. Um dos casos mais sérios foi o de Darlene Silveira, que mora com o marido e os seis filhos pequenos em uma casa de madeira de dois cômodos.
Durante o temporal, o telhado da casa foi completamente arrancado, deixando a família inteira desabrigada. “Foi horrível. Perdi geladeira, máquina de lavar que eu tinha ganhado, sofá, roupas, cobertores. Tudo. Essa noite enrolei uma lona no colchão e dormi com ele molhado. Não tinha o que fazer’’, lamenta.
Somado a isso, Darlene, que está desempregada, fala que pensava em utilizar o dinheiro do benefício do Bolsa Família, algo em torno de R$ 200,00, para comprar algumas telhas para a casa, mas, com a iminência do início do ano letivo, vai dar prioridade para os materiais escolares para os seus filhos. “O dinheiro do Bolsa não dá pra nada. Agora vem o material para as crianças e vai tudo pra eles (sic)’’.
Após ser arrancado, o telhado da casa de Darlene atingiu uma casa vizinha à cerca de 30 metros de distância. A casa pertence a Cláudia Costa, que a divide com mais três filhos e o marido. Além do susto causado pelo barulho da chuva e do telhado da casa vizinha, a família de Cláudia ainda teve um grande prejuízo. “Quebrou todas as telhas. Nós tivemos que começar a arrumar tudo no mesmo dia”, relata.
Trabalhando como empregada doméstica, Cláudia diz que a renda é pouca e também não é garantida, ainda mais somado à situação do marido, que está desempregado. “Caiu poste de luz, o telhado, quebrou algumas telhas e umas partes do lado da casa não mexemos porque ficamos com medo de estragar mais e não ter como arrumar’’, aponta.
Outra situação que também preocupa é a do filho mais velho, que mora com a esposa e a filha de nove meses em uma casa nos fundos do terreno de Cláudia e foi ferido durante o vendaval. “Começou a chover forte e voar tudo, aí ele ficou em cima da mulher e da filha para proteger (as duas) e uma telha caiu em cima deles e cortou a testa do meu filho’’.
A esperança da família estava na ajuda do Poder Público, mas até o fechamento desta edição, Cláudia informa que ainda não havia recebido nenhum suporte.
Na casa ao lado, onde mora Jéssica Lopes, a situação é parecida. Ela conta que quando a chuva começou, estava acompanhada do marido e da filha de quatro meses. “Minha geladeira molhou, mas está funcionando. O telhado segue quebrado, se vier outra (tormenta) não sei se (a casa) vai aguentar’’, observa.
Com a situação financeira precária, o jeito foi improvisar. “Arrumaram o telhado com lona e uns pedaços de telha, mas a gente vai ter que se virar, né? Do jeito que dá. Assim não dá pra ficar’’, pontua.