Produtor rural afirma ter encontrado local exato onde foi instalada a fortificação, em meados de 1800, e que serviu de ponto estratégico para as lutas demarcatórias entre as coroas Portuguesa e Espanhola
Era tempo de guerra e lutas demarcatórias na pampa selvagem que não possuía aramados. Das gadarias soltas pelos campos onde os caçadores de gado, gaudérios e bandoleiros ganhavam a vida contrabandeando gado, ora para os portugueses, ora para os espanhóis, cruzando as fronteiras marcadas pelos atropelos das guerras. Índios Charruas, Minuanos e Guaranis povoavam as matas quase virgens deste garrão de hemisfério.
Foi dentro deste cenário que, nos meados de 1800, a Coroa Portuguesa teria instituído uma fortificação intitulada Guarda do Itaquatiá, que seria uma cidadela erguida na região de divisa, hoje, entre território brasileiro e uruguaio, para defender a região dos ataques dos invasores e ladrões das gadarias que viviam soltas por essas pradarias. Muitos registros históricos dão conta de batalhas sangrentas envolvendo essa fortificação que teria sido atacada, certa vez, pelo próprio José Gervasio Artigas e suas tropas onde teria dizimado 40 homens no campo de batalha como relatam suas memórias.
Essas e outras tantas histórias dos tempos de guerras fizeram parte da infância, e da adolescência, do advogado Ari Martins, 50 anos, pois a sua família possui terras naquela mesma região onde outrora muitas peleias foram travadas. Foi, então, pela boca dos antigos quando ele ainda era guri, que ficou sabendo das histórias envolvendo as ruínas de uma antiga fortificação que teria servido de guarnição para tropas. Centenas de vezes esteve no local onde, ainda hoje, resiste ao tempo um poço profundo de aproximadamente 30 metros, cercas de pedras dentro dos matos, sinais de edificação com pedras, além de catacumbas.
Apaixonado por história, Ari conta que começou a estudar mais sobre o assunto e começou a encontrar vários registros documentados sobre a Guarda do Itaquatiá e isso lhe aguçou ainda mais a curiosidade sobre as ruínas que ficam aproximadamente a 4 km em linha reta da sede da propriedade da sua família. “A nossa família é natural do Itaquatiá, meus pais, avós e bisavós são de lá. E sempre me chamou a atenção essas ruínas, que ninguém sabia ao certo qual a sua origem, e depois que nós começamos a achar vários objetos no local e nos arredores a curiosidade ficou ainda maior”.
O advogado conta que ele e o irmão Emerson instigados, então, pelos amigos e familiares, compraram um aparelho detector de metal e começaram a fazer buscas nas antigas ruínas. Os resultados foram surpreendentes, pois foram encontrados, no local, objetos como pontas de lanças, moedas que remetem à época, patacões com o brasão da coroa, anéis e objetos de prata, ouro e bronze, botões de farda, entre outros. “Depois desses objetos que foram achados e das histórias contadas, cheguei à conclusão que o local exato da Guarda do Itaquatiá poderia ter sido instalada aqui. Inclusive, na escola, eu aprendi que a primeira povoação de Livramento foi a Guarda do Itaquatiá e até hoje não se sabe ao certo o local. Se sabe que todas as outras guardas foram instaladas ao lado de arroios com o mesmo nome, Caty, Ibirapuitã… E, aqui temos o Itaquatiá que passa bem perto das ruínas. Então, ao achar moedas dessa época de 1790 e 1814 comecei a pesquisar por mais evidências e acabei encontrando o arquivo Artigas, em Montevidéu, e este documento está muito completo com relatos do dia a dia de todas as guardas de fronteira, com todas as informações, principalmente, na guerra contra o Artigas e a luta dele contra os portugueses e espanhóis”.
Durante as pesquisas, Ari Martins encontrou no “Diccionario de la Moneda Hispanoamericana, Santiago de Chile, 1958 (V. I, pp.32-33)” fotografias com os mesmo brasões e figuras dos patacones encontrados em Sant’Ana do Livramento, mais uma evidência de que aqueles campos do Itaquatiá são um verdadeiro livro aberto contando uma história muito rica ainda por ser descoberta.
O advogado Ari Martins diz que seu único interesse em pesquisar a história, é impedir que todo esse passado não se perca, que fique registrado o máximo possível. Então, pelas evidências que a gente tem, possivelmente, aqui, neste local, pode ter sido, lá no início de 1800, a Guarda do Itaquatiá” conta.