Apesar dos esforços do governo federal e das secretarias de saúde em reverter a cobertura vacinal contra a gripe em crianças de até 6 anos, que nos últimos anos ficou consideravelmente abaixo da meta de 90%, este ainda é o grupo com menor percentual de vacinação no Rio Grande do Sul. Mesmo a campanha tendo iniciado mais cedo em 2019 para os pequenos, o Estado, onde um bebê de 11 meses morreu em função da doença recentemente, tem somente 61,4% das crianças vacinadas. De todo o público elegível, formado por mais 3,8 milhões de pessoas, 68,8% se vacinou, fazendo com que ainda restem cerca de 1,2 milhão.
Os dados mais recentes, da Secretaria Estadual da Saúde (SES), avaliam a imunização em 40 municípios com mais de quatro mil crianças entre 6 meses e 6 anos, o que representa quase dois terços do total no Estado. Entre as cidades com mais de 100 mil habitantes, que significam mais de 50% da população gaúcha elegível, chama atenção as da região Sul. Em Pelotas, onde há 21.141 crianças na faixa etária, 9.885 foram vacinadas, o que representa apenas 46,8%. Em Rio Grande, os dados são ainda mais preocupantes: de 14.058 crianças, 6.093 receberam a dose (43,3%).
Na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), Novo Hamburgo é a cidade mais crítica. No município do Vale dos Sinos, somente 7.627 das 16.605 crianças foram vacinadas (45,9%). Canoas, por sua vez, que tem uma população infantil elegível para a vacina de 25.303 crianças, 13,460 foram cobertas pela campanha (53,2%). Em Caxias do Sul, os números são um pouco menos graves: 64,6% (19.923) dos 30.848 pequenos foram imunizados. A situação só se mostra realmente mais positiva em municípios com menos habitantes. Em Bento Gonçalves, na Serra, as doses foram aplicadas em 79% (5.329) do total de crianças (6.742). São Borja e Parobé, com público de 4.239 e 4.076, por sua vez, até aqui cidades com maior cobertura: 80,7% (3.419) e 58,7% (3.492), respectivamente. Apesar disso, a menos de uma semana do fim da campanha, nenhum município gaúcho chegou à meta de 90%.
“Esse é o verdadeiro fenômeno de baixa cobertura”, explica a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri. Ela afirma que o Estado vem trabalhando com municípios para reforçar a importância da vacinação entre os mais jovens. Nessa reta final, segundo ela, a secretária Arita Bergmann tem feito interlocução direta com os gestores municipais. Ainda de acordo com ela, a campanha está marcada para terminar no dia 31. Porém, sempre que a mobilização chega ao fim, os estados avaliam a situação e, se necessário, estudam uma nova estratégia.
Ela explica que a baixa adesão de crianças tem sido registrada nos últimos anos. Nesse sentido, o trabalho é de desmistificar as causas que a vigilância acredita serem as principais que levam aos números insatisfatórios. Segundo a chefe da divisão, muitos pais têm receio de levar os filhos para se vacinarem quando eles estão utilizando algum antibiótico para curar uma infecção. O medo é de que a vacina possa prejudicar ainda mais a imunidade, o que, na verdade, é uma falsa contraindicação. Tani explica que os tratamentos com antibióticos podem ser longos e que não há necessidade de esperar para prevenir também a gripe. Outros receios que podem levar à baixa cobertura são os de se vacinar quando se está com algum quadro alérgico ou um resfriado, que também são falsas contra indicações. De acordo com ela, o único motivo que deve levar a reagendar a vacinação é um quadro de febre.
Além das crianças, chama atenção a baixa cobertura entre as gestantes. Esse grupo também teve a campanha iniciada mais cedo em função dos percentuais nos anos anteriores. Apesar disso, somente 62,9% das gestantes no Rio Grande do Sul se vacinaram. Entre os doentes crônicos, por sua vez, somente 52,8% se imunizaram. O grupo com maior cobertura até aqui é o dos idosos, que chegou a 80,4% e deve atingir os 90% até o final da campanha. A chefe da Divisão comenta que este público mostra que é possível reverter baixas adesões. Anos atrás, muitos idosos tinham receio da vacina e não eram imunizados. Com informação correta, foi possível modificar o quadro.
Entre todos os grupos, o dos indígenas ultrapassou os 100% de cobertura, porque a ação foi maior do que a prevista. Em Porto Alegre, até agora cerca de 370 mil pessoas foram vacinadas contra a gripe, mas os números e preocupações são semelhantes às do restante do Rio Grande do Sul. Na Capital, somente 49.356 doses foram aplicadas para um total de 90.391 crianças, o que corresponde a 54,6%. Em relação às gestantes, a cobertura é de 47,6% e para pessoas com comorbidades chega a 47%. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o atendimento de urgência e emergência da cidade, que está lotado, tem reflexo nessa baixa cobertura, já que grande parte dos casos tem sido atrelada a doenças respiratórias.
Fonte: Correio do Povo