Foi enterrado em Guaíba, no fim da tarde deste sábado (5), o corpo do motorista de aplicativo encontrado morto em Santa Catarina. O estudante de engenharia mecânica Paulo Junior da Costa, de 22 anos, desapareceu na noite de réveillon durante uma corrida.Ao redor do caixão, coberto por uma bandeira do Grêmio e uma foto de Paulo, familiares e amigos se despediram do jovem no Cemitério Municipal da cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. O velório começou às 7h da manhã.
A amiga Analu Toledo lembrou da última vez que falou com ele e dos planos de Paulo. “Ele disse: ‘estou muito feliz na faculdade, vou me formar, quero ser alguém na vida’. Ele tinha esse sonho de ser alguém na vida, de progredir, ajudar a família”, lembra. Com carinho, a mãe recordou características marcantes do filho. “O meu filho é um filho humilde, trabalhador, ele só queria o bem dos outros. O que nos dá mais força é saber o carinho, o amor, que todos têm pelo Paulo”, disse Neiva Amador.
Fez também um desabafo e clamou por Justiça, inconformada por estar enterrando o próprio filho. “Eu não tenho nem como me referir a essas duas pessoas que estão presas, eu acho que são uns vermes. São pessoas que não têm direito de estar aqui. Eles não têm. Eles vão pagar pelo sofrimento da nossa família, e a Justica vai ser feita”, acrescentou a mãe da vítima.
Dois homens foram presos, suspeitos de envolvimento no assassinato do motorista, que foi morto a tiros. Um deles está em Santa Catarina, e o outro já veio para Porto Alegre e será encaminhado à Cadeia Pública.A polícia ainda tenta esclarecer o que motivou o crime e identificar qual dos homens é o autor dos disparos. Ambos serão ouvidos neste fim de semana.
Motoristas protestam
Também nesta tarde, um grupo de motoristas de aplicativo participou de uma carreata de protesto pela morte do colega. Eles saíram de Porto Alegre em direção a Guaíba, para acompanhar o velório e enterro de Paulo.Balões e faixas pretas foram penduradas nos carros. A palavra “luto” estava exposta em vários veículos. Empunhando uma foto do jovem, já em frente à capela onde ele era velado, eles pediram por mais segurança.
“Queremos mais segurança para os motoristas de aplicativo. A sociedade tem que nos apoiar, mais um jovem que morreu”, pede o motorista Rodrigo Pedroso dos Santos. Para complementar a renda, Rodrigo passou a atuar como motorista e diz que sempre trabalha com medo. “Recentemente, no domingo, 7h, assalto a mão armada, me levaram o veículo, mas foi recuperado em seguida. Graças a Deus nós não entramos para essa estatística do luto”, relata.
“Eles têm que se unir porque eles têm que levar o ganha pão para a família. Pedir segurança. Porque é difícil sair para trabalhar e ficar a família em casa sem saber se eles vão voltar”, afirma a mãe do jovem.
“A gente precisa dessa mudança, e o Paulo acreditava que 2019 era um ano de mudança”, completa Neiva.
Relembre o caso
Paulo contatou os familiares pela última vez na véspera de réveillon. Por volta das 19h30, a namorada do estudante recebeu uma mensagem dele, dizendo que havia aceitado uma corrida até Pelotas, na Região Sul do Rio Grande do Sul.”Percebemos que tinha alguma coisa errada porque ele é muito família, principalmente nessas datas. A mensagem que ele enviou não tinha sentido, colocou pontos entre as palavras”, lembra a mãe de Paulo, Neiva Amador. Nesse momento, ele já estava em poder dos criminosos.
Depois, Paulo falou com o pai por telefone, por volta das 22h, dizendo que estaria voltando para casa, mas não retornou.O veículo da vítima foi localizado na tarde de quinta-feira (3), com manchas de sangue e a marca de um disparo. Os suspeitos chegaram a circular com o veículo do jovem após o assassinato. Imagens divulgadas pela Polícia Civil mostram o carro entrando em um condomínio antes dos suspeitos o abandonarem.
Dois homens foram presos por suspeita de envolvimento no caso e apontaram a localização do corpo. O cadáver foi encontrado na sexta-feira (4), no interior de Laguna, Santa Catarina, enterrado em um ponto de difícil acesso.
Um dos homens usava uma correntinha que pertencia a Paulo no momento da prisão. Um dos suspeitos teve prisão temporária decretada, e o outro foi preso em flagrante por homicídio e ocultação do cadáver.
“Eles não declararam a motivação até o momento. Ambos apontam um para o outro essa execução, dizem que não estavam juntos”, explicou a delegada responsável pelo caso Roberta Bertoldo.
Os suspeitos têm longa ficha criminal, com crimes graves como homicídio, tráfico, roubo e ameaça, disse a delegada. Eles vão responder por homicídio e ocultação de cadáver.
Em nota, a empresa Uber lamentou a morte de Paulo. Leia na íntegra abaixo.
“Estamos profundamente entristecidos em saber que Paulo Junior da Costa foi vítima desse crime terrível. Nossa solidariedade e nossos sentimentos estão com a família nesse momento de enorme tristeza e dor. A Uber segue à disposição das autoriades para colaborar com as investigações, fornecendo todos os dados necessários, na forma da lei, e espera que os responsáveis pelo crime sejam punidos.”