Além do estresse, os ruídos e as luzes podem causar problemas cardíacos, neurológicos e até a morte
Pelo menos até o ano passado, o céu da Fronteira da Paz contava com duas grandes queimas de fogos de artifício no Natal e no Ano Novo. Isso acontecia devido ao horário de verão do Brasil que trazia a meia noite uma hora antes em relação ao país vizinho.
Em 2019, já sem a diferença de horário, as explosões foram ainda mais fortes, tendo em vista que essa queima ocorreu de forma simultânea. Mas o que, para muitos pode ser apenas mais um show de luzes e som, para outros pode ser momentos de dor e agonia.
O saldo é apresentado, geralmente, no dia seguinte, onde são bastante comuns anúncios de donos que buscam por seus animais perdidos pela cidade ou relatos de desmaios e até mortes. Isso ocorre porque pets, principalmente os cachorros, têm a audição bastante sensível, o que potencializa o ruído produzido por esses artefatos. Além do susto, essas situações podem desencadear problemas neurológicos e cardíacos nos animais. Isso sem contar os ataques de pânico e convulsões.
Cuidados com os pets
De acordo com a voluntária e Vice-Presidente da Associação Santanense de Proteção aos Animais (ASPA), Juliana Lemos, outro grande risco, além das fugas, são os enforcamentos. “Isso acontece porque muitos animais ficam atados e tentam fugir para longe do barulho. Muitas vezes acabam se enforcando ao tentar pular portões ou muros’’, alerta.
A Vice-Presidente também pede para que as pessoas que possuem animais domésticos ofereçam um local seguro para que eles possam se abrigar durante esses episódios. Para 2020 Juliana projeta: “O que a gente pede é que as pessoas tenham um pouco mais de empatia e consciência com os animais e com os outros grupos que também sofrem com esse barulho”.
Cuidados redobrados
Por falar em outros grupos, quem faz o uso desses explosivos não prejudica apenas aos animais, mas também idosos, recém nascidos, enfermos e, principalmente, pessoas com alguma condição especial.
A psicóloga Cinthya Sapundllieff (CRP 07/25939), comenta que as gestantes e as pessoas que possuem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), também são atingidos pelos efeitos sonoros dessas bombas. Isso ocorre porque, ainda de acordo com a psicóloga, essas pessoas possuem uma hipersensibilidade em relação ao barulho, por isso essas explosões são ouvidas de forma redimensionada.
Outro ponto que também pode causar danos a esse grupo são as luzes provocadas pela queima dos artefatos. “Também existe o impacto visual, as luzes muito brilhantes desequilibram o psíquico e o emocional das pessoas, em especial dos autistas’’.
A psicóloga alerta que situações como essas podem desencadear o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), que ocorre quando uma pessoa é submetida à uma situação traumática e posteriormente passa a repeti-la interna e emocionalmente.
Para minimizar o sofrimento desse grupo, Cinthya orienta: “(Deve-se) procurar isolar essa categoria de pessoas ao máximo do barulho e também colocar alguns sons e imagens relaxantes’’.
Agora é lei
Vale lembrar que o índice de feridos com esses artifícios preocupam bastante. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registra, em média, 500 acidentes por ano. Desse montante, 70% provocam queimaduras; 20% lesões, lacerações e cortes; e 10% amputações, perda da visão e também da audição.
Visando diminuir os danos às pessoas, animais e também prevenir e evitar esses acidentes e até incêndios, algumas medidas legais foram adotadas no município e no estado. A nível municipal, a lei complementar n° 66 foi sancionada em dezembro de 2018. De autoria do Vereador Danúbio Barcellos (PP), o texto proíbe a utilização de qualquer tipo de artefatos pirotécnicos, rojões e foguetes em Sant’Ana do Livramento.
Já no Rio Grande do Sul, a deputada estadual Luciana Genro (PSOL) formalizou uma proposta no mesmo sentido, que, foi aprovada no último dia 5 de novembro pela Assembleia Legislativa do estado e tornou-se a lei de número 15.366. A referida lei impõe uma multa que pode variar entre R$ 102,00 a R$ 512,00 para aqueles que utilizarem explosivos que ultrapassem os cem decibéis à distância de cem metros. O valor pode dobrar em caso de reincidência.