sex, 29 de novembro de 2024

Variedades Digital | 23 e 24.11.24

Diferenças sociais no Brasil, violência, pena de morte e desigualdade entre as classes foram temas centrais da palestra de Caco Barcellos na fronteira

Repórter esteve falando sobre sua vida profisisonal e a experiência de mais de 40 anos no Jornalismo: Foto : Matias Moura

Para ficar na memória. Assim pode ser definida a noite de sábado dia 16 de Março quando a  InnovareAcademy em parceria com AmbraCollege, Atenas College e Unibratec promoveram uma noite de palestras na Fronteira. O palco escolhido para sediar o evento foi o Teatro Municipal de Rivera que ficou completamente lotado.

O Primeiro palestrante da noite foi o Juiz Federal da Segunda Vara de Santana do Livramento, Rafael Wolff, que falou sobre a “Metodologia da Pesquisa Jurídica na interdisciplinariedade: No século XXI, ninguém é uma ilha” .

Juiz Federal da Segunda Vara de Santana do Livramento, Rafael Wolff: Foto: Matias Moura

Em seguida foi a vez de  Antônio Batist, Pró-Reitor da Universidade Federal Fluminense, Diretor da Folha Dirigida, Apresentador do Programa “Servidor Mais”  que falou sobre o tema “Educação à distância na América Latina e no Mundo” .

Antônio Batist, Pró-Reitor da Universidade Federal Fluminense

Mais de 40 anos de jornalismo em 1hora e 30 minutos

Caco Barcellos dirige e coordena jovens jornalistas no “Profissão Repórter”

Mas sem dúvida a palestra mais aguardada da noite foi  a do repórter investigativo Caco Barcellos que falou sobre o tema “Liderança para diferentes gerações”. Caco Barcellos possui 40 anos de experiência na cobertura de assuntos relacionados com a injustiça social e a violência.

Desde os primeiros passos na profissão nunca se afastou da reportagem de rua, sempre em contato direto com as pessoas mais simples da sociedade brasileira. Caco Barcellos dirige e coordena jovens jornalistas no “Profissão Repórter”. O programa jornalístico semanal começou com um quadro no Fantástico em 2006 e, depois de algumas edições especiais, conquistou espaço fixo no horário nobre da Rede Globo, todas as terças.

O programa “Profissão Repórter” registra uma média de 21 pontos de audiência e recebeu o Troféu Imprensa de Melhor Programa Jornalístico em 2008.

“Faço parte de uma geração em extinção o repórter de rua”

Grande público esteve presente durante o ciclo de palestras: Matias Moura

O “repórter” Caco Barcelos, como ele mesmo se intitula por se identificar mais com reportagens de rua e contar histórias de pessoas, começou sua fala destacando a importância de valorizar as pessoas no trabalho jornalístico. – Faço parte de uma geração em extinção, desde que comecei meu trabalho na folha em Porto Alegre eu nunca sai das ruas. As ruas no jornalismo tradicional é o primeiro passo da carreira. Primeiro degrau. Quando você se torna um sujeito bem sucedido você sobe um degrau. E eu continuei sempre neste primeiro degrau. Sou muito feliz nas ruas, porque as ruas sempre me oportunizam conhecer pessoas novas. Se existe alguma ciência no nosso trabalho é a arte de ouvir a história do outro. Somos uma pessoa intermediaria apenas. Toda a pessoa guarda consigo uma história incrível. Basta você ter habilidade e paciência para ouvir – disse .

 Em seguida o jornalista falou sobre os atributos positivos do nosso país como a solidariedade histórica de bom acolhedor dos migrantes que para cá veem em busca de uma nova chance de vida. Da alegria do povo brasileiro que apesar das dificuldades está sempre com sorriso no rosto. Mas também destacou que o Brasil está entre as cinco nações mais violentas do mundo com mais de 60 mil mortes violentas por ano.

 – Esse povo vem pra cá fugindo das guerras e acabam vivendo em harmonia pela nossa receptividade. Nós somos um exemplo para o mundo. Nós temos também os nossos artistas que levam a nossa cultura para todo o mundo, sobretudo os negros que são maravilhosos. Exímios jogadores de futebol que nos enchem de orgulho lá fora. Posso falar isso porque morei vários anos em diversos países. Posso falar em nossas virtudes. Dezenas delas. Mas também posso falar em duas coisas que me enchem de vergonha, olha só como é. Esse povo solidário, religioso, católico e evangélico na sua grande maioria é um dos mais violentos do mundo. Qualquer ranking que você observar nós estamos entre as cinco nações mais violentas do mundo. Mas eu não quero falar em nação,  quero falar de povo,  de gente , quem somos nós ? Por que nós somos um dos povos mais violento do mundo? Porque nós matamos 63 mil pessoas no ano de 2018, e sempre existe uma oscilação em torno desse número todos os anos. Se há 60 mil mortos, certamente existem muito mais assassinos. Então nós somos uma fabrica de eliminadores de vidas.

 Nós estamos sempre entre as nações com os piores índices de distribuição de renda. Por isso acho que essas duas coisas andam juntas, injustiça econômica e violência. E a tese que sigo e ouvindo especialistas do mundo inteiro é que existe uma grande coerência nisso. Nós temos nações extremamente pobres, mas democraticamente pobres que não tem essa violência. Talvez a violência tribal, mas não essa violência da desarmonia social que é a violência do homicídio. Também existem nações ricas, extremamente ricas onde não existe está violência – comentou. 

Nós precisamos é contar as histórias dos extremos se a gente quer mudar alguma coisa: Foto : Matias Moura

Caco Barcellos afirmou também que o Brasil também é um das nações mais injustas economicamente do mundo, com uma imensa desigualdade social o que contribui bastante para os altos índices de violência. Enquanto uma parcela muito pequena da população de aproximadamente 71.400 mil pessoas possui uma renda mensal de aproximadamente 350 mil reais, outra parcela de 107 milhões de pessoas vive com um salário mínimo ou apenas meio salário.

– Esses são os dois extremos. Mas existem muitas divisões no meio. Por exemplo, a classe A brasileira que vive com 25 a 30 mil por mês, uma grande classe média com cerca de 15% da população, classe B com de 17 a 20 mil, já a classe C que é aquela burguesa clássica de 9 mil pra baixo. Nós temos uma grande classe média com cerca de 100 milhões de brasileiros, mas não vou falar desses porque eu acho quando se fala na questão de liderança, na formação de novos profissionais nós precisamos é contar as histórias dos extremos se a gente quer mudar alguma coisa -.

 Neste trecho da palestra o jornalista usou como exemplo a questão da educação das classes comparando os alunos de escolas públicas e particulares, que desde o transporte as diferenças já podem ser percebidas. Desde o aluno que vai para escola com motorista particular ao que utiliza o “pau de arara” pelas estradas empoeiradas do Brasil.

O Jornalista também comentou sobre a discussão em torno da pena de morte defendida por a grande maioria da população em algumas pesquisas, algo em torno de 52% dos brasileiros é a favor, o que é uma contradição sendo que no país se mata 60 mil pessoas por ano

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Programa Profissão Repórter ” Nos bastidores da notícia”

Sobre o Programa Profissão repórter que está no ar há 10 anos e é um projeto de sua autoria, Caco Barcellos disse que a sua grande inspiração é treinar os jovens dentro da sua mesma visão, mostrar o problema da maioria (população mais pobre) para a maioria. – Eu sou o líder desse grupo, um líder que não dá ordem. Não tenho regra. O máximo que eu faço é dar um conselho. Para trabalhar nesse programa você precisa ser autodeterminado, onde você precisa dar ordem sim. Apenas para você. Se um jovem me pergunta o que eu vou fazer hoje? Respondo você tem que saber. Alguns aproveitem e ficam com um pouco de moleza porque afinal não tem ordem. Ok pode ficar,  mas esse nunca vai aparecer no vídeo. Enquanto outro está lá determinado a trazer boas histórias para contar. Nós temos um critério em nossa organização que se baseia na ciência da academia do especialista, estamos sempre lendo e pesquisando bastante. Isso nos dá um contexto para as histórias que nós iremos contar. Trabalhamos com um “tripé” a ciência = a rua, o fronte onde a gente quer saber se o cientista está ligado na realidade brasileira. E depois vem a nossa reflexão a partir dessas duas fontes de captação de informações –.

Caco com alguns jovem jornalistas que fizeram parte da redação do programa.

O Jornalista ainda lembrou-se da sua infância em Porto Alegre, dos pais, que segundo ele eram analfabetos a  sua vivência em bairros pobres , dos desafios do dia-dia nas favelas durante as reportagens, falou também sobre algumas experiências em coberturas internacionais como a guerra em Israel onde durante uma matéria relativa ao conflito com a palestina o veículo onde a sua equipe estava foi atingido por tiros de metralhadora. E encerrou a palestra mostrando alguns vídeos do seu trabalho jornalístico de mais de 40 anos.

 Ao final do evento recebeu uma placa da direção da InnovareAcademy e tirou fotos com o público presente.

 Fotos Marcio Biscarra e Matias Moura

Texto : Matias Moura

 

 

 

 

 

 

 

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