Conheça a história de Dona Glória que há 62 anos mantem vivo o espirito natalino em sua residência. Ela é mesmo que faz todos os enfeites utilizando materiais reaproveitados
Parece um sonho de natal. Um mundo mágico cheio de cores e encantos construído pela delicadeza das mãos habilidosas de Dona Gloria Kangberg Bento, 77 anos, que a cada Dezembro revive os sonhos de criança.
No coração de Livramento, próximo a linha divisória, vive ela e o marido Edgar Oscar Bento, com quem é casada há 62 anos, e possui 4 filhas. Dona Glória como é conhecida pelos amigos, traz consigo um jeito tão peculiar de ver está época do ano onde o espirito natalino vem pousar na sua casa. Para muitos o natal é apenas mais uma data a ser comemorada, mas para ela o significado é bem mais profundo. Filha e neta de descendentes Europeus que vieram para o Brasil fugidos da fome e da guerra, ela recorda muito bem de uma infância de fartura mas sem cores. – “Para mim o natal sempre foi um fascínio porque sou filha de estrangeiros diretos, todos eles vindos da Europa. Vieram para fugir da guerra e da fome. Meus pais sempre me contavam isso. Tive uma infância onde a nossa mesa erra farta, mas a casa não tinha luxo. Lembro que era pequena ainda quando comecei a me interessar pelo Natal, achava muito lindo, apesar da nossa família não comemorar. O Estrangeiro, ainda mais daquela época não dava muita importância para isso. Ai um dia pensei – quando tiver a minha casa vai ser diferente” relembra.
Os tempos eram difíceis e não sobrava muito para se comemorar pois as cicatrizes trazidas além mar pareciam endurecer os corações de quem apreendeu desde cedo a tirar o sustento do seu suor. Mesmo assim aquela pequena criança não deixou seus sonhos morreram e hoje aos 77 anos eles continuam vivos pulsando dentro do peito.
Dona Glória conta que ela e o marido Edgar vieram morar em Santana do Livramento no de 1973 e aqui se estabeleçam e criaram raízes profundas. E foi aqui, que os sonhos de criança ganharam vida. – “Quando nós casamos, começamos essa tradição de enfeitar a casa e já se vão 62 anos, descobri que com o pouco a gente pode fazer um muita coisa. Basta ter vontade. Hoje vou guardando os papeis de bolachinhas que são prateados, papeis de presente que estão em um bom estado. Só neste ano enrolei mais de 400 caixinhas e distribui para meus amigos. Aproveito tudo. Até um Papai Noel que tenho aqui achei ele no lixo todo quebrado ai limpei ele e fiz uma roupinha e agora parece novo – “.
Dona Glória além de enfeitar a sua própria casa para o Natal também faz doações dos seus trabalhos manuais para algumas instituições do nosso município.
Praticamente toda a decoração natalina de sua casa foi feita e criada por ela mesmo, que aproveita para passar o tempo fazendo aquilo que mais lhe agrada, costurar. A casa de Dona Glória e seu Edgar nos remete a beleza natalina encontrada por exemplo na cidade de Gramado com suas luzes e enfeites, cada canto ou peça da residência e minuciosamente decorado, desde tapetes, almofadas, guardanapos, toalhas de mesa, potes de biscoitos, imãs de geladeira e tanto detalhe que os olhos as vezes se perdem.
Ela comenta que todo o tipo de material é reaproveitado no seu artesanato, desde caixas de remédio, tampas de desodorante, papeis de presentes, carreteis de linhas usados, bonecas velhas, tecidos e todo o tipo de matérias com botões e linhas. Através do olhar criativo da artesã as peças vão ganhando vida para enfeitar os cômodos da casa que mais perece um sonho – “Para mim é um ritual. Chega 5 finais de semana antes do Natal e já começo a decoração da nossa casa –“
Além de um boneco de neve que dá boas-vindas aos visitantes bem na entrada da porta principal da casa, o grande diferencial na decoração natalina de Dona Glória é um Presépio de porcelana que possui mais de 60 anos de idade onde sempre na noite de natal a família reunida coloca o menino Jesus na manjedoura. Dona Glória prestes a comemorar 78 anos neste dia 23 de Dezembro diz ainda que enquanto tiver força e saúde vai continuar mantendo esse costume que já foi passado para as filhas, netos e bisnetos.
Matias Moura – [email protected]