Nesta semana a reportagem do jornal A Plateia foi até o Albergue Municipal para conhecer e contar as histórias das pessoas que utilizam o serviço prestado de forma gratuita pela Secretaria Municipal de Assistência e Inclusão Social
Eles passam o dia nas praças, perambulando pela cidade, em seus rostos as marcas de uma vida sofrida que, muitas vezes, por escolha própria ou por imposição das circunstâncias lhes foi reservada. São homens, mulheres e crianças, de todas as idades, com roupas maltrapilhas que habitualmente veem no lixo um prato de comida e fonte de subsistência, seu teto é o sol, a lua e as estrelas o seu travesseiro, um banco de praça frio ou uma marquise de prédio sua cama, e a esperança em dias melhores o seu cobertor.
Essa é a situação de muitas pessoas que vivem nas ruas ou estão em situação de rua em nosso país, que contam apenas com alguma mão amiga e a solidariedade de poucos. Muitos municípios possuem locais que servem de acolhida, as chamadas Casas de Passagem ou Albergues, que nesta época do ano ficam completamente lotados.
Nesta semana, a reportagem do Jornal A Plateia foi conhecer o trabalho da equipe da Secretaria Municipal de Assistência e Inclusão Social responsável pelo atendimento no albergue do munícipio. Criado no ano de 2014, na época sobre a coordenação de Cláudia Santana, o local serve de acolhida para os moradores de rua, pessoas em situação de rua, estrangeiros e visitantes. Funcionando todas as noites, oferece alimentação, banho e pernoite. O Albergue que hoje é de reponsabilidade do secretário de assistência social Coronel Lauro Binsfeld e coordenado por Caroline Alves Gomes, conta com uma equipe de monitores que passam a noite no local, cozinheira, motorista e assistência social.
O Albergue possui algumas normais próprias, como a proibição de ingestão de álcool ou qualquer tipo de drogas, quartos separados para homens e mulheres e uma capacidade de bem atender até 30 pessoas.
A equipe do Jornal A Plateia esteve no local, na noite de quarta-feira (5), para conhecer todo o funcionamento do albergue que fica situado na rua Salgado Filho, nº 967, e que no final deste mês será transferido para a rua Sete de Setembro onde antigamente funcionava a Secretaria do Planejamento.
Durante a visita, a equipe foi recepcionada pela monitoradora Gisele, que é responsável pelo recebimento e cadastros dos usuários do serviço. Ela também é responsável, juntamente com os motoristas da assistência, por realizar, diariamente, depois das 21 horas uma busca ativa pelos moradores de rua durante o inverno. A reportagem acompanhou esta difícil tarefa, que inclui vasculhar o interior das praças e parques, terrenos baldios e adentrar construções abandonadas. “É uma tarefa bastante difícil, mas eu sempre conto com ajuda dos motoristas ou até mesmo da Brigada Militar, em alguns casos. Porque o morador de rua escolhe lugares escuros e sem muito movimento para passar a noite, por medo de sofrer algum tipo de violência e para se abrigar do frio. Então, a gente procura por eles e oferece um lugar para passar a noite. É um trabalho cansativo, mas eu amo o que faço. Além disso, temos uma boa equipe o que ajuda bastante também” disse Gisele.
Um nigeriano na fronteira
No albergue, no dia da visita estavam, além de moradores de rua, muitos estrangeiros como cubanos, uruguaios e um nigeriano naturalizado uruguaio. Morando há oito anos na fronteira, sem residência própria Henry Julia, passa as noites no albergue e comenta que veio para o Brasil em busca de trabalho. “Sou da Nigéria. Mas gostaria de dizer que todo mundo que vive no albergue precisa de muita ajuda, de trabalho, de segurança e muitas outras coisas. Porque muita gente não tem roupa, por exemplo, porque não tem um trabalho. Eu penso que todas essas pessoas precisam de uma grande ajuda do próprio presidente para que haja mais investimentos do governo nestes locais e a gente possam viver em paz. Ou até mesmo outras instituições para nos ajudar a conseguir um trabalho, eu tenho trabalho. Mas muitos aqui não têm dinheiro nem para almoçar no outro dia. Todo mundo fala que o presidente é cristão, então peço ele que mande ajuda para todos os albergues do Brasil”
Conhecendo a realidade das ruas
Outro usuário do albergue é o santanense Leonardo Rodrigues dos Santos, que há quatro anos perdeu sua mãe e entrou em profunda depressão indo parar nas ruas, passando por tratamento junto ao CRAS. Com o olhar parado e distante, o jovem Leonardo conta que depois que perdeu sua maior referência também perdeu o sentido da vida. “Sou filho da finada Geneci e todo mundo me conhece. Depois que ela morreu, meus irmãos acabaram se envolvendo com más companhias e cada um pegou um rumo diferente. Eu trabalho como cuidador de carros, pois quero uma vida diferente e o que eu passei, quero esquecer. Tive dois anos na FEBEM em Uruguaiana (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente). Peço apenas uma oportunidade para mudar de vida. Para mim e pra todos aqui. Tenho três filhos e para mim o albergue é uma casa porque todo mundo é muito bem atendido. Temos aqui uma boa comida, café e janta, mas precisamos de uma oportunidade. Muita gente não gosta dos moradores do albergue, mas as pessoas têm que entender que existe o respeito, e é só isso que nós queremos” desabafou.
Em busca de uma nova oportunidade
Enquanto aguardava na fila para tomar banho, o joven Sander, de 24 anos contou um pouco da sua história. Assim como o caso de Leonardo, ele foi parar nas ruas depois que perdeu a mãe. Para Sander, hoje a sua família são os companheiros do albergue com quem divide as histórias do seu dia a dia. “Aqui é minha casa, o que eu mais gosto aqui é que posso dormir ao invés de ficar na rua. Faz três anos que moro aqui e eles são meus irmãos, a minha família. Hoje, trabalho vendendo meias, mas quero mudar de vida. Sinto muita saudade da minha mãe e se pudesse falar com ela, diria que amo muito ela” disse. O Albergue municipal, funciona das 16h:00 às 7h, com abertura dos portões às 19 horas. É um serviço prestado pelo CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), e atende através do telefone de plantão, número (9) 9725.6088.